Segundo dados divulgados pela Secretaria Estadual de Fazenda (Sefaz), de janeiro a junho os piauienses consumiram menos gasolina. A estimativa é de que a redução no consumo do combustível no Estado tenha sido de 22,5% somente no mês de junho. Um balanço feito pelo Sindicato dos Donos dos Postos de Combustíveis do Piauí (Sindipetro) aponta redução também na venda de outros combustíveis. Ao todo, a venda nos postos reduziu em 20% no mês passado, incluindo gasolina, diesel e etanol.
Para o Sindipetro, a redução no consumo está associada à desaceleração da economia. É o que explica o presidente do Sindipetro, Alexandre Cavalcante. Segundo ele, o combustível é um dos dois indicativos usados para medir a economia. “Quando a gente vê o nosso setor perder muita venda é um sinal de que a economia está desaquecida. Ou seja, tem pouca trabalhando e se deslocando na cidade”, esclarece.
A estimativa é de que a redução no consumo do combustível no Estado tenha sido de 22,5% somente no mês de junho. (Foto: Arquivo O Dia)
Apesar da diminuição das vendas, o presidente do Sindipetro afirma que os donos de postos de combustível estão com “as mãos atadas”, pois não há o que a categoria possa fazer para reverter a situação. “Não tem há o que fazer porque combustível ninguém usa sem necessidade. Se não há demanda, não há o que fazer para gerar essa demanda”, diz, acrescentando que, para o Sindipetro, a queda no consumo não está relacionada ao valor pelo qual o combustível é vendido ao consumidor final.
Já o economista Ricardo Alaggio garante que o preço pelo qual o combustível é vendido, em especial os altos tributos taxados ao consumidor, influencia na queda do consumo. Para ele, apesar das sucessivas reduções no valor durante o mês de junho, o pagamento de impostos como ICMS, PIS/PAsep e Cofins, e CIDE, interferem no poder de compra do consumidor. Atualmente, a média de preços da gasolina na Capital é de R$ 4,30.
Além disso, o economista enfatiza que as altas taxas de desemprego aliadas à crise econômica também podem afetar o consumo. “Temos que entender que estamos no auge da crise no Piauí. O Piauí é o último estado a sair da crise. O desemprego está muito alto, a taxa de ocupação é a mais baixa dos últimos 20 anos. O Estado não está pagando as pessoas, a Universidade Federal está demitindo, as empresas estão fechando. Tudo isso pode impactar nesse consumo e em outros”, analisa.
Para o economista Ricardo Alaggio o preço pelo qual o combustível é vendido influencia na queda do consumo. (Foto: Arquivo O Dia)
A situação é considerada desafiadora para o Estado, já que o setor representa ¼ da arrecadação. Segundo os cálculos do economista Ricardo Alaggio, a queda no consumo representa uma redução de 5% das receitas próprias do Estado, ou seja, receitas geradas dentro do Estado por meio de tributos como ICMS, IPVA e impostos menores, e 2,5% das receitas totais, o que inclui toda a arrecadação do estado, incluindo tributos internos e transferências constitucionais como o Fundo de Participação Estadual (FPE).
Em entrevista, o secretário de Fazenda, Rafael Fonteles, informou que, além da redução do consumo de combustível, o Estado também verificou a queda no consumo de gás de cozinha e querosene de aviação, que tiveram retração no consumo de 0,75% e 18,71%, respectivamente. O secretário argumenta que um dos fatores predominantes para a queda nas vendas é a estagnação do salário mínimo. “O salário não tem tido aumento e isso repercute, porque quando você tem um aumento da despesa e o salário não aumenta, o próprio consumidor perde o poder de compra e isso faz com que o consumo diminua”, afirma.
Segundo Rafael Fonteles, o Estado também verificou a queda no consumo de gás de cozinha e querosene de aviação. (Foto: Arquivo O Dia)
Enquanto isso, o consumidor busca alternativas para continuar abastecendo e se deslocando por meio de veículos próprios. É o caso da maquiadora Yasmin Miranda. A profissional utiliza o próprio veículo para atender as suas clientes em Teresina e, devido ao aumento do combustível, optou por cobrar uma taxa de deslocamento para continuar exercendo suas atividades sem ter prejuízo.
“Os meus atendimentos a domicílio eu cobro uma taxa de deslocamento que varia de R$ 40 a R$ 50, dependendo da localização, esse valor da taxa é como se fosse uma ida e volta por um aplicativo de transporte. Também ofereço desconto para que venham ao estúdio, então as clientes preferem vir”, afirma.
A maquiadora finaliza afirmando que o impacto do combustível é grande para o consumidor, em especial quem precisa utilizar o veículo para o trabalho. “O aumento do preço da gasolina foi bem impactante e não tem como não repassar para quem vai consumir o produto, então quem quer o atendimento em casa, precisa pagar pelo deslocamento”, finaliza.
Por: Nathalia Amaral