A Prefeitura de Teresina gastou R$ 4,4 milhões nos últimos 18 meses com serviços de serralheria e reparos metalúrgicos em camas hospitalares, cadeiras de rodas e itens para a Rede Hospitalar Municipal da FMS. O valor seria suficiente para comprar camas novas para todos os leitos de saúde da capital. Os dados mostram que o contrato, firmado após licitação com a Ferri Costa Ltda ME e aditivado durante a gestão do ex-presidente da FMS Gilberto Albuquerque, previa um pagamento inicial de R$ 1,2 milhão, porém o valor final superou o contrato em R$ 3,2 milhões, extrapolando em 366% o valor total anual estimado no aditivo.
Sede da empresa na zona sul de Teresina FOTO: Assis Fernandes/ O DIA
A fundo de comparação, em uma pesquisa de mercado realizada na tarde da última segunda (12), uma cama hospitalar poderia ser comprada, no varejo, por R$ 1.645,00. Com o valor do contrato pago pela gestão de Dr. Pessoa seria possível comprar 2.674 camas. Hoje o sistema de saúde da capital possui cerca de 900 leitos hospitalares de acordo com a FMS. O valor gasto pela gestão para consertar as camas e outros itens seria suficiente para trocar praticamente todo o mobiliário de aço e ferro da rede de saúde.
Dados do Diário Oficial do Município mostram que a Ferri Costa LTDA ME tem sede na rua Jaboatão, nº 2094, Anita Ferraz, bairro Tabajaras, zona leste de Teresina, porém, funciona na verdade no conjunto Redenção, quadra B, casa 10, numa casa situada coincidentemente em frente ao portão do setor de manutenção do Hospital de Urgência de Teresina, do qual Gilberto Albuquerque foi diretor. O Jornal O Dia esteve nas duas sedes, porém não localizou nenhum funcionário da empresa nas duas unidades. No bairro Tabajaras a casa é moradia de uma senhora idosa que preferiu não se identificar.
FOTOS: Assis Fernandes
A empresa venceu ainda em 2020 a licitação para oferecimento dos serviços. O valor foi aditivado em 12 de maio de 2021, recebendo um acréscimo de 25% no montante, passando para o valor total anual estimado de R$ 1.295.605,50. Sete dias depois, no dia 19 de maio de 2021, o contrato sofreu novo aditivo, estendendo o vínculo até julho de 2022. Após esse aditivo nenhuma outra informação da empresa consta no diário oficial.
Uma pesquisa feita pelo jornal O Dia no Portal da Transparência do município mostrou que desde o aditivo contratual de maio do ano passado, R$ 4.411.160,61 foram pagos pela FMS a Ferri Costa LTDA ME. Apesar de não constar qualquer publicação de extrato de novo aditivo ao contrato, já que o anterior se encerraria em julho deste ano, o valor pago à empresa disparou a partir de abril de 2022. De lá para cá R$ 3.106.685,03 foram pagos, com destaque para outubro, mês da eleição, quando R$ 941.103,57 foram gastos em reparos e manutenção de camas hospitalares. O triplo da média mensal.
Dados do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) mostram que duas mulheres, Juliana Costa Leitão e Elisa Costa Leitão, são as proprietárias da empresa que funciona desde 2011 e possui situação regularizada junto a Receita Federal. Porém quem atende e responde por todos os contratos é Tierre Pinto de Morais. O homem foi procurado, porém não quis se pronunciar e afirmou que o contrato foi firmado através de licitação e solicitou que a FMS fosse consultada. Já a FMS não respondeu aos questionamentos.
FOTO: Arquivo O DIA
Vereadores veem com preocupação
Após a interdição de mais uma unidade de saúde de Teresina, desta vez a maternidade do Dirceu, o vereador Luiz Lobão (MDB), ex-presidente da FMS, avaliou com preocupação a crise na saúde. Este é o segundo hospital interditado em Teresina.
Para o vereador, falta diálogo da gestão com as categorias. “Uma crise que chega a exonerar o presidente é porque a coisa não está boa de maneira alguma. Vejo com tristeza esse quadro da saúde da capital, isso prejudica a saúde das pessoas. Vemos com muita preocupação o fechamento da maternidade do Dirceu, falta diálogo e gestão da Prefeitura”, afirmou.
Gilberto Albuquerque afirmou que o problema era dinheiro
Há exatamente uma semana, em uma audiência pública na Câmara Municipal de Teresina, para apurar a falta de insumos na rede assistência da capital, o então presidente da FMS, Gilberto Albuquerque, chegou a afirmar que o problema da rede de saúde de Teresina era a falta de verba.
“Temos a segurança de tomar decisões técnicas, mas tem situações que não dependem da gente, no financiamento da saúde não podemos fazer milagres, dentro do possível e do impossível estamos dando toda a assistência. Mas temos um impasse grande, não se consegue abastecer uma rede grande de saúde sem financiamento”, disse à época.
Um dia depois Gilberto deixou o comando da FMS. Nesta segunda a enfermeira Clara Leal foi oficializada na presidência da Fundação.
FOTO: Assis Fernandes/ O DIA