As festas juninas são um espetáculo de tradição, cores e sabores que celebram as raízes culturais brasileiras. Esses eventos, que ocorrem durante todo o mês de junho, têm suas origens enraizadas nas festividades religiosas e populares, os santos católicos Santo Antônio, São João e São Pedro.
O ponto alto das festas juninas é as quadrilhas juninas, com suas danças marcadas por passos coreografados, músicas animadas e figurinos típicos que remetem ao ambiente rural. As quadrilhas não só proporcionam diversão, mas também preservam tradições ancestrais, passadas de geração em geração.
Além das danças, as festas juninas também são conhecidas pelas comidas típicas, como o milho cozido, a canjica, o pé-de-moleque e a pamonha. Já as fogueiras iluminam as noites de junho, simbolizando o calor e a união das comunidades, promovendo a aproximação entre famílias e a alegria que toma conta dos brincantes, contagiando a todos.
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João Rodrigues, presidente da Federação das Quadrilhas Juninas do Piauí (Fequajupi), comenta que as festas juninas não são apenas celebrações sazonais, mas, sim, manifestações culturais que enaltecem a identidade e o folclore brasileiros, mantendo viva a herança do povo nordestino.
“O São João tem uma grande importância. Não se trata apenas de uma festa, é uma tradição que oportuniza reunir amigos e familiares. Todos se reúnem para fazer uma fogueira, se encontrar, dançar. Esse é um movimento familiar. A Campanha da Fraternidade deste ano nos homenageou, retratando exatamente esse movimento que é muito familiar”, cita.
O presidente lembra ainda que esse período junino movimenta a economia devido uma extensa cadeia produtiva, que engloba vestuário, acessórios, confecção das roupas utilizada pelas quadrilhas juninas, além da música e da gastronomia. “Essa data promove o calor humano, a união e a troca familiar. Muitas pessoas aguardam ansiosas a chegada desse período. Não é um evento de apenas alguns dias, é uma festa que dura um mês inteiro, com diversos santos sendo homenageados em festas católicas”, acrescenta João Rodrigues.
Trabalho e investimentos
Os grupos juninos piauienses estão a todo vapor para o São João 2024. Os preparativos iniciaram ainda em setembro de 2023, quando, em outubro do ano passado, as quadrilhas juninas começaram os processos de escolha do tema e execução dos planejamentos. Para alguns grupos, as apresentações já estão acontecendo, outros estão em contagem regressiva para entrarem nas quadras.
“A perspectiva do São João do Piauí 2024 é a melhor possível, pois hoje somos considerados uma grande potência em quadrilha junina. Nos últimos dois anos, conseguimos ganhar tudo que competimos. Atualmente, temos os melhores e maiores grupos do Brasil e o Piauí é referência em quadrilha junina do país”, enfatiza João Rodrigues.
Atualmente, há 77 grupos juninos filiados à Fequajupi, entretanto, segundo o presidente da Federação, em todos os 224 municípios piauienses têm, pelo menos, uma quadrilha junina, logo, pode-se considerar que são mais de 200 quadrilhas no Piauí. Para que as quadrilhas juninas aconteçam, é preciso investimento e incentivo. “Temos um ‘Top 12 de quadrilhas junina’ que se destaca no cenário junino nacional e faz investimento alto, iniciando a partir de R$ 100 mil e podendo chegar até R$ 1,5 milhão. Os recursos são provenientes de incentivos federais, através da Lei Rouanet, estaduais, por meio dos editais, e municipal, além da iniciativa privada”, explica o presidente da Fequajupi.
As quadrilhas juninas piauienses começaram a se apresentar esta semana e o ciclo junino deve encerrar na segunda quinzena de agosto. Até lá, muitas apresentações acontecerão, até a chegada da etapa Nacional. Os grupos aguardam ansiosos pela etapa Estadual, que acontece de 02 a 05 de julho, reunindo 60 grupos juninos de todo o Piauí.
“Esse é o festival dos sonhos para as quadrilhas juninas. A campeã do Estadual vai representar o Piauí no Nordestão, que ocorrerá em Teresina, no dia 06 de julho, com a presença dos campões de cada estado do Nordeste, e o Nacional, que ocorrerá em Brasília, dos dia 27 e 28 de julho, com representantes de todos os estados brasileiros”, ressalta João Rodrigues, presidente da Fequajupi.
Dedicação dos integrantes
As tradições juninas sempre estiveram presentes da vida de Larissa Almeida, professora de dança e bailarina do balé Folclórico do Piauí. Há 14 anos, ela imergiu nesse universo junino, ao fazer parte de uma quadrilha junina. Desses, 11 anos foram dedicados ao posto de Rainha, sendo uma década dedicada à sua quadrilha do coração, a Lua de Prata.
Mesmo experiente, Larissa Almeida conta que a cada ano é uma nova emoção e um desafio, afinal, são novas coreografias para aprender e um novo tema a representar. Ao longo dos meses de preparação, os integrantes precisam renunciar a suas rotinas para conseguir ensaiar e deixar todos os detalhes alinhados para as apresentações, que iniciam em junho.
