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Tecnologia a favor da alimentação: como a inovação pode ser usada contra o desperdício

O desperdício de alimentos é um dos fatores que contribuem para o agravamento da fome no mundo. Hoje, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas globalmente

14/04/2024 às 15h24

Em todo o mundo, mais de 700 milhões de pessoas sofrem com a fome, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, há 20 milhões em situação de insegurança alimentar, privados de acesso constante e confiável à alimentação.

O desperdício de alimentos é um dos fatores que contribuem para o agravamento da fome. Anualmente, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas no mundo, e o Brasil figura entre os países com maior índice de desperdício alimentar.

1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas globalmente - (Freepik) Freepik
1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas globalmente

Mas afinal, como esse problema pode ser remediado? A resposta está no uso da tecnologia. No Piauí, uma solução inovadora foi criada para aproveitar ao máximo os recursos alimentares disponíveis. Desenvolvida pelo Núcleo de Estudos, Pesquisa e Processamento de Alimentos (NUEPPA) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a máquina chamada “despolpadeira” é parte de um esforço para combater o desperdício de alimentos e promover a segurança alimentar. A tecnologia é utilizada para o despolpamento de peixes.

“Nós percebemos o grande desperdício nos mercados de peixes da capital e do estado. Então, essa tecnologia foi desenvolvida para aproveitar a carne quando se transforma o peixe em filé. Fizemos um projeto e foi aprovado, a partir daí desenvolvemos a máquina e temos tido um bom resultado”, explica a coordenadora da NUEPPA, professora Christina Muratori. 

Professora Christina Muratori, coordenadodo NUEPPA - (Jailson Soares/ODIA) Jailson Soares/ODIA
Professora Christina Muratori, coordenadodo NUEPPA

A despolpadeira utiliza a técnica de amassamento para a filetagem de peixes e aproveita o que seria desperdiçado para a fabricação de outros alimentos. Assim, o que seria jogado fora pode ser reaproveitado de diversas formas.

"Com o auxílio da máquina, conseguimos reaproveitar cerca de 45% da carne que seria descartada como resíduo, o que traz benefícios do ponto de vista econômico, ambiental e nutricional".

João FreitasDoutorando
"Despolpadeira" foi desenvolvida na UFPI - (Jailson Soares/ODIA) Jailson Soares/ODIA
"Despolpadeira" foi desenvolvida na UFPI

Outro projeto desenvolvido no Piauí é chamado de “EcoDry”, uma tecnologia sustentável projetada para processar alimentos de forma eficiente, reduzindo o desperdício e aumentando a utilização de ingredientes em potencial. “A desidratação oferece durabilidade ao produto, e o produtor não precisa vender imediatamente”, aponta um dos idealizadores do projeto, Alexandre dos Anjos. 

EcoDry foi criada por startup dentro da Universidade Federal do Piauí - (Reprodução/UFPI) Reprodução/UFPI
EcoDry foi criada por startup dentro da Universidade Federal do Piauí

As máquinas ficam expostas no Núcleo de Pesquisas da UFPI. O EcoDry é movido a energia solar e processa diversos tipos de alimentos: camarão, alho-poró, maçã, macaxeira e banana são alguns dos alimentos que podem ser desidratados. 

"Os métodos tradicionais de desidratação são poluentes e consomem energia elétrica. Para colocar no campo, precisam de puxar fiação, o que é complicado. Então, inovamos e desenvolvemos esses desidratadores para trabalharem exclusivamente com energia solar”, acrescenta Alexandre.

Alimentos expostos após processo de desidratação  - (Reprodução/UFPI) Reprodução/UFPI
Alimentos expostos após processo de desidratação

Inovação na produção de alimentos sustentáveis

As novas tecnologias também podem ser utilizadas para a produção de alimentos sustentáveis. Uma dessas abordagens é a biotecnologia, que inclui a prática da biofortificação. Este processo tem como objetivo aumentar o valor nutricional dos alimentos, tornando-os mais saudáveis e nutritivos.

"A biofortificação dos alimentos é um processo de melhoramento genético que não envolve transgênicos, mas sim a seleção entre diversas variedades, como batata-doce, milho, mandioca e feijão-caupi. Cruzam-se dois tipos diferentes: um com alto teor nutricional e outro com características desejadas pelo consumidor, como sabor e formato”, esclarece o agrônomo da Embrapa, Adão Cabral.

Adão Cabral, agrônomo  - (Jailson Soares/ODIA) Jailson Soares/ODIA
Adão Cabral, agrônomo

Os benefícios dessa prática podem ser voltados tanto para os agricultores, que terão um produto com maior valor agregado e potencial de mercado, quanto para os consumidores, que terão acesso a alimentos mais nutritivos. 

A promoção de uma alimentação mais sustentável e o combate à fome são preocupações globais e pautas incluídas nas reuniões do Grupo dos Vinte (G20), o principal fórum de cooperação econômica internacional, que se reúne anualmente em diversos países. 

Composto pelas maiores economias do mundo, como a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália e Canadá, o G20 discute iniciativas econômicas, políticas e sociais, além de traçar estratégias internacionais para os problemas que afligem o mundo, como o meio ambiente e as mudanças climáticas. 

Este ano, o Brasil sediará o G20, com destaque para a inclusão de cidades de todas as regiões do país, inclusive Teresina, no Piauí. Os principais temas discutidos nesta edição 

serão o comércio, desenvolvimento sustentável, saúde, agricultura, energia e combate à corrupção. 

G20 será sediado no Brasil em 2024 - (Agência Brasil) Agência Brasil
G20 será sediado no Brasil em 2024

Na capital do Piauí, o encontro ocorrerá entre os dias 22 e 24 de maio e vai tratar sobre o combate à fome, à pobreza e à desigualdade. A inclusão de Teresina e de outras capitais fora do eixo Sul-Sudeste representa uma inovação nesta edição do Brasil. A descentralização das atividades visa transformar o G20 em um fórum mais inclusivo e acessível, ampliando sua representatividade.

Além de Teresina, o Brasil vai receber reuniões do G20 em Brasília (DF), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Foz de Iguaçu (PR), Maceió (AL), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA) e São Luís (MA).

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