Desistências e população sem
atendimento básico. Tem sido esta a realidade do programa Mais Médicos no Piauí
e o cenário aqui não é tão diferente do que se observa a nível nacional. O
Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (04) que 1.052 profissionais
deixaram o programa só nos três primeiros meses do ano. No mesmo período, aqui
no Piauí, 40 desistiram das vagas que já haviam preenchido, sendo que 33 deles vieram
para o Estado especialmente para substituir os médicos cubanos.
A informação foi repassada pela coordenadora estadual do Mais Médicos no Piauí, Idivani Braga. “Foram 40 desistências de janeiro até março, mas nós já tínhamos outras 32 vagas abertas antes mesmo dos cubanos anunciarem que deixariam o programa. Com a saída deles, esse número se agravou”, explica Idivani.
O Piauí contava, ao todo, com 199 médicos cubanos atuando em 132 municípios até dezembro do ano passado. Após a saída destes profissionais, o Estado só conseguiu substituir 197, ou seja, ficaram ainda três vagas desocupadas. Elas se somaram às 32 que já estavam vazias antes e agora se juntam com as 40 desistências registradas só este ano. Ou seja, são pelo menos 75 vagas em aberto no Mais Médicos em todo o Piauí.
Foto: Karina Zambrana /ASCOM/MS
Com a ausência desses profissionais, pelo menos 48 municípios ficaram desassistidos na atenção básica à saúde. As cidades da região Norte do Estado são as que mais sofreram com a saída dos 33 médicos que vieram para trabalhar no lugar dos cubanos. “Nós temos a região de Cocal desassistida, temos Campo Maior, Esperantina, José de Freitas. São municípios aonde os médicos brasileiros primeiro chegaram e foram justamente os que primeiro desistiram. Recebemos recentemente médicos para a região Centro-Sul, mas lá o número de desistências foi menor”, explica a coordenadora.
Um dos motivos que, segundo ela, justificam a desistência do trabalho é o fato da dificuldade que os médicos com CRM Brasil – formados aqui no país – têm de se fixar na atenção básica. “Eles estão sempre à procura de um emprego a mais, de uma fonte de renda a mais e a maioria dos que saíram agora, o fizeram para cursar a residência médica. São profissionais que se inscreveram no programa, que assumiram o posto, mas que também estavam inscritos na residência, foram aprovados lá e abandonaram o Mais Médicos”, discorre.
A coordenadora estadual do programa diz que, a nível local, não se pode fazer muito para que esse déficit nos atendimentos seja sanado, uma vez que todas as ações do programa são regidas pelo Governo Federal. O que pode ser feito no momento, segundo Idivani, é aguardar as diretrizes do Ministério da Saúde. “O Mais Médicos tem uma credibilidade muito grande entre especialistas e usuários e o Ministério da Saúde está fazendo uma avaliação para possível reformulação do programa. Existem muitos profissionais brasileiros formados no exterior que podem assumir essas vagas abandonadas pelos CRM Brasil. Não sabemos que mudanças serão feitas, mas vamos aguardar este mês de abril e ver quais os próximos passos”, finaliza Idivani.
Por: Maria Clara Estrêla