A Síria viveu uma reviravolta neste domingo (8), quando forças rebeldes lideradas pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) capturaram a capital, Damasco, após rumores de que o presidente Bashar al-Assad havia fugido. Este avanço ocorreu apenas 12 dias depois que o HTS e facções aliadas lançaram uma grande ofensiva no noroeste do país, capturando a cidade de Aleppo antes de avançar para o sul até a capital.
O conflito sírio começou em 2011 como uma revolta pacífica pró-democracia contra o regime de Assad, parte da Primavera Árabe, mas rapidamente evoluiu para uma guerra civil devastadora. A brutal repressão de Assad à oposição levou à formação do Exército Sírio Livre (ESL), e o conflito atraiu intervenções de potências regionais e globais, incluindo Rússia, Irã e Estados Unidos. Mais de meio milhão de pessoas morreram e 12 milhões foram deslocadas durante o conflito.
HTS, anteriormente conhecido como Al-Nusra, foi um dos grupos rebeldes mais eficazes contra Assad, mas sua ideologia jihadista também a tornou uma organização marginalizada pela comunidade internacional. Em 2016, rompeu laços com a Al-Qaeda e adotou o nome Hayat Tahrir al-Sham. Embora seja considerado uma entidade terrorista por países como EUA e Reino Unido, o HTS consolidou seu poder em Idlib e Aleppo ao vencer rivais, incluindo o Estado Islâmico e células da Al-Qaeda.
Por que os rebeldes lançaram a ofensiva?
A ofensiva dos rebeldes foi desencadeada por meses de crescente tensão. Em 2020, um cessar-fogo mediado por Turquia e Rússia estava em vigor, mas ataques do governo sírio e milícias aliadas aumentaram os conflitos em Idlib. O HTS, que controla parte significativa do noroeste sírio, alegou que a ofensiva era uma resposta à agressão crescente do governo e seus aliados, especialmente em um momento em que o governo estava enfraquecido por anos de guerra, sanções e lutas internas.
Como aconteceu a queda do presidente Assad?
O HTS e suas facções aliadas tomaram rapidamente Aleppo e Hama, forçando as forças de Assad a recuar sem resistência. Com a pressão externa de aliados como a Rússia e o Hezbollah enfraquecidos por conflitos adicionais, Assad optou por deixar a Síria, deixando um vácuo de poder que foi rapidamente preenchido pelos rebeldes.
A comunidade internacional reagiu com cautela. A Casa Branca afirmou estar monitorando os eventos, enquanto os Emirados Árabes Unidos expressaram preocupação com a ameaça ao território sírio e o risco de extremismo. A Rússia, embora tenha confirmado que Assad deixou o país, manteve as bases militares em alerta máximo e pediu calma a todos os lados. O enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, descreveu este como um momento decisivo para a história síria, marcando um possível começo de um novo ciclo de paz.