Nos últimos anos, o avanço das tecnologias de pagamento e transferências - cartões, carteiras digitais e, mais recentemente, a implementação do PIX - provocaram uma verdadeira revolução na forma de pagar por algo. Porém, boa parte da população ainda faz compras com o pagamento sendo feito em dinheiro. Mas aqui em Teresina o troco em espécie, essencial nessa dinâmica, está ficando cada vez mais raro.
O perigo de roubos e assaltos, a dificuldade de carregar dinheiro físico no bolso (especialmente as moedas), aliada a praticidade dos pagamentos via cartão ou PIX fazem com que as pessoas evitem andar com dinheiro, deixando moedas e cédulas em casa ou nas instituições financeiras. Segundo o Banco Central do Brasil, são produzidas moedas em quantidade suficiente para atender as necessidades de troco no país. Só que após não serem mais utilizadas, algumas delas são retiradas prematuramente de circulação, sendo guardadas ou até mesmo esquecidas.
LEIA TAMBÉM
A escassez de notas para troco, que já vinha sendo registrada nos últimos anos, teve o processo acelerado com a chegada do PIX. Prestes a completar três anos de existência – o serviço foi lançado no dia 16 de novembro de 2020 – a forma de pagamento tem conquistado até os mais adeptos ao dinheiro em espécie. Em Teresina, um dos lugares mais tradicionais para comer um lanche no Centro de Teresina é o Suco do Abrahão, famoso por oferecer lanches a preços mais baratos.
Ainda em vida, o Seu Abrahão Gama recusava receber pagamentos via cartão ou PIX, e mantinha o funcionamento da famosa lanchonete apenas com o recebimento em dinheiro físico. Porém, um pouco antes da morte dele, que ocorreu em março de 2021, os funcionários tentaram implementar as novas tecnologias, mas ele novamente recusou.
“No tempo que o Sr. Abrahão ainda comandava a empresa ele só aceitava dinheiro, só o modelo tradicional. Ele rejeitava qualquer forma de pagamento que não fosse na moeda ou cédula. E antes um pouquinho do falecimento dele, a gente tentou inserir o PIX, mas ele rejeitou. Agora com a nova administração, foi necessária a adoção de novas formas de pagamento, PIX e cartão”, conta Leonel Alves, atual gerente do “Suco do Abrahão”.
Mas pelo fato de o lugar ser bastante tradicional e funcionar há décadas no mesmo local, a lanchonete ainda recebe muitos clientes que só usam dinheiro. E aí surge o problema do troco. O espaço tem dificuldades de dar o troco em moedas ou cédulas. Todo dia, os atendentes “batem cabeça” para devolverem o troco aos clientes. E em alguns casos, o PIX continua sendo a solução.
“Isso está quebrando muito a cabeça, tanto dos clientes como a nossa. Quando vem uma pessoa com dinheiro para trocar, aí como é que faz com o troco? A gente corre na esquina, tenta trocar, dá um jeitinho. E às vezes a gente adota o troco em PIX, devolve pelo PIX. Só que muitos ainda não usam a forma de pagamento. Mas mesmo assim, essa já vem bem no topo como a forma de pagamento que mais recebemos aqui. Se no passado só recebíamos dinheiro, agora a maioria é PIX”, destaca o gerente.
Edson Teixeira, empresário, é um dos clientes mais antigos da famosa lanchonete do Centro de Teresina, desde 1996. Ele comemorou quando o espaço passou a usar o PIX. “Hoje em dia, dependendo do valor da cédula, às vezes você pode ficar sem troco. Muitas vezes dão o troco em PIX. Eu comemorei quando passaram a usar a nova forma de pagamento. É bem mais prático”, disse.
Se a lanchonete do Seu Abrahão demorou mais para aderir às novas tecnologias, a maior parte dos empreendimentos comerciais do país já aderiram ao serviço. Dados do Banco Central (BC) revelam que foram 152,7 milhões de transferências instantâneas em setembro deste ano, marca que superou o recorde anterior de 142,4 milhões de transações no mês de agosto.
O país tem atualmente 650,7 milhões de chaves PIX. São 153 milhões de usuários cadastrados, sendo 92% pessoas físicas. De cada 100 transações, 60 são feitas por pessoas de 20 a 39 anos.
