Representantes da Cepisa Equatorial, concessionária dos serviços de geração e distribuição de energia elétrica no Piauí, estiveram na manhã de hoje (16) na Assembleia Legislativa para discutir com parlamentares a situação financeira da empresa. Durante o encontro, o presidente da empresa, Nonato Castro, revelou que as dívidas dos clientes piauienses para com a Cepisa somam um montante de R$ 855 milhões. Este é basicamente o valor que deixa de ser recebido pela concessionária com as contas em atraso.
Segundo ele, 65% desse valor são contas atrasadas de unidades consumidoras localizadas em Teresina e existem clientes que possuem até 88 talões em atraso e que não comparecem nos balcões de negociação para rever a dívida. Só no começo de 2019, a Cepisa Equatorial deixou de receber R$ 54 milhões em arrecadação e isso se deve, principalmente, às ligações irregulares e desvio de energia por parte de unidades consumidoras que já estão em débito com a empresa.
Nonato Castro falou a parlamentares na Alepi - Foto: Ascom
“Este ano, nós vamos pagar R$ 1,034 bilhões de dívidas da Cepisa. Se deixarmos esses R$ 855 milhões para lá, vai prejudicar ainda mais a empresa e ela não se sustenta. Temos que negociar isso, não podemos deixar de receber, porque se não fica totalmente inviável”, pontuou Nonato Castro.
Os números apresentados por ele revelam ainda que os danos elétricos na rede de distribuição aumentaram em quase R$ 1 milhão, devido aos desvios, grampos inadequados e instalação incorreta de equipamentos. Nos finais de semana, equipes da Cepisa Equatorial têm feito vistorias nos bairros para detectar os gatos na rede, desinstalá-los e fazer o recorte da unidade consumidora em débito.
São medidas que, segundo o presidente, garantem não só a correta arrecadação, como também evitam riscos à vida. Isto porque quando alguém religa a rede elétrica clandestinamente, utiliza equipamentos incompatíveis. “O gateiro não coloca conector. Ele amarra o fio e com o tempo ele se solta. Temos que normalizar a rede por questão de risco, evitar a queima de aparelhos e a oscilação de tensão em casa”, explicou Nonato Castro.
Foto: Ascom
Tributos também pesam
Outro fator que, segundo o presidente, contribui para a situação financeira deficitária da Cepisa são os tributos cobrados na conta de luz e o pouco retorno que o pagamento do talão de luz dá à empresa. É que do total pago pelo consumidor mensalmente, só 17,3% ficam com a concessionária de energia. Cerca de 41% do valor são tributos e encargos financeiros. Nonato deu um exemplo prático: de uma conta de luz no valor de R$ 704,00, somente R$ 120 vão para a conta da Cepisa.
“Nossa arrecadação por mês está baixa e todo dia 20 ainda temos que pagar de R$ 70 a 80 milhões de energia, porque toda concessionária, ela compra energia elétrica para poder funcionar. Tem é que desonerar a conta de luz”, afirmou o presidente da Cepisa.
Nonato Castro, presidente da Cepisa Equatorial - Foto: Jailson Soares/O Dia
Empresa fez demissões e deputada cobra cumprimento de acordo
Uma das saídas encontradas pela Cepisa para poder se adequar às demandas e enxugar os gastos foi desligar funcionários. A empresa já abiu um Programa de Demissão Voluntária no começo do ano e recentemente esteve nas principais manchetes após denúncia do Sindicato dos Urbanitários de que a instituição estaria pretendendo demitir mais 400 funcionários.
Quando assumiu os serviços de geração e distribuição de energia no Piauí, a Cepisa Equatorial contava com 2.400 funcionários. Hoje seu quadro é formado por 1.200 pessoas. Nonato Castro justifica essa redução dizendo que a empresa contava com muitos funcionários aposentados, mas que ainda prestavam serviços. Ele não mencionou mais demissões, mas reiterou que a empresa agora é uma organização privada, que não faz concurso e que tem que ter uma folha de pagamento adequada para seu tamanho e para sua necessidade.
A deputada Flora Izabel (PT) fez críticas à política de corte de gastos por meio de demissões da Cepisa Equatorial e falou que a empresa não está cumprindo o acordo que firmou quando venceu o leilão de privatização da extinta Eletrobras. De acordo com a parlamentar, só em 2018, foram desligados dos quadros da Cepisa em torno de 950 pessoas e ainda há previsão de demitir mais 400.
A deputada Flora Izabel critico a política de demissões da Cepisa - Foto: O Dia
“A empresa está furando o contrato que foi feito. Porque pelo contrato, eles comprariam a empresa, gerariam desenvolvimento para o Piauí e diminuiriam a tarifa, mas os piauienses estão vendo é o preço aumentar sistematicamente. Já subiu em torno de 12,80% em um ano. Então não podemos aceitar isso”, destacou Flora Izabel.
A deputada mencionou ainda a questão dos concursados da Eletrobras que, segundo ela, não poderiam ter sido demitidos, mesmo a Equatorial sendo uma empresa privada. “Eles passaram em um concurso, deixaram seus outros empregos para assumir função na Eletrobras com todas as garantias e seguranças que um profissional concursado possui, com a certeza de que não poderiam ser demitidos, e hoje não tem acordo nenhum”, finalizou
Sobre o assunto, o presidente da Cepisa limitou-se apenas a falar que a empresa está tentando se adequar à realidade do estado. “Estamos conhecendo o Piauí para ter uma dimensão de como trabalhar bem aqui”.
Por: Maria Clara Estrêla, com informações de Breno Cavalcante