Foi com o barro extraído do Poti Velho que Teresina se ergueu. Das mãos calejadas dos oleiros, foram feitos os tijolos que subiram prédios e casas. Hoje, Teresina completa 172 anos, mas a história da cidade começa bem antes, em meados de 1660, com um assentamento montado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, em suas primeiras incursões durante o processo de colonização no Piauí, no Século XVII. Uma terra que já foi ocupada pelos Potis, indígenas que viviam nessa região e foram afugentados pelos desbravadores. Um local privilegiado, localizado entre os rios Poti e Parnaíba, com potencialidade naturais, como a pesca, e um solo fértil e próspero para a agricultura.
Antigamente chamado de Barra do Poti, o local se expandiu e, ao longo dos séculos, também ganhou uma dinâmica comercial. Um potencial que atraiu o interesse do Conselheiro Saraiva, que assumiu o governo da província em 1851 e viu, nessa, já então Vila, a sede da nova capital do Piauí.
“Conselheiro Saraiva vai a essa vila, conversa com os moradores e com o Padre Mamede Antônio de Lima, primeiro vigário da capital, que era bastante atuante, sobre a possibilidade deles se deslocarem para uma nova vila. Saraiva viu a potencialidade desse local, ao mesmo tempo que ficou preocupado com as enchentes e com a questão da insalubridade, por conta de epidemias que aconteciam com frequência. Assim, eles estabelecem uma distância de uma légua acima, que seria a Chapada do Corisco, e deslocam a Vila do Poti e chamando-a de Vila Nova do Poti”, explica a professora e historiadora Viviane Pedrazzani.
Mas, nem todos os moradores seguiram para a nova vila, permanecendo ainda próximos ao Encontro dos Rios. Esse local ficou conhecido como Vila Velha do Poti e, posteriormente, se tornou apenas Poti Velho. Já a Vila Nova do Poti se estabelece como cidade e recebe o nome de Teresina, em 1852.
A Igreja Nossa Senhora do Amparo, que ficava localizada no Poti Velho, também foi transferida para Teresina no final do Século XVIII. Ela foi instalada na Praça da Bandeira, onde fica o Marco Zero da cidade e foi tombada em 1986 pela Prefeitura.
“A santa, que estava na Igreja Nossa Senhora do Amparo, no Poti Velho, foi deslocada para a Igreja Nossa Senhora do Amparo, da Praça da Bandeira, numa procissão feita pelos moradores que aceitaram morar nessa Vila Nova. Então, percebe-se um vínculo muito forte, nesse início da formação do Poti Velho, que é um bairro muito atípico de Teresina, por essas fortes características culturais, religiosas, econômicas”, pontua Viviane Pedrazzani.
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O barro que mudou vidas e ganhou o mundo
O Poti Velho continuou seu desenvolvimento e tornou-se um bairro de Teresina. O potencial existente fez deste local uma referência e foi a partir do Século XX que a argila se tornou protagonista na vida dessa comunidade. “A produção da argila, que era abundante na região, imprime um novo viés e dá uma identidade ao bairro, com a cerâmica do Poti Velho. Tem-se um local que é a origem da cidade, que se torna periférico, mas desenvolve uma identidade própria, com uma memória muito peculiar dos seus moradores, vinculada à produção da cerâmica”, destaca a historiadora Viviane Pedrazzani.
Raimunda Teixeira, presidente da Cooperativa de Artesanato do Poti Velho (Cooperart Poti), lembra que moradores da região sobreviviam, basicamente, da pesca, da plantação de fumo e da mandioca. Após se tornar Poti Velho, devido ao deslocamento dos moradores para a Vila Nova do Poti, atual Teresina, as fazendas foram ficando menores, devido ao número maior de habitantes. A pesca ainda se mantinha, mas outras atividades foram ganhando destaque.
Em meados da década de 1960, a produção de tijolos se tornou uma importante fonte de renda para a comunidade. Na lagoa dos oleiros, homens, mulheres e crianças se dedicavam quase que integralmente à produção. Foi nessa época também que nasceu o artesanato, trazido por Raimundo Nonato da Paz, conhecido como Raimundo Camburão, pioneiro na produção de potes para armazenar água, muito utilizado por aqueles que não possuíam geladeiras.
“O artesanato conseguiu contribuir para o desenvolvimento do nosso bairro. Depois que nos organizamos, em 1998, e criamos a primeira entidade, a Associação dos Artesãos e Cerâmica do Poti Velho (Arcepoti), chamamos atenção do poder público para nosso trabalho. O artesanato transformou o bairro e hoje somos orgulho para nossa comunidade. Buscamos parceiros, nos capacitamos e diversificamos a produção. Hoje, viajamos o Brasil inteiro, participamos de feiras e levamos nosso trabalho para o mundo. O Polo Cerâmico veio para fortalecer e foi uma luta de muitas mãos. Recentemente ganhamos a Vila do Poti, que ampliou o Polo e fortaleceu nosso trabalho, que retrata a nossa identidade”, conta Raimundinha.
Artesão há 25 anos, Jimmy Presley viu na arte feita com argila uma forma de mudar de vida. Especialista na procuração de arte santeira, ele conta como a história do bairro se mistura com o trabalho desenvolvido por ele e outros artesãos, sobretudo valorizando as potencialidades e riquezas que se mantêm ao longo de décadas.
“Sou nascido e criado no Poti Velho, o primeiro bairro de Teresina, que começou com a pesca, depois veio o artesanato e a cerâmica, que enriqueceu mais ainda nosso bairro. Tudo que eu tenho hoje veio daqui, do artesanato e da cerâmica. O bairro Poti Velho é muito cultural e tem atraído cada vez mais visitantes, não apenas pelo artesanato, mas pelo pescador, pelo Encontro dos Rios, pela Capelinha do Poti Velho, a mais antiga de Teresina. As pessoas querem conhecer nossa história e nossa tradição, e estamos repassando isso não apenas para os turistas que vêm nos visitar, mas para todo o mundo, já que as redes sociais ajudam nesse processo de divulgação”, conclui o artesão Jimmy Presley.
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