“A maturação do PIX, a conveniência no seu uso e o desenvolvimento de soluções de integração pelo mercado estão permitindo maior diversificação nos casos de uso, aumentando sua importância no bom funcionamento da economia nacional”, disse o Banco Central em um comunicado recente. Essa diversificação citada pelo BC pode ser observada na prática. Além das pequenas lanchonetes, como a do Seu Abrahão, redes de supermercados, lotéricas, postos de combustíveis e ambulantes nas ruas já não contam mais com dinheiro em espécie como há alguns anos. Agora é tudo pelo PIX.
Acredite se quiser: até as doações dos fiéis nas igrejas - sejam ofertas ou o dízimo – são feitas pela tecnologia de transferência de pagamentos. A Igreja de São José Operário, na Vila Operária, recebe centenas de fiéis para as missas e novenas, especialmente às terças-feiras. Lá, os receptores de ofertas – aquelas caixas onde as pessoas vão deixar moedas para ajudar a manter a igreja em funcionamento – estão ficando cada vez mais vazias. Para não ter queda na arrecadação das doações dos fiéis, a administração paroquial decidiu receber doações via PIX.
Por todo o templo, estão espalhados os QR Codes e a chave PIX da Paróquia. De onde o fiel estiver, é possível apontar a câmera do celular e fazer a doação. O Padre Eridian Gonçalves, Missionário Redentorista e Vigário Paroquial afirmou ao O DIA que a adesão vem com uma forma da igreja acompanhar as novas tecnologias e também proteger os bens da Paróquia.
“Na realidade a gente tem procurado entrar mais nessa dinâmica das novas tecnologias e tem facilitado, a gente sabe que o QR Code e também a chave PIX estão aí. Então esse tipo de plataforma, tipo sistema, só tem ajudado, tem facilitado mais as nossas vidas em termos de arrecadação, em termos de administração dos bens da própria igreja. E sem contar que o dinheiro, a moeda em si, em espécie, sempre traz uma certa insegurança em qualquer que seja, as instituições. E com a igreja não é diferente. Então as nossas igrejas aqui, creio que quase todas elas estejam usando esse sistema, porque além de facilitar mais as transações, dá mais segurança”, revelou o missionário redentorista.
“Sofremos, como vocês souberam, esse assalto. E isso fortaleceu ainda mais a nossa crença, nossa convicção de que o sistema melhor é esse, o PIX. Você vê aqui, estamos em reforma do telhado todo. Recentemente reformamos nossa Capela, e tudo isso custa dinheiro. De onde vamos tirar o dinheiro? O dinheiro vem das doações, não tem segredo nenhum. E facilitá-las é benefício para nós e para os fiéis”, complementou o sacerdote.
Na igreja da Vila Operária, as doações por PIX já superam as feitas com dinheiro em espécie. As moedas estão ficando cada vez mais raras em todos os setores da economia. O dinheiro se tornar digital parece ser um processo inevitável!
BC já fez até apelo para população colocar as moedinhas em circulação!
Você que tem moedas guardadas nos cofrinhos, nas gavetas de casa ou perdidas no console central dos carros, coloque-as para circular! Esta é a recomendação dada pelo Banco Central do Brasil nos últimos anos, porque além de facilitar o troco no comércio popular e aumentar o fluxo de dinheiro na economia, o cidadão ajuda a reduzir os gastos públicos com reposição das moedas. Cerca de 25 bilhões de moedas foram emitidas no país desde 1994, quando o Real foi implantado. Mas o Banco Central (BC) estima que 35% dessas peças (8,7 bilhões) estão fora de circulação.
Aqui no país, o nosso dinheiro é produzido na Casa da Moeda, empresa pública sediada no Rio de Janeiro. A Casa foi fundada em 8 de março de 1694, como solução para o problema da falta de instrumentos que auxiliassem a circulação das riquezas no Brasil Colonial. Desde então, a empresa vem cumprindo sua função de produzir nossa moeda e dar segurança econômica à sociedade brasileira. As fábricas da empresa possuem capacidade instalada para produzir aproximadamente 2.6 bilhões de cédulas e 4 bilhões de moedas por ano, sendo autossuficiente para a produção nacional das cédulas e moedas do real.