Um estudante do segundo período de Direito da faculdade
Fatepi/Faespi, que preferiu não se identificar, procurou a Delegacia de Repressão às Condutas Discriminatórias e Proteção dos
Direitos Humanos por conta do que ele chama de ataques homofóbicos por
parte de outros alunos da instituição. Devido às condutas discriminatórias,
dentre elas a de que homossexuais são pedófilos, o homem chegou a sofrer um
colapso nervoso e passou 10 dias internado.
Ele começou
o curso de Direito na faculdade há cerca de um ano e, logo de início, sentiu o
preconceito por parte de alguns colegas de classe. No começo, eram piadas e
risos quando a vítima se manifestava na sala de aula, mas, aos poucos, durante
debates sobre direitos humanos e liberdade de expressão, alguns estudantes se
manifestaram contrários à homossexualidade e passaram a reprimi-lo diretamente.

Em um dos casos, quando apresentava um seminário
que tinha como tema a homoafetividade e a homossexualidade no ambiente jurídico,
um dos alunos disse que o homem deveria parar de €œtentar inserir à força o assunto
dentro da sala de aula€.
Alguns meses depois, o aluno solicitou à
coordenação do curso para que pudesse mudar de sala, onde imaginou que teria
menos problemas, mas ele conta que a situação €œpiorou infinitamente€. Segundo a vítima,
um aluno é o principal agressor, mas há outros que também se posicionam contrários
à sua orientação sexual e utilizam-se de citações bíblicas para discriminar o
rapaz.
€œEles repetem que Deus ama o pecador, mas não
ama o pecado e que a conduta dos homossexuais é errada. O pior de tudo foi
quando disseram que gays são pedófilos, que são sempre promíscuos, como se a
vida de toda pessoa homossexual fosse direcionada ao sexo, e não é nada disso,
tem a ver com afetividade, não apenas sexualidade€, declara o homem.
O estudante conta que a situação ficou
crítica a ponto de ele se sentir extremamente nervoso e ansioso sempre que ia para
a faculdade. Há alguns meses, o estado psicológico e emocional ficou
tão abalado que ele sofreu um colapso nervoso e precisou ficar internado
durante 10 dias.
€œOs médicos me disseram para evitar esse tipo
de estresse, essa exposição a esse tipo de coisa, mas não tinha como, a
situação acontecia praticamente todos os dias€, conta.
Por conta disso, o estudante precisou se
afastar da faculdade e chegou a solicitar um auxílio domiciliar para acompanhar
a turma, já que suas notas ficaram prejudicadas durante o semestre letivo.
Contudo, o pedido foi negado. Segundo a faculdade, a negativa se deu porque o
auxílio é prestado somente a gestantes ou militares em situações específicas.
Ele diz que somente chegou a procurar a
polícia porque, dentro da faculdade, não teve suporte de coordenadores ou
professores. De acordo com eles, tudo o que diziam é que os alunos devem ter o
direito de se expressar livremente. Por conta disso, foi à polícia pedir que
aqueles que o ofenderam façam uma retratação.
Posicionamento da Fatepi/Faespi
De acordo com Thiago Carcará, coordenador do
Curso de Direito da faculdade, a instituição tem ciência do problema e já conversou
com o estudante e com o outro aluno acusado das principais condutas discriminatórias
contra ele. Thiago diz acreditar que o posicionamento não é direcionado a ele,
pois o aluno acusado tem posicionamentos fortes diante de diversos temas
abordados em sala.
€œEle costuma ter opiniões firmes sobre
assuntos como feminismo e homossexualidade, mas nós não acreditamos que haja
ataques direcionados. Quando o aluno relacionou homossexualidade e pedofilia,
promovemos uma palestra para explicar toda essa questão do ponto de vista
jurídico, explicando exatamente porque esses temas não estão relacionados€,
disse o coordenador.
Thiago disse que a faculdade recebeu um
ofício policial solicitando a produção de um relatório acerca da situação entre
os alunos, para que se possa dar início, ou não, a uma investigação. De acordo
com ele, os fatos relatados foram encaminhados à delegacia de polícia e a
instituição está aberta a novas solicitações tanto do estudante quanto da polícia ou
da imprensa.
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