Em 2012, o diagnóstico de
câncer de mama que Flávia
Flores recebera não mudaria
apenas a sua vida, mas de milhares de mulheres. O choque que a informação trouxe
em um primeiro momento,
não durou por muito tempo,
mas se tornou um trampolim
para algo maior – e melhor -
que viria a surgir. Flávia pôs
em prática um projeto inovador voltado a levantar a
autoestima das mulheres que
passavam por tratamento de
combate ao câncer, o Quimioterapia e Beleza.
A ideia já alcançou 27 estados e mais de 100 mil seguidores na página do Facebook, plataforma usada para
divulgar as ações realizadas
pelo projeto e contar histórias de mulheres que, assim
como ela, acreditam na superação da doença sem perder a
autoestima.
A ex-modelo e sobrevivente Flávia Flores pôs em prática o "Quimioterapia e Beleza" (Foto: Arquivo Pessoal)
“É muito gratificante saber
que conseguir ajudar tantas
mulheres e muitas famílias a
passarem melhor pelo tratamento”, confessa. No início,
após ouvir que o que fazia era
futilidade, Flávia uniu forças
para mostrar que a manutenção da autoestima e do auto
astral eram fundamentais durante o processo de cura.
A grande lição passada
pelo projeto, diariamente, é
justamente essa: o estado de
espírito é essencial no combate à doença. Sentir-se bela
e feminina importa muito na
qualidade de vida e recuperação das pacientes.
“Foi muito bom não ter ouvido as pessoas que falaram
essas besteiras, mas temos
que dar um desconto porque
as pessoas não passam por
isso, não sabem o que falam.
Qualquer paciente que vê meu
trabalho, sabe que não é futilidade, e que são dicas para
elas passarem melhor pelo tratamento. Eu me sinto muito
abençoada de fazer esse trabalho e deixar esse legado. Depois de mim também vieram
muitas meninas que seguiram
meu exemplo e fizeram páginas”, destaca Flávia.
Ela, mais que ninguém,
sabe o quanto o apoio durante o tratamento é essencial. E
como um símbolo desse processo de cura, a ideia de criar
um Banco de Lenços oportunizou que mais mulheres pudessem ser alcançadas com
as informações da importância da autoestima e qualidade
de vida.
Para quem acompanha alguém em tratamento de câncer, Flávia orienta participação e incentivo à vida. “A
pessoa tem que ficar próxima
da paciente, tem que entender o que ela está passando
para poder ajudar. Se ela está
aberta para receber visitas, é
legal fazer um Chá de Lenços.
A ideia é um evento promovido pela paciente para reunir amigas e oferecer um chá
em casa, assim que a doença
for diagnosticada, antes mesmo do início do tratamento.
Em troca, as convidadas presenteiam a anfitriã com acessórios que irão valorizar sua
beleza. Perucas, turbantes,
maquiagens, lenços. Desde
que coloquei a ideia do chá,
no meu livro, centenas de
pessoas já compartilharam
comigo fotos e relatos sobre
o sucesso de cada encontro.
E viver o mais normalmente
possível, não ficar trancada
em casa. Deixá-la se sentir
viva, isso é o mais importante”, afirma.
Hoje, superada a quimioterapia e radioterapia, Flávia
continua falando com suas
milhares de seguidoras, chamadas carinhosamente de
'Cats', no Brasil e no exterior,
sobre as dificuldades e o lado
positivo do processo.
“Meu objetivo é fazer com
que as pacientes que lutam
contra o câncer passem melhor pelo tratamento, e que
elas não vejam o tratamento
como um bicho de 7 cabeças.
Temos vontade de expandir
também - em 2012, quando
fiz a pesquisa e não tinha
ninguém falando sobre quimioterapia e beleza, vi que
não tinha ninguém fazendo
isso no mundo todo. Agora
como comecei aqui no Brasil, tenho vontade de fazer o
mesmo no resto do mundo”,
finaliza.
Empresária compartilha experiência de uso de lenços
A empresária e consultora de
moda Ana Cristina Carvalho
sempre foi antenada com o universo da moda. Manter-se atenta as composições de roupas e
acessórios; novas tendências
de vestuário e efervescência do
mercado da moda nunca foram
problema. Mas foi a partir de
um diagnóstico médico, que
ela viu seu conhecimento sobre
a área ganhar funções também
terapêuticas.
As mulheres que participaram da atividade aprendiam a utilizar lenços de diferentes formas
Após passar por uma cirurgia de retirada de um tumor na
cabeça e, por conta do procedimento, ter que raspar parte
do cabelo, Ana adotou o lenço
como uma forma de manter-se
bem com a própria aparência.
Posteriormente, viu que a experiência também poderia contribuir com a vida de mulheres
em tratamento de câncer.
“É um momento para mulher
muito delicado, ver o cabelo
cair não é fácil. Muita gente
não entende, mas acho que
principalmente para a mulher,
o cabelo é como se fosse uma
moldura, um complemento do
corpo. Depois do que eu passei,
fui convidada a dar um workshop de lenços para mulheres
em tratamento de câncer e foi
um momento único”, comenta.
As mulheres que participaram da atividade aprendiam
a utilizar lenços de diferentes
formas, tamanhos e cores. Uma
capacitação que vai além do
ensinar técnicas, mas encontrar
motivos para continuar acreditando na autoestima e na força
da recuperação.
“Ver os olhos de cada uma
brilhando enquanto aprendiam
as técnicas de usar o lenço foi
incrível. Lembrei muito do que
eu passei. Manter a autoestima
e a confiança é fundamental em
um processo de recuperação”,
analisa Ana Cristina.
Por: Glenda Uchôa - Jornal O DIA