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No Piauí, 53,7% da violência contra mulher é praticada por parceiro íntimo

Pesquisadores da UFPI fizeram um levantamento com dados nacionais e estudo pode ajudar com políticas públicas

12/07/2020 11:27

Um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) revela que 53,7% das mulheres no Piauí que já sofreram algum tipo de violência foram agredidas por parceiros íntimos, ou seja, namorado, ex-namorado, cônjuge ou ex-cônjuge. No Brasil, a média nacional de violência sofrida por parceiro íntimo é de 62,4%. A pesquisa avaliou dados nacionais, coletados de 2011 a 2017, e que foram notificados no Sistema de Informação e Agravos de Notificação (Sinan), atualizado por profissionais de saúde que socorrem mulheres vítimas de violência ao buscarem atendimento.

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As violências física (86,6%), psicológica (53,1%) e sexual (4,8%) são as mais registradas nos serviços de saúde. Quando consideramos a violência de parceiros íntimos (VPI) em relação às outras formas de violência contra mulher, temos os seguintes dados: do total de casos notificados de agressões contra mulheres de 20 a 39 anos, 70% foram VPI; das mulheres com mais de 40 anos, 57,4% são VPI.

Pesquisa revela as principais formas de agressão sofrida pela mulher vítima de parceiro íntimo (Foto: Divulgação)

Com relação à raça/cor de pele, do total de casos notificados contra mulheres brancas, 63,6% delas foram vítima de parceiros íntimos; entre as mulheres negras (pretas ou pardas), 62,1% foram vítimas de parceiros íntimos. Outro dado que chama atenção é que, do total de casos notificados como violência sofrida por parceiro íntimo, 68,2% dos agressores haviam ingerido bebida alcoólica. Em um estudo realizado em Gana, o uso de álcool aumentou em 2,5 vezes o risco de uma mulher sofrer abuso físico ou sexual por parte do parceiro, sendo um fator de risco significativo para ocorrência de VPI.

O professor doutor Márcio Mascarenhas, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comunidade da UFPI, explica que o estudo considerou apenas os casos notificados de violência contra mulheres, com idade acima de 15 anos, cuja agressão foi praticada por um homem.

“O Piauí está em 19º lugar no ranking nacional de mulheres vítimas de agressão cometida por parceiro íntimo. Apesar dessa posição, o dado do Piauí está próximo da proporção nacional e, apesar da subnotificação, pois sabemos que nem todos os casos são procurados o serviço de saúde, esse dado comprova que há pessoas sendo vítimas de violência por parceiro íntimo e que essas mulheres procuram o serviço de saúde em busca de atendimento. Ou seja, para a mulher procurar um serviço de saúde é porque o caso de violência não é tão simples assim, seja fisicamente, psicologicamente ou às vezes sexual”, pontua o pesquisador.

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Foto ilustra violência sofrida contra mulher (Foto: Jailson Soares/ODIA)

71,3% das agressões são cometidas em casa

Os dados analisados evidenciam o predomínio do domicílio como o principal local de ocorrência da violência, onde 71,3% dos casos de violência foram cometidos no domicílio. A pesquisa demonstra que este local é o mais perigoso para as mulheres vítimas das diferentes formas de violência por parceiro íntimo, quando deveria ser um local de acolhimento e refúgio contra a violência em geral. A análise finaliza com um percentual de notificações de violência por parceiro íntimo contra mulher em seis casos para cada 10 notificações em relacionamentos heterossexuais. 

Outro dado apresentado na pesquisa é a reincidência da violência. Do total de casos notificados por violência sofrida por parceiro íntimo, 77,5% das vítimas relataram que as agressões já haviam sido realizadas em outro momento. A análise mostra a frequência da procura aos serviços de saúde pelas vítimas de violência associada à repetição e gravidade da violência em virtude de lesões físicas ou psicológicas.

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A pesquisa ainda revela que o abuso psicológico tende a ser mais negligenciado e dificilmente reconhecido, sugerindo a hipótese da existência de sub-registro de violência psicológica cometida por parceiro íntimo. Isso porque, em determinados casos, chegam aos serviços de saúde sob a forma de dores crônicas, síndrome do pânico, depressão, tentativa de suicídio e distúrbios alimentares, não sendo reconhecidos como violência

Pesquisa pode ajudar em políticas