Em Teresina, os casos de violência contra a mulher que ocorreram nos últimos dias chamam atenção para a importância de denunciar esse tipo de crime. Nas situações que vieram à tona, ambas as vítimas são estudantes de direito e de classe média que tiveram visibilidade nas agressões sofridas por meio da internet. Embora a violência contra a mulher atinja todas as classes sociais, é válido ressaltar que mulheres negras e de periferia estão mais suscetíveis aos diversos tipos de violência doméstica e familiar.
De acordo com a 4ª edição da pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2022 mais de 18 milhões de mulheres relataram ter sofrido algum tipo de agressão. Dessas, 65,6% são mulheres negras e 50% moram em cidades do interior. No Piauí, essa realidade se repete: a maioria das mulheres assassinadas entre 2015 e 2022 são negras.
Sobre o assunto, a secretária de Estado das Mulheres, Zenaide Lustosa, comenta que, muitas vezes, as mulheres de periferia não têm voz ou força para denunciar e, assim, muitos casos acabam não chegando aos ouvidos das autoridades. “É importante denunciar a violência independente da classe social, porém as mulheres de periferia que não tem acesso às redes sociais não conseguem divulgar a violência sofrida em suas comunidades. A violência tem cara e raça, mas se dá em todas as classes sociais. No entanto, a dificuldade que uma mulher periférica tem de sair do ciclo de violência talvez seja maior do que uma mulher de classe alta, pois, muitas vezes, essa mulher depende financeiramente do agressor, que é pai dos filhos e dá o sustento para a família”, afirma.
A secretária explica ainda sobre os ciclos de violência que mulheres vítimas de agressão enfrentam. Nesse ciclo existem três fases: a pré-tensão,a agressão e a fase de lua de mel, que é quando o agressor mostra-se arrependido, diz que vai mudar e busca a reconciliação. “As mulheres devem denunciar, pois sem a denúncia fica difícil coibir a violência. Muitas mulheres vivem ciclos de violência, que envolvem altos e baixos e elas não conseguem sair. Dessa forma, é importante que elas procurem ajuda para que possam se fortalecer e ter coragem de fazer denúncia e continuar com o processo”, destaca Zenaide Lustosa.
Casos de violência em Teresina
Nos últimos dias, dois casos de violência contra a mulher chamam a atenção da população teresinense. No dia 10 de maio, a estudante de direito Victoria Soares denunciou nas redes sociais as agressões sofridas pelo ex-namorado, Matheus Victor, empresário e filho de delegado que foi preso na última sexta-feira (12).
O caso veio à tona após a estudante postar foto do rosto machucado e revelar que viviam um relacionamento conturbado com o ex. Ela já havia registrado dois boletins de ocorrência por agressões. Em entrevista exclusiva ao O DIA, a vítima revelou que seu celular era monitorado pelo ex-companheiro e que o mesmo dizia sentir muito ciúme.
Já no sábado (13) repercutiu nas redes sociais o vídeo de uma influencer chamada Pâmela Xavier sendo agredida por um homem. Nas imagens, é possível ver que a vítima desmaia após levar golpe de Luís José de Moura Neto, mais conhecido por Gordinho do Peixe. O acusado, que é empresário, já respondia a outro processo de violência doméstica por ter agredido a própria tia com um cabo de vassoura. Ele foi preso na manha desta terça-feira (16).
A vítima, que também é estudante de direito, é amiga da ex-namorada do Gordinho do Peixe, Isabela Arruda. Em depoimento exclusivo ao O DIA, Isabela disse que vivia um relacionamento abusivo com o empresário e que sofria agressão física e verbal constantemente e sem motivo aparente. Já Pâmela Xavier, digital influencer que foi agredida, diz temer por sua vida, pois desde o episódio de violência, vem sofrendo ameaças por meios das redes sociais.