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Em 12 anos, Centro de Teresina perdeu quase 20% da população

A informação é do Censo Demográfico 2022, divulgado pelo IBGE nesta quinta-feira (21)

21/03/2024 às 18h18

21/03/2024 às 19h08

Anteriormente considerado o local mais movimentado da capital do Piauí, o Centro de Teresina vem, aos poucos, deixando de ser o que era. Lar de monumentos históricos e estabelecimentos comerciais diversos, o local enfrenta uma redução de sua população residente. É o que aponta o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta quinta-feira (21). 

Segundo os dados, em 12 anos, houve uma redução de quase 20% na população do Centro de Teresina. Em 2010, o número de habitantes no local era de 118.923. Já em 2022, esse número caiu para 95.857. Ou seja, mais de 23 mil pessoas deixaram o centro ao longo do tempo.

Em 12 anos, centro de Teresina perdeu quase 20% da população - (Arquivo O DIA) Arquivo O DIA
Em 12 anos, centro de Teresina perdeu quase 20% da população

Para Gerardo Fonseca, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí (CAU-PI), parte desse fenômeno pode ser atribuído às políticas habitacionais do Governo Federal, que incentivaram a moradia em áreas distantes do centro da cidade, levando parte da população para longe.

"Antigamente, o centro era uma região em que as habitações eram residenciais. Aos poucos, esses locais se transformaram em áreas comerciais. O comércio não se flexibilizou para que houvessem moradias próximas às lojas. As casas foram adquiridas e transformadas em estabelecimentos comerciais. Isso foi afastando os moradores e hoje o centro não é mais considerado uma área residencial. Muitas escolas fecharam por falta de alunos".

Gerardo Fonseca Arquiteto e Urbanista

Esse processo de diminuição dos residentes está diretamente ligado com a desertificação do centro da cidade. Mas, afinal, o que isso significa? Em ambientes urbanos, a desertificação pode ser entendida como o processo de deterioração ou abandono das áreas, o que consequentemente leva à perda de população, atividades econômicas e infraestrutura. E é exatamente isso que está ocorrendo.

Conforme um mapeamento realizado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-PI), o Centro de Teresina possui mais de 200 imóveis abandonados e outros 180 fechados. Alguns estão sendo vendidos, enquanto outros estão sendo postos para aluguel. 

Além disso, essa desocupação imobiliária tem impactado a economia local: uma pesquisa realizada por estudantes de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí aponta que há o prejuízo de pelo menos R$ 108 milhões com os chamados “vazios urbanos”. O estudo revela que a desocupação dos imóveis resultou na perda de pelo menos 2.300 novos postos de trabalho.

O Centro de Teresina possui mais de 200 imóveis abandonados e outros 180 fechados.  - (Assis Fernandes/O Dia) Assis Fernandes/O Dia
O Centro de Teresina possui mais de 200 imóveis abandonados e outros 180 fechados.

Gerardo Fonseca ressalta que esse processo está ligado às questões de segurança pública. Ele reforça que, quando a população deixa de habitar o centro, a área fica vulnerável à ação de criminosos, o que tem levado muitas pessoas à fecharem seus estabelecimentos e buscarem outros locais para empreender.

"A partir do momento em que a população deixa de habitar o centro, o local fica vulnerável. Onde não tem população na rua, tem bandido. Se não há pessoas ocupando esses espaços, a área fica livre para criminosos atuarem. Então, eles invadem imóveis e assaltam as pessoas que passam pela região. O comércio vem sofrendo com isso", disse.

Os espaços desocupados no Centro contribuem, ainda, para a desvalorização dos imóveis comerciais locais. A falta de uso também prejudica a função social dos imóveis, especialmente quando falamos das construções históricas, que estão ligadas à memória e identidade da cidade.

A Igreja São Benedito é um dos pontos históricos localizados no Centro de Teresina - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
A Igreja São Benedito é um dos pontos históricos localizados no Centro de Teresina

A desertificação do Centro de Teresina tem sido um fenômeno observado há algum tempo. Mas, ele não se restringe somente à capital do Piauí. "O que acontece nos dias de hoje não é privilégio da cidade de Teresina. Esse esvaziamento dos centros acontece na maioria das grandes cidades, especialmente nas capitais", diz Gerardo.

O arquiteto aponta que a solução para esse problema é fomentar o retorno da população nessas áreas e, além disso, incentivar o comércio cultural na região. "O centro é uma região extremamente desenvolvida, tem saneamento básico, água, luz e telefone, com total condições de ser transformada novamente em uma área residencial e de uso misto, com comércio, serviços, lazer, cultura e gastronomia. Tudo isso pode ser feito porque o centro faz parte da história e tem áreas que nos agradam enquanto ser humano. Portanto, o Centro de Teresina tem jeito, sim, mas depende do poder público incentivar esse retorno", acrescenta Fonseca.

Gerardo Fonseca, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí - (Arquivo Pessoal) Arquivo Pessoal
Gerardo Fonseca, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí

Enquanto o Centro de Teresina esvazia, outras zonas da cidade crescem

Enquanto o Centro da cidade enfrenta o gradual esvaziamento, outras zonas da capital vêm registrando crescimento. Segundo dados do IBGE, as zonas sul e leste de Teresina experimentaram um aumento populacional nos últimos 12 anos. A zona sul da cidade viu um crescimento de 16% entre 2010 e 2022, enquanto a zona leste cresceu 14%.

Em 2022, a região mais populosa de Teresina foi a Sul, com uma população de 195.228 habitantes. Em seguida, a segunda região mais populosa foi a Leste, com uma população de 192.168 habitantes.

Por outro lado, as zonas de Teresina que tiveram um menor crescimento populacional entre 2010 e 2022 foram a Norte e a Sudeste. Em 2022, a região Norte tinha 189.523 moradores, com um crescimento de 6,02%. Enquanto isso, a região Sudeste teve 134.752 moradores, com um crescimento populacional de apenas 0,47%.