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No Piauí, escritora baiana fala sobre literatura nordestina e LGBT+

Com romances e poesias, Elayne Baeta busca dar voz a quem busca representatividade na literatura.

20/06/2024 às 12h05

Nordestina, lésbica, escritora e gaiata. E foi com essa gaiatice que Elayne Baeta veio ao Piauí no último final de semana para participar do Salão do Livro (Salipi). Baiana nascida em Salvador, a escritora de 26 anos é dona de um dos maiores sucessos de venda na literatura LGBT+ no Brasil e coleciona seguidores por onde passa. Com dois livros publicados (O Amor Não É Óbvio e Oxe, Baby), Elayne busca dar voz e espaço a uma parcela social que está em busca de representatividade na literatura.

Seu primeiro livro, O Amor Não É Óbvio, é o primeiro best-seller lésbico juvenil a integrar a lista dos mais vendidos do Brasil, com mais de 100 mil cópias comercializadas. O livro conta a história de Íris Pêssego, uma adolescente de 17 anos passando pelo processo de descoberta e entendimento da própria sexualidade e lidando com as questões típicas desta fase da vida.

Elayne Baeta: longe de todos os clichês e na base da gaiatice - (Jonathan Dourado) Jonathan Dourado
Elayne Baeta: longe de todos os clichês e na base da gaiatice

O romance juvenil traz o protagonismo lésbico para a linha de frente das histórias de amor na literatura brasileira. Histórias de amor que, para alguns, podem ser clichê, mas que para o público LGBT+ ainda está longe disso.

“Nada é clichê quando a gente fala de amor entre mulheres, porque a gente não teve nada. A gente não teve acesso a nada, então ainda estamos engatinhando, dando passinhos. Clichê vem de uma coisa repetitiva. Amor lésbico não está manjado. Eu espero é que se torne manjado, quero que fique clichê mesmo. No que depender de mim, vai ficar”, dispara Elayne Baeta em entrevista exclusiva a O Dia durante sua passagem pelo Piauí.

A escritora baiana participou da mesa “Primeiro, nordestino. Depois, escritor. Sempre LGBT+” no Salão do Livro do Piauí. Ao lado do também escritor Pedro Rhuas (Enquanto Não Te Encontro e O Mar Me Levou a Você), Elayne criticou a falta de espaço para publicações autorais fora do eixo sudestino brasileiro e destacou que é na base da “gaiatice” que vem lutando pelo seu espaço como voz neste meio.

“A literatura sempre foi feita muita no eixo sudestino. As oportunidades estão muito no eixo sudestino. Hoje eu moro no Rio de Janeiro, porque fui lá pegar as coisas que não me dão e vou continuar pegando as coisas que não me dão. Então ou me entregam espontaneamente ou eu vou tomar. E nesse processo a carreira vai crescendo. É na base da gaiatice mesmo. Nordestino é gaiato e que bom que somos assim. Se a gente não for na gaiatice, fica sem nada”, afirma a escritora.

No Salipi, Elayne Baeta participou de mesa sobre literatura nordestina e LGBT ao lado do escritor Pedro - (Jonathan Dourado) Jonathan Dourado
No Salipi, Elayne Baeta participou de mesa sobre literatura nordestina e LGBT ao lado do escritor Pedro

Antes de ser convidada a publicar por uma editora de alcance nacional, Elayne costumava postar suas histórias em plataformas de leitura online. E até chegar a um espaço em que de fato ela pudesse escrever o que pretendia, encontrou algumas dificuldades. A falta de oportunidades foi só uma delas.

“Diziam sempre ‘ah, não vai dar em nada. Já é difícil uma mulher publicar, imagine uma mulher lésbica, nordestina e que nunca tinha publicado antes’. O espaço, se a gente for parar para pensar, ele não é concedido pra gente com facilidade. Eu sei que existe várias cadeiras, mas elas já são tabeladas. A cadeira, para que uma mulher lésbica se sente sob os holofotes, ainda é muito escondida. Espero que com o meu trabalho eu possa puxar essa cadeira e ela fique lá independentemente de mim”, finaliza Elayne.

As delícias e as desgraças do processo de auto descoberta

Em O Amor Não É Óbvio, Elayne Baeta traz um romance juvenil entre duas mulheres. Íris Pêssego embarca em uma missão para entender o que levou a namorada do menino mais popular da escola a simplesmente largá-lo e se relacionar com uma menina. Não uma menina qualquer. Édra Norr chega com seu “corte de cabelo moderno, os olhos castanho-escuros, a postura levemente torta” e instiga Íris a desvendá-la. Nesse processo, surge o questionamento da própria sexualidade.

Por outro lado, em Oxe Baby, Elayne Baeta apresenta poesias autorais sobre o universo do amor entre mulheres, desnuda o processo de auto entendimento e apresenta o que chama de “crueza da coisa”. Em conversa com O Dia, a escritora explica que colocou muito de si nos personagens de seu romance, mas que na poesia é que se desnuda por completo ao leitor.

“Eu acho que tem um pouco de mim em O Amor Não É Óbvio e o resto eu preenchi com o que eu gostaria que tivesse sido minha experiência. Apesar de ter muito de mim na descoberta da Íris, eu sinto que ela lidou melhor e o entorno todo da história eu tentei fazer com que fosse mais leve e bonito. Em Oxe, Baby eu passo para a parte mas dolorida de se descobrir, porque eu acho que tem um pouco dos dois: as delícias e as desgraças, como tudo. Só a gente sabe as dores e os amores de se ser”, afirma Elayne.

"Só a gente sabe as dores e os amores de se ser", diz Elayne Baeta - (Maria Clara Estrêla/O Dia) Maria Clara Estrêla/O Dia
"Só a gente sabe as dores e os amores de se ser", diz Elayne Baeta

A escritora teceu uma crítica à forma como as histórias de amor entre mulheres em geral são retratadas na literatura, na TV e no cinema. Elayne diz que o público não pode se acostumar a ver sempre casais com finais tristes e trágicos, e afirma acreditar sim no “felizes para sempre”. Para ela, esta é uma forma de mostrar para o público LGBT+ que suas histórias são bonitas e merecem ser contadas.

“Sempre tem alguma tragédia para resumir as nossas histórias. Eu acho que nossas histórias não têm que ser feitas só de tragédia. Tem os lados ruins, a gente vive em um mundo extremamente homofóbico e lesbofóbico e passar por isso, lidar com isso dói e machuca. Mas é bonito mesmo assim. Tem seu lado faísca, tem seu lado fogueira. É bonito, é caloroso, brilha e eu tentei passar isso para os personagens, porque eu acho que as pessoas merecem saber que as histórias delas podem ser bonitas também”, finaliza a escritora.

Com dois livros lançados, Elayne Baeta está trabalhando em sua terceira obra para publicação, Coisas Óbvias Sobre o Amor, uma continuação de O Amor Não É Óbvio.


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