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Prefeitura tenta estabelecer caminho sem ter planejamento e trava gestão

O Dia ouviu especialistas para analisar os 180 dias [ de Dr. Pessoa na Prefeitura de Teresina

30/06/2021 08:54

Os primeiros seis meses da gestão de Dr. Pessoa (MDB) na Prefeitura de Teresina têm sido marcados por falhas no planejamento da gestão, que tem travado ações e deixado a cidade enfrentar problemas graves como a falta de transporte público coletivo, paralisação de obras importantes e desmonte dos serviços na área social do município. No âmbito administrativo, as falhas do planejamento ficam evidenciadas com duas reformas administrativas em poucos meses, danças de cadeiras, importantes pastas sem comando e excesso de influência do vice-prefeito Robert Rios (PSB). 


Transporte público e assistência social passam por desmonte - Foto: Assis Fernandes/O Dia

Em apenas 120 dias, a Prefeitura passou por duas reformas administrativas que criou, incorporou e extinguiu pastas importantes, sem respaldo técnico e seguindo apenas critérios políticos. Comunicação, Guarda Civil, Ouvidorias e Assistência Social foram áreas afetadas com as mudanças. As antigas Superintendências de Desenvolvimento Urbano passaram por mudança de nomenclatura e as SDU’s, se tornaram as Superintendências de Ações Administrativas Descentralizadas, as SAAD’s. A cientista política Beatriz Ribas, da UFPI, ressalta que as reformas foram apenas “tentativas de ajustes de interesses político-partidários. Prova disso é que não houve uma alteração significativa quando observamos os números de servidores mantidos pela Prefeitura”. 


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Para o também cientista político Germano Lúcio, do Instituto Federal do Piauí, há uma clara falta de base política e de planejamento. Para ele, para se fazer uma mudança na estrutura organizacional tanto administrativa quanto política, é preciso trabalhar em duas frentes: na parte política de base aliada e na perspectiva técnica. 

“Não se muda uma estrutura administrativa de quase 30 anos de forma automática. Porque o PSDB tinha uma gestão que conseguiu imprimir um ritmo muito particular de gestão e esse ritmo ficou associado à estrutura administrativa da Prefeitura. Tem que ter uma perspectiva técnica que pudesse dar ao processo de transição condições de continuidade administrativa, mesmo que rompendo com a estrutura do PSDB e a atual gestão não conseguiu fazer isso. O que vemos nesses primeiros meses é uma administração tateando, tentando estabelecer um caminho sem ter feito o planejamento desse caminho”, pontua Germano. 


Palácio da Cidade - Foto: O Dia

Ele acrescenta que essa desorganização administrativa vem também da desorganização política. O cientista político critica a concentração de poder político nas mãos do vice-prefeito, Robert Rios (PSB), e a dificuldade que o prefeito Dr. Pessoa tem de despolarizá-lo e agregar outros aliados, sobretudo do próprio partido, o MDB, que são seus aliados de primeira hora. 

“Você tem um vazio que afeta tanto politicamente quando administrativamente o Dr. Pessoa. E a falta de habilidade do próprio prefeito em fazer esse meio campo político, coisa que as gestões anteriores não tinham. Se observarmos parte da composição do secretariado das gestões anteriores com essa, a atual gestão é muito mais política que técnica e mesmo assim não consegue resolver o problema de fazer politicamente a administração andar, porque falta esse meio campo mais elaborado”, finaliza Germano.

Influência do vice-prefeito é inédita e prejudica credibilidade da equipe

A influência do vice-prefeito de Teresina, Robert Rios (PSB), na gestão do executivo municipal é uma das principais marcas destes seis meses de Pessoa na prefeitura. Enquanto os últimos vices na Capital, Ronney Lustosa e Luís Júnior não tinham espaço, Robert Rios assumiu o protagonismo na Prefeitura após ficar no comando da Secretaria de Finanças e controlar a área financeira do município. Ele também tomou a frente ao anunciar dois pontos importantes, à frente de Dr. Pessoa: ele anunciou a interrupção dos contratos com ONGs que atuavam na cultura e na última semana, após Dr. Pessoa falar que a folha de pagamento estava comprometida, foi Robert quem anunciou a antecipação do pagamento. 


Influência do vice-prefeito Robert Rios é inédita e prejudica credibilidade da equipe - Foto: O Dia

Robert Rios também articulou a queda de secretários importantes na gestão de Dr. Pessoa (MDB), como João Henrique Sousa, do Planejamento, e Adolfo Nunes, do Governo, tendo sucesso na segunda. 

“Há um poder político concentrado da mão do vice-prefeito e ele não consegue fazer com que essa força política agregue outros aliados, principalmente, o próprio partido do prefeito, o MDB. Você tem aí um vazio, que interfere tanto administrativamente quanto politicamente”, comenta o cientista político Germano Lúcio. 

Vereadores da base ouvidos pelo O Dia reclamam da interferência de Robert Rios também na articulação política do Palácio da Cidade com a base governista no Poder Legislativo. “Confiar na palavra de Dr. Pessoa ficou difícil”, disse ao O DIA um parlamentar de um partido da base do gestor, que pediu para não ser identificado. “Em diversas situações o prefeito já voltou atrás de acertos que tinha com vereadores por conta do Robert”, lembrou o vereador. 

Em seis meses, Robert Rios concentrou poder como nenhum outro vice-prefeito na história da Capital. Na análise de Germano Lúcio, essa medida ainda não apresentou resultados positivos. “É uma concentração personalista. Se fosse com objetivos administrativos, tudo bem, era uma escolha governamental que faz parte do processo, mas o que se percebe é que isso não se reflete na administração”, finaliza

Dança das cadeiras e pastas sem comando

Além das duas reformas administrativas aprovadas em menos de quatro meses, o prefeito Dr. Pessoa (MDB) promoveu uma série de mudanças nos titulares dos órgãos que compõem a administração pública de Teresina. Pastas importantes como a Secretaria de Governo, pasta estratégica e de articulação política interna e externa responsável por manter o diálogo entre os Poderes e os demais agentes da administração pública, está sendo comandada interinamente pelo genro do prefeito, André Lopes, após a saída de Adolfo Nunes. 

Já a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (Semcaspi), saiu das mãos de Eliana Lago e tem como gestor o advogado Marcio Allan. Ele assumiu o cargo após deixar a Agência Reguladora de Serviços Públicos. A Secretaria de Juventude, agora Coordenadoria, também já teve como chefe João Duarte, que acumulava a função com a direção da Empresa Teresinense de Desenvolvimento Urbano. 

Além da Secretaria de Governo, a Secretaria de Agricultura e Pecuária também não possui secretário definitivo. O prefeito, inclusive, chegou a convidar o jornalista Elivado Barbosa, ao vivo, para ocupar a pasta. Ele rejeitou também, ao vivo. 


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Para a cientista política Beatriz Ribas, “as constantes e rápidas mudanças presenciadas certamente não contribuem para uma avaliação positiva da gestão do prefeito e das políticas empreendidas por parte de seus secretários. Embora seja comum haver negociações ou acordos políticos em relação aos cargos, até mesmo para facilitar a governabilidade de um gestor, o problema maior está em sobrepor os interesses político-partidários aos interesses da população. Infelizmente é comum encontrarmos casos de nomeação com caráter puramente político, de pessoas sem experiência técnica ou sem o mínimo de afinidade ao longo de sua vida com o cargo que assume. Basta observamos o currículo de parte dos nomeados pela prefeitura”, conclui

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