O sistema de transporte público de Teresina sempre foi tema de pautas, tanto do poder público como da população, sendo essa a mais afetada diretamente. Seja pela falta de ônibus, pela demora ou sucateamento da frota, os usuários precisavam lidar com a precariedade de um serviço tão essencial. A pandemia da covid-19, ocorrida em 2020, complicou ainda mais a vida das pessoas que utilizam o transporte coletivo. Passado esse período, o transporte público nunca normalizou e os usuários continuam sofrendo com a falta de ônibus.
Dados do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut), de 2019, apontam uma média mensal de 4,5 milhões de usuários utilizando o transporte público mensalmente. Em 2024, esse número caiu e, atualmente, é de aproximadamente 2,5 milhões de passageiros por mês. A frota de veículos também teve uma queda, saindo de 364, em 2019, para 247, em 2024. Em 2021, a quantidade de ônibus circulando chegou a apenas 135 veículos.
Quase cinco anos após o início da pandemia, os usuários do transporte público são os que mais sofrem com a falta de ônibus. Trabalhadores e estudantes precisaram apertar o orçamento para colocar outra alternativa de transporte à sua rotina, os carros por aplicativo. Outros, aventuram-se nas paradas de ônibus na expectativa de conseguir utilizar o transporte público.
Como a estudante de Nutrição, Ana Paula Oliveira (23), que mora em Timon, no Maranhão, mas estuda em uma faculdade na zona Sul de Teresina. Ela conta que precisa sair cedo de casa para conseguir pegar um ônibus até a Praça da Bandeira. De lá, ela segue para a Praça Saraiva, quando entra no transporte coletivo em direção à faculdade. Ela faz o mesmo percurso à noite, quando volta para casa.
"Às vezes, a gente está olhando no aplicativo que tem ônibus, mas o motorista já encerrou e passa direito. A gente, que estava confiando que tinha como voltar para casa, precisamos nos virar, ou esperando o próximo ônibus, ou pegando uma motocicleta por aplicativo. Mas é algo que sai caro, porque sou estudante, pago R$ 1,35 a meia passagem, mas no aplicativo ou ligeirinho esse valor fica acima de R$ 10, sendo que, para quem ganha um salário mínimo, é um valor que faz falta no final do mês, além das outras despesas que a pessoa tem", reclama.
Quem também passa por uma situação similar é Edson da Conceição Oliveira (23), também estudante de Nutrição. No seu caso, ele conta com a carona do tio para voltar para casa após as aulas, que encerram às 19h. Segundo ele, mesmo quando seu tio encerra o expediente mais tarde, ainda assim, é mais vantajoso esperar alguns minutos a mais do que tentar utilizar o transporte público.
“Eu prefiro ficar esperando ele terminar o trabalho do que ir para a parada de ônibus, pois além de não ter carro, corre o risco de eu não conseguir chegar a tempo de pegar, já que eles não passam no horário correto. Se eu perder esse ônibus, não terei outra opção. É uma situação precária, pois não temos o direito de ir e vir”, enfatiza Edson da Conceição.
Strans admite necessidade de mais ônibus nas ruas
Para a situação atual do transporte público na capital, Felipe Leal, diretor de transportes públicos da Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (Strans), da Prefeitura de Teresina, explica que, em 2021, quando a atual gestão assumiu, o sistema de transporte público estava defasado. Nessa época, eram apenas 138 ônibus circulando após a pandemia. Além disso, os empresários do transporte público alegavam dívidas, junto à prefeitura, contraídas durante o período pandêmico.
À época, de acordo com Felipe Leal, o número de usuários era muito baixo, já que se vinha de um período pós-pandemia e com muitas empresas aderindo ao home office, fazendo com que o número de usuários circulando pela cidade e utilizando o transporte coletivo reduzisse.
“Sentamos, vimos como estava a situação, fizemos várias reuniões com as empresas e sindicatos, e decidimos aumentar a frota de ônibus para atender pelo menos à demanda de usuários, mesmo sendo pouco. Assim, em 2022, saltamos para quase 200 ônibus. Também fizemos um planejamento para 2023, avaliando a oferta e a demanda, e fizemos alguns acordos com os empresários para aumentar a frota, mesmo sem ter passageiros, com passagens congeladas há cinco anos, em R$ 4, e com os custos operacionais do sistema serem altos. Quando os insumos aumentam o custo, a Prefeitura tem que subsidiar isso, e foi em 2023 que começamos a fazer os acordos extrajudiciais junto ao Tribunal Regional do Trabalho para repassar um subsídio às empresas, no sentido de manter o serviço e poder aumentar a frota em Teresina”, ressalta Felipe Leal.
Em 2023, o subsídio repassado da Prefeitura de Teresina para as empresas que integram o consórcio do transporte público da capital era de R$ 3,3 milhões. Em 2024, esse valor foi reajustado e passou para R$ 4,7 milhões. Atualmente, Teresina conta com quatro consórcios, um atuando em cada zona da cidade. O Consórcio Poty é responsável pela zona Norte, o Consórcio Urbanus, atende a zona Leste, o Consórcio Theresina, que responde pela zona Sudeste, e a Transcol, que administra a zona Sul. Ao todo, 11 empresas integram o consórcio que atende Teresina.
“Hoje, religiosamente, pagamos esse valor, todo dia 4 de cada mês, para os consórcios. Fazemos a divisão do subsídio para cada consórcio conforme a quantidade de viagens e carros que foram colocados durante o mês anterior. Então, pagamos esse valor de R$ 4,7 milhões para que se tenha 247 ônibus circulando em Teresina. Infelizmente sabemos que essa quantidade de veículos não é suficiente e que precisamos aumentar a oferta de ônibus em Teresina, mas, se considerarmos a demanda de hoje e a oferta de passageiros que temos, ela é suficiente para atender”, comenta.
Nenhum ônibus circula com ar-condicionado
Felipe Leal destaca ainda que foram aumentadas a quantidade de viagens feitas pelo ônibus, fazendo com que reduzisse o tempo de espera do passageiro. Ele comenta que os empresários não têm veículos suficientes para aumentar a frota e que muitos ônibus ultrapassaram a vida útil para circular.
“. Muitos ônibus que rodam hoje já passaram da idade de circular. Em geral, eles têm uma idade média de até seis anos, com idade útil de até 12 anos, e deveriam sair do sistema. Mas temos ônibus com mais de 12 anos circulando, que não tem ar-condicionado, que quebram constantemente e exigem muita manutenção. A Strans, como poder de fiscalização, acompanhamos isso nas garagens e cobramos que as empresas façam as melhorias. Somente 12% dos ônibus têm ar-condicionado, mas nenhum está funcionando atualmente”, reforça.
Para melhorar o transporte público, o diretor de transportes públicos da Strans ressalta a necessidade de incentivos e parcerias com os demais poderes. “Precisamos do apoio e incentivo de outros órgãos Estadual e Federal, pois temos gratuidades desses dois entes e é bancado somente pela prefeitura. Precisamos de investimento e a população está sofrendo com isso”, conclui.
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