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“Quem tem que sentir vergonha é o agressor”, diz delegada após relato de estudante vítima de violência em Teresina

Em entrevista, a estudante de direito Victoria Soares contou que sente vergonha por ter passado por tudo isso e que, no início do relacionamento, romantizava os ciúmes e a perseguição do ex-namorado

12/05/2023 às 16h41

28/09/2023 às 12h35

O caso da estudante de Direito Victoria Soares, agredida pelo empresário Matheus Vitor, com quem se relacionou por sete meses, vem chamando atenção para a importância do combate à violência contra a mulher. Em entrevista exclusiva concedida ao O DIA, a vítima contou que sente vergonha por ter passado por tudo isso e que, no início do relacionamento, romantizava os ciúmes e a perseguição do ex-namorado.

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Estudante Victora Soares relata medo de ser morta  - ((Foto: Assis Fernandes/ODIA)) (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Estudante Victora Soares relata medo de ser morta

Sobre o assunto, a delegada do Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Nathalia Figueiredo, explica que esse é um sentimento comum em muitas vítimas de violência doméstica e familiar. “A visibilidade que esse tipo de caso acaba tendo é importante, pois chama atenção para a importância do combate à violência contra a mulher. A violência doméstica existe desde que o mundo é mundo. Existe a romantização do controle e do ciúme, que não é amor. A vítima disse ter tido vergonha por ter sido vítima, mas quem tinha que ter vergonha era o agressor e não ela”, disse a delegada.

De acordo com Nathalia Figueiredo, através dos relatos da estudante de direito, é possível perceber que além da violência física, Victoria Soares também sofria agressão psicológica. “O abusador ataca de várias maneiras. Ele mina a mente da vítima, diminui a auto-estima, mostra que a vítima não é capaz e que só ele pode dar amor à ela. A vítima acaba tendo vergonha de ser vítima e essa é uma das formas que o abusador utiliza para ter controle”, explica.

Delegada Nathalia Figueiredo fala sobre violência contra a mulher - ((Foto: Jailson Soares/ODIA)) (Foto: Jailson Soares/ODIA)
Delegada Nathalia Figueiredo fala sobre violência contra a mulher

A estudante foi agredida várias vezes, mas só registrou duas queixas. Ela lembra que o agressor a perseguia no trabalho e havia, até mesmo, instalado um aplicativo localizador em seu celular a fim de monitorar seus passos. “Registrei B.O nas duas últimas. Ele me perseguia no meu local de trabalho, isso com três ou quatro meses de namoro. Meu celular tinha um localizador, ideia dele. Mas eu estava romantizando tudo, iludida, apaixonada”, aponta Victoria Soares. 

A delegada enfatiza que, apesar de o sentimento de ciúme ser comum no relacionamento, o controle e a posse vai além do ciúme, o que não é saudável. E esses são os primeiros indícios de uma relação tóxica. "São vários alertas, quando a pessoa passa a controlar seus passos, como ela mesma comentou, o agressor colocou um localizador no seu celular. Eu gosto sempre de enfatizar que a violência doméstica não inicia com um feminicídio, a morte da mulher é o resultado final, quando não damos importância às outras formas de violência, seja física, psicológica ou sexual”, destaca Nathalia Figueiredo.

Após a estudante de direito divulgar imagens de seu rosto lesionado, ela também mostrou nas redes sociais as mensagens recebidas pelo ex-companheiro. Nelas, Matheus Victor pedia desculpas, dizia que a amava e que as agressões não iriam mais se repetir.

Agressor Matheus Victor pede desculpas pelas agressões e diz que tudo foi um (Foto: Reprodução/Instagram)
Agressor Matheus Victor pede desculpas pelas agressões e diz que tudo foi um "acidente"

A delegada Nathalia Figueiredo afirma que esse tipo de comportamento é comum ao agressor e que essas são as fases dos ciclos de violência. “O abusador não quer perder a pressa e para não perder esse objeto, ele ilude. Nos ciclos de violência, nós temos a tensão, a agressão e lua de mel, que é quando a mulher pensa que o agressor mudou, muitas vezes procura a polícia para pedir a revogação da queixa ou da medida protetiva, mas é uma fase e o ciclo vai girando. O espaço de uma fase para a outra vai diminuindo e as agressões vão progredindo. Mulheres, não se iludam quando o agressor diz que vai mudar”, ressalta. 

Ciclos de violência contra a mulher - ((Foto: Reprodução)) (Foto: Reprodução)
Ciclos de violência contra a mulher

Devastada com toda essa situação, a estudante Victoria Soares diz que fez as denúncias por medo de morrer. “Sabe porque eu tive coragem? Porque eu sei que se não tivesse visibilidade eu ia virar estatística. Eu não tenho segurança, eu tenho medo de algo acontecer comigo”, revelou. 

Na manhã desta sexta-feira (12), o Matheus Victor foi preso pela Polícia Civil. O acusado possuía uma arma com registro CAC, que é um certificado para pessoa física que realiza atividades de colecionamento de armas de fogo. Em imagens publicadas no Instagram, a vítima mostra o momento em que seu ex-companheiro pede à sua mãe para esconder a arma. Na mensagem, o empresário diz ainda que “assim que Victoria retirasse a medida protetiva, ele pegaria a arma de volta”. 

Momento em que Marcos Victor pede para mãe esconder sua arma; vítima divulgou nas redes sociais - ((Foto: Reprodução/Instagram)) (Foto: Reprodução/Instagram)
Momento em que Marcos Victor pede para mãe esconder sua arma; vítima divulgou nas redes sociais

Matheus Vitor foi encaminhado ao IML para realização de exames de corpo delito, e em seguida será conduzido ao sistema prisional, onde deverá aguardar o andamento do processo. O Portal O Dia entrou em contato com a defesa do acusado, mas até o momento não obteve retorno. O espaço permanece aberto para futuros esclarecimentos.

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