Um dos principais auxiliares de Jair Bolsonaro (PSL), o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), começou a desagradar a aliados do núcleo do novo governo. Integrantes do DEM e do PSL reclamam da falta de interlocução com Onyx e avaliam que seu perfil pouco conciliador pode prejudicar ainda mais a articulação política com o Congresso.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, Bolsonaro tenta desobstruir seu canal com os parlamentares
e escalou o novo chefe da Casa Civil para conversar com o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ). O capitão reformado havia desmarcado encontro com Maia e
com o chefe do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), sinalizando aos caciques
políticos que a relação com o Legislativo não era prioridade da
transição.
Aliados do presidente eleito, porém, dizem que o desconforto mudou de patamar e
alcançou deputados e senadores do PSL e do próprio partido de Onyx, o
DEM.
O principal argumento é que o novo chefe da Casa Civil não atende ligações e
não tem trabalhado para melhorar seu trânsito no Congresso. Segundo
parlamentares, é mais fácil falar com Bolsonaro do que marcar alguma audiência
ou resolver demandas com Onyx.
A relação do deputado gaúcho com líderes da Câmara nunca foi boa, mas piorou
bastante depois que ele foi relator do pacote anticorrupção e não cumpriu
acordos com diversos colegas.
De olho na opinião pública, à época Onyx se comportava como uma espécie de
porta-voz do Ministério Público Federal, que elaborou inicialmente as medidas,
e irritou líderes partidários ao trabalhar contra uma proposta de anistia ao
caixa dois, articulada com apoio, inclusive, de Rodrigo Maia.
O braço-direito político de Bolsonaro já confessou ter recebido R$ 100 mil da
JBS via caixa dois em 2014 e a Folha revelou nesta quarta-feira (14) que uma
planilha entregue por delatores da empresa à PGR (Procuradoria-Geral da
República) sugere uma segunda doação eleitoral não declarada para ele no mesmo
valor em 2012 -e não admitida pelo deputado até agora.
O capital político de Onyx é ainda mais estreito no Senado. Eunício, por
exemplo, afirmou a aliados de Bolsonaro que conversa com "qualquer
pessoa", menos com o futuro ministro da Casa Civil e com o senador Magno
Malta (PR-ES), que também pode assumir um cargo na Esplanada.
Aliados do presidente eleito não concordam com a estratégia de isolar
Eunício -que ainda não se encontrou com Bolsonaro para uma conversa
reservada- visto que ele ainda é o chefe do Congresso, responsável por pautar
votações importantes, como a do Orçamento.
Há quem diga que Bolsonaro não quer se atrelar à "velha política" -e
por isso tem evitado Eunício e seu partido, o MDB– mas parlamentares mais
experientes dizem que é preciso ter cautela, visto que a presidência do Senado
deve seguir nas mãos dos emedebistas, com Renan Calheiros (AL), a partir de
2019.
Fonte: Folhapress