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Temperatura média em Teresina subiu quase 1,5 grau nos últimos 30 anos

Vivemos em um mundo mais quente. Foi este o alerta emitido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) nesta sexta-feira (21) após a divulgação do Painel de Mudança Climática produzido pela Universidade de Reading, no Reino Unido. O estudo é composto por gráficos que revelam por meio da transição de cor o aumento de temperatura da superfície em diversas cidades do planeta. Teresina está entre elas e seus números são considerados preocupantes.

A temperatura da capital piauiense subiu quase 1,5°C ao longo dos últimos 30 anos. É isto o que revela o gráfico do Painel de Mudança Climática. Do início dos anos 1990 até 2023, a temperatura em Teresina passou a variar somente em escala positiva ou seja, houve aumento do calor e da sensação térmica ano após ano. Apenas nas décadas anteriores a 1990 foi que a capital piauiense teve alguma redução de sua temperatura média. Por exemplo, na década de 70, a temperatura da superfície na cidade caiu pouco mais de 1°C. O gráfico considera o período de 1896 a 2023, ou seja, 128 anos.

Reprodução/IPCC
Temperatura média em Teresina subiu quase 1,5 grau nos últimos 30 anos

O ano de 2023 já é considerado pelos especialistas como sendo o mais quente já registrado no mundo. O Piauí e Teresina, mais especificamente, não foi uma exceção. A capital piauiense foi assolada por ondas de calor extremo no segundo semestre do ano passado e a previsão é de que o B-R-O-Bró (período mais quente do ano) comece um pouco mais cedo neste 2024. O estudo divulgado no Painel de Mudanças Climáticas e os fenômenos que têm sido observados recentemente na capital acendem um alerta: Teresina está mais propícia à ocorrência de eventos climáticos extremos.

Quem afirma isto é o professor Rafael Marques, Mestre em Estudos Regionais e Geoambientais e doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Em entrevista a O Dia, ele explica que, quanto mais quente a superfície fica, maior a chance de desastres naturais e socioambientais. É que se perde o equilíbrio na ocorrência dos fenômenos climáticos. Ou é chuva demais ou é calor demais.

“Fica mais seco, temos altas temperaturas e muito mais eventos extremos. Ou é chuva demais ou é seca demais. Se tiver seca demais, ondas de calor propiciam mais incêndios florestais e queimadas. E quando é o oposto, chuva demais, ocorrem os desastres que chamamos de socionaturais ou socioambientais, como o que vimos no Rio Grande do Sul: enchentes e cidades alagadas”, explica Rafael.

O aumento da temperatura da superfície em Teresina deve, segundo ele, acender um alerta no poder público e na sociedade, porque mais do que nunca são necessárias ações mais eficazes de contenção. Um estudo recente divulgado pela Carbon Disclosure Project revelou que o Piauí faz parte do grupo de estados brasileiros que ainda não possuem um plano de ação em caso de eventos climáticos extremos.

Reprodução Redes Sociais
O aumento da temperatura da superfície em Teresina deve acender um alerta no poder público e na sociedade

A Defesa Civil Estadual disse que este plano está em desenvolvimento desde o ano passado e considera o mapeamento das áreas de risco com o fortalecimento da governança institucional na gestão de risco e desastres.

Para o professor Rafael Marques, as ações são importantes e necessárias, mas é preciso também “correr contra um relógio já atrasado” para conseguir acompanhar as mudanças climáticas como elas vêm acontecendo ultimamente.

“Falando a nível de Brasil nós temos um país de dimensões continentais com uma dinâmica econômica e populacional muito intensa. Esse aumento da temperatura evidencia a falta de consciência e planejamento ambiental nos últimos 40 ou 50 anos. As ações que a gente pensa nos últimos cinco a 10 anos eram para terem sido feitas há 30, 40 anos. Estamos correndo contra o tempo de um relógio já atrasado”, dispara.

O gráfico de Teresina mostra que o aumento de temperatura se acentuou mais a partir de 2010. O professor Rafael Marques lembra que nos períodos em que a temperatura subia de forma mais controlada, como no começo dos anos 2000, a capital tinha uma cobertura verde mais extensa. A existência de vegetação está diretamente ligada à amenização do calor e ao conforto térmico na capital. Sua ausência, no entanto, se reflete no aumento do “tempo quente”.

“Cobertura verde. Esta é uma alternativa entre as muitas que temos que pensar para frear esse aumento de temperatura e diminuir os riscos de eventos climáticos extremos. Temos que pensar na prevenção em primeiro lugar. As contenções são mais difíceis. Prevenir sempre é a melhor saída”, finaliza o professor.


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