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Violência em escola de Teresina abre debate sobre como a sociedade lida com o adoecimento mental

Psicóloga cobra ações mais eficazes de orientação para as pessoas sobre transtornos como ansiedade e depressão.

05/12/2024 às 15h16

O episódio de violência ocorrido na manhã desta quarta-feira (04) no Colégio CPI, em Teresina, reacendeu o debate acerca da segurança nas escolas ao mesmo tempo em que causou comoção entre os teresinenses. Mas as repercussões do caso vão além da violência e do trabalho da polícia. A jovem que atirou no colega estudante teria lhe feito ameaças anteriormente e, segundo a polícia, chegou a afirmar que ele merecia morrer ao confessar o crime. Ela e o rapaz teriam um relacionamento ao qual ele queria pôr um fim.

Aluna atirou em colega dentro de escola particular em Teresina - (Reprodução) Reprodução
Aluna atirou em colega dentro de escola particular em Teresina

Para as autoridades, há indícios de uma ação premeditada, já que com a jovem foi encontrada uma arma branca além da arma de fogo usada para atirar no estudante. Para os especialistas em comportamento humano, o tema envolve questões mais profundas que vão desde a saúde mental até o desenvolvimento das relações interpessoais.

O Brasil é o país mais ansioso do mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com transtornos de ansiedade, o que representa cerca de 9,3% da população. A ansiedade não vem sozinha e está relacionada a outros transtornos como a depressão e o Burnout, por exemplo. E o ambiente em que se vive pode colaborar para que estes transtornos melhorem ou piorem dentro de seu espectro.

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) - (Freepik) Freepik
O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)

A estudante L.M.G.L, de 17 anos, que atirou em seu ex-namorado dentro da escola, tem diagnóstico de ansiedade, segundo a própria família da garota. Mas o diagnóstico por si só não é suficiente para justificar qualquer tipo de comportamento. É preciso estar atento também aos sinais ou ao que os especialistas chamam de “movimentos de adoecimento” que indicam algum tipo de descontrole dentro do que se espera ser “normal” no espectro do transtorno.

A reportagem de O Dia conversou com a psicóloga Samila Marques Leão e ela é taxativa ao afirmar que não basta escolas e empresas promoverem palestras sobre saúde mental se não derem continuidade às ações preventivas. É comum que as pessoas priorizem sua saúde física em detrimento da saúde mental e isso é um dos principais fatores de agravamento dos quadros de adoecimento, segundo a especialista.

Outro fator que colabora para esse agravamento é o uso que se faz das tecnologias. Elas, por si só, não trazem malefícios contundentes, mas se usadas de forma equivocada podem se transformar em verdadeiras ameaças. “Os jovens hoje estão expostos às tecnologias e por elas você acessa vários conteúdos. Alguns são causadores de adoecimento e influenciam estes jovens que estão em processo de formação de personalidade”, explica Samila Marques.

Samila Marques Leão é psicóloga - (Sérgio Neto/O Dia) Sérgio Neto/O Dia
Samila Marques Leão é psicóloga

Além das tecnologias ela cita também questões complexas como problemas familiares, de aprendizagem e o isolamento, este último associado transtornos mentais como a depressão. Saúde mental, diz a psicóloga, é um projeto que precisa ser pensado, um projeto de acolhimento e de cuidado. “Em situações de crise muito intensa em que de forma abrupta tem um problema muito sério no contexto escolar, por exemplo, nós estamos treinados para os primeiros socorros psicológicos? Para ter acolhimento? Acredito que precisamos aperfeiçoar nosso treinamento”, pontua Samila.

O diálogo é a chave em um modelo de saúde cada vez centrado no tratamento clínico e hospitalar. Uma pessoa tem uma crise, procura uma unidade de saúde, toma um medicamento e volta para casa. O tratamento de transtornos mentais, no entanto, envolve bem mais que doses receitadas em um prontuário médico. É preciso falar em prevenção e promoção da saúde da mente.

Samila Marques comenta que já há alguns pequenos avanços como, por exemplo, a presença de psicólogos e assistentes sociais em ambientes acadêmicos e corporativos. No entanto, ela cobra das famílias um treinamento sobre como identificar momentos de crise mental entre seus membros. É preciso estar alerta aos fatores comportamentais dos filhos. É preciso que os educadores observem quando um aluno está desenvolvimento um movimento de adoecimento mental.

“A gente só consegue enxergar quando a gente é treinado para observar estes sinais de adoecimento mental. Se um amigo meu desenvolveu um ataque de ansiedade, eu vou poder fazer algumas coisas para chamar um apoio especializado. Tem que discutir como trabalhar a crise e, depois dela, trabalhar as sequelas”.

Samila Marques LeãoPsicóloga

Trabalhar as sequelas. É isso o que será feito a partir de agora no caso da estudante L.M.G.L, que atirou no colega de escola J.L.C dentro do colégio em Teresina. A cicatriz foi aberta e agora é o momento, diz a psicóloga, de tentar estanca-la de forma saudável. “As pessoas precisam de orientação, precisam prestar solidariedade a todos os envolvidos. A polícia vai fazer a parte dela, mas a sociedade precisa fazer a sua. Precisa de tratamento”, finaliza Samila.

A estudante L.M.G.L foi autuada por ato infracional análogo a tentativa de homicídio e foi transferida para o Complexo de Defesa da Cidadania, em Teresina. O estudante J.L.C encontra-se em estado grave no HUT.


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Com informações de Edna Maciel, da O Dia TV