“As quadrilhas começam a se preparar bem cedo, muitas iniciaram ainda no ano passado. Minha quadrilha começou a se preparar em janeiro desde ano, com o lançamento das inscrições e início dos ensaios. É um período de muita dedicação, pois abdicamos de muitas coisas para estarmos nos ensaios, nós preparando para o circuito junino. Nossos ensaios são à noite e entrando pela madrugada, já que nos demais horários todos os integrantes têm outras atividades durante o dia. Os ensaios, inicialmente, eram aos domingos, depois passou a ser três vezes na semana e no mês de maio passaram a ser todos os dias, das 21h30 à 1h30”, conta a dançarina.
A quadrilha Lua de Prata é composta, em média, por 150 pessoas, que colaboram direta e indiretamente. Dentre essas pessoas estão dançarinos, músicos, figurinistas, costureiros, coreografia, fotógrafo, produção, maquiador, entre outros. Essa costuma ser a configuração de muitos grupos do Piauí. A maioria das funções são ocupadas também pelos próprios dançarinos do grupo.“O noivo da quadrilha, por exemplo, é o figurinista, tem dançarino que costura e também maquia. Então, acaba que essas atividades possibilitam novas profissões, gerando uma renda extra para esse dançarino”, cita Larissa Almeida.
A criação do figurino é feita conforme a temática escolhida. Na apresentação do tema, o projetista apresenta ao grupo uma ideia de figurino, no qual todos os detalhes serão decididos pela diretoria. Depois disso é feito um protótipo, passando por outra análise da diretoria. Quando todos os detalhes são definidos, é hora de apresentar o figurino aos integrantes do grupo. “Esse é um dos momentos mais esperado pelos dançarinos, pois o figurino também é um quesito avaliativo”, ressalta a Rainha da Lua de Prata. Para a Larissa Almeida, dançar em uma quadrilha junina é uma grande responsabilidade.
“Não é uma brincadeira, tem muita gente que ainda dança por entretenimento, mas muitos veem as quadrilhas como um local para crescer profissionalmente. As quadrilhas abriram muitas portas para mim. Conquistei muita coisa na minha área através nas quadrilhas. Pude escrever um livro que conta a história da minha quadrilha, sendo o primeiro livro de quadrilha junina do Piauí. Também pude ingressar no programa de pós-graduação em dança, mestrado, na UFBA, onde pesquiso sobre o movimento quadrilheiro da região metropolitana de Teresina. Então, para além do amor e questões afetivas que tenho pelas quadrilhas juninas, essa dança potencializa o meu fazer artístico e profissional”, conclui.
Tradição que enaltece a fartura do homem do campo
“São João, acende a fogueira do meu coração”. A clássica música junina virou tema da campanha da Caminhada da Fraternidade 2024, da Arquidiocese de Teresina. A temática faz alusão a essa data festiva que enaltece a fartura do homem do campo, mas também a união da família e a partilha. O padre José Nery, pároco da Catedral de Nossa Senhora das Dores, lembra que o mês de junho, para os nordestinos, é um mês de festividade, de encontro e de confraternização.
“É um mês que os agricultores estão encerrando suas colheitas, colhendo o milho, o feijão novo, a abóbora, quando as pessoas aproveitam para visitar os outros, e isso se tornou um costume, uma festa, quando cada um faz suas as comidas típicas da região. Junho se tornou um mês festivo e de partilha com os demais. É a fartura do homem do campo, um agradecimento, pois a gente só faz festividade quando está grato e feliz, e isso se tornou tradição para todo o Nordeste, ultrapassando os divisas e chegando a todos os estados, tornando-se uma festa universal”, destaca.
E as festas juninas possui símbolos representativos desta época, como a fogueira, que, em um contexto bíblico e pela tradição, remete ao momento em que Maria e José foram visitar Zacarias e Isabel, na região das montanhas. “Para saberem que João Batista nasceu, foi feita uma fogueira e cada vizinho foi fazendo uma também até chegar em Maria e José. Então, a fogueira é anúncio da chegada de uma grande alegria. Hoje não é mais tão tradicional, mas no interior ainda se mantém isso, de fazer uma fogueira como expressão de alegria, anunciando algo. As pessoas ficam em volta da fogueira para assar a batata, pular fogueira, se aquecer, conversar e ficarem entrelaçadas”, pontua o padre.
Os alimentos comuns desta época, como o milho, a abóbora, a macaxeira e a batata doce, representam a fartura e a comunhão. Já os balões remetem às brincadeiras de criança, que produziam seus próprios balões e os faziam subir aos céus, clareando a noite.
Antônio, João e Pedro, os santos homenageados
Santo Antônio, São João e São Pedro são três dos santos mais venerados e celebrados durante as festas juninas no Brasil, representando pilares importantes da tradição católica e cultural do país.
Santo Antônio, conhecido como o "Santo Casamenteiro", é lembrado por sua devoção à caridade e aos pobres. É comum que as pessoas recorram a ele em busca de ajuda para encontrar um parceiro ou solucionar problemas relacionados ao amor e ao casamento. Em Campo Maior há um dos maiores festejos do estado, reunindo centenas de fiéis e devotos.
São João, por sua vez, é considerado o padroeiro das festas juninas e é celebrado com grande alegria e entusiasmo. Sua festa coincide com o solstício de inverno, marcando o momento de maior luminosidade do ano, o que explica a tradição das fogueiras durante as comemorações.
Já São Pedro é reconhecido como o porteiro do céu e é frequentemente representado com as chaves em mãos. Ele é invocado para proteção e para as bênçãos relacionadas à pesca e à segurança dos pescadores.
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