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Um ano após CPI, sistema de transporte de Teresina pode entrar em colapso em outubro

O Setut calcula que, hoje, o déficit no sistema econômico-financeiro é de R$ 109 milhões

25/08/2022 08:01

A data era 25 de Agosto de 2021. Com semblantes sérios, um grupo de seis vereadores entregava ao prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, o relatório final da CPI do Transporte Público. O documento recomendou ao prefeito a rescisão imediata do contrato entre a Prefeitura e o Setut, além da abertura de um novo processo de licitação. 365 dias depois usuários e profissionais do transporte coletivo criticam a falta de melhorias e apontam um colapso eminente nos próximos meses.

Um ano após a conclusão da CPI, histórias difíceis, como a da auxiliar de serviços gerais, Ana Maria de Moraes, moradora do Residencial Madre Teresa, zona leste da capital, se misturam ao corre-corre e as buzinas da Praça da Bandeira, onde diariamente a mulher passa para ir e voltar do trabalho.

Foto: Assis Fernandes/ O DIA

Uma realidade que piorou no último ano, segundo Ana Maria. “Em 31 anos de serviço, pegando ônibus todos os dias, nunca vi uma situação dessas. Até os ônibus que passavam lá no Madre Teresina eles tiraram. Tenho que vir pegar na praça da Piçarreira. Eu caminho 15 minutos no mínimo para chegar em um lugar que passe um ônibus, porque não passa nem ônibus e nem van no meu bairro, e passo mais de 70 minutos para pegar um transporte para vir trabalhar”, lamentou a teresinense.

Foto: Assis Fernandes/ O DIA

Para o vereador Edson Melo (PSDB), as dificuldades refletem uma profunda mudança no sistema desde a CPI. “O sistema piorou e se tornou irrecuperável, abandonaram o projeto de integração e não colocaram os ônibus na rua. O passageiro procurou outros meios de transporte, que não o transporte público por ônibus. Ele comprou a sua moto, anda nos ligeirinhos, ou até a pé. É difícil a recuperação do sistema, quase impossível, as empresas perderam seu potencial de investimento e os passageiros não confiam mais no sistema”, criticou o parlamentar.

Colapso Total

O quadro complicado enfrentado por passageiros é semelhante ao contexto encarado dia após dia por motoristas e cobradores do sistema. Uma realidade que complicou, de acordo com o presidente do Sintetro (Sindicato dos Trabalhadores de Empresas de Transportes Rodoviários), Antônio Cardoso.

Fotos: Assis Fernandes/O Dia


Para o dirigente sindical um colapso total do sistema é eminente, Antônio denuncia uma degradação ainda maior nas condições de trabalho dos profissionais. “Quando chegar setembro e outubro o sistema de transporte vai entrar em colapso total. Essa precariedade que estamos tendo agora vai piorar. Desde aquele tempo que assumimos a convenção, participamos da CPI, mas nada foi resolvido. Tem uma empresa que tem trabalhadores há cinco anos sem carteira assinada, denunciamos e nenhuma mudança ocorreu”, lamentou Antônio Cardoso.

Foto: Assis Fernandes/ O DIA

Culpa do Dr. Pessoa

Figura central em uma possível resolução do impasse, o prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, é apontado por Ana Maria de Moraes como o principal culpado pelo sucateamento no sistema de transporte. “Esse prefeito não está preocupado com a população. Pode ser que se saíssem essas empresas a situação melhorasse, colocassem ônibus novos, a população precisa é de ônibus novo. A pessoa deixa de ir para o lazer porque não tem ônibus. Se dia de semana não passa, imagine no domingo”, finalizou a auxiliar de serviços gerais.

Déficit Milionário

O coordenador técnico do Setut, Vinícius Rufino, afirma que no último ano a situação do setor ficou ainda mais difícil. “A quantidade de passageiros transportados, que teve uma queda drástica durante a pandemia, evolui muito lentamente. Não chegamos em um índice de passageiros superior à oferta de veículos aplicada atualmente. Proporcionalmente falando, estamos ainda com um custo maior do que a receita verificada”, diz ele, ao argumentar que neste cenário, há a necessidade de um aporte de recursos por parte do poder público municipal.

O Setut calcula que hoje, o déficit no sistema econômico-financeiro é de R$ 109 milhões. Rufino diz que os repasses feitos atualmente são referentes a acordos e contratos da gestão anterior e afirma que a CPI não trouxe nenhum novidade para o sistema. “Não apontou irregularidades por parte das operadoras e muito menos sugestões para melhorias efetivas no sistema que trouxessem algum benefício direto para os passageiros. Lamentavelmente, tratou-se de medida de ordem meramente política, que não agregou nada à situação do sistema, que já era ruim para todas as partes”, diz ele.

O vereador Dudu, que presidiu a comissão no parlamento, ressaltou que em sua avaliação, a CPI serviu para indicar procedimentos a serem feitos. “A CPI indicou todos os procedimentos que deveriam ser feitos, como o rompimento do contrato. E tem procedimento aberto no TCE, no Ministério Público e no Ministério Público Federal. A Prefeitura está com uma nova licitação para o transporte alternativo, inclusive, rural, e isso é um avanço. A CPI fez sua parte, deu um grande passe para melhorar o transporte. Estamos esperando que os outros envolvidos façam sua parte”, disse Dudu.

Foto: Assis Fernandes / O DIA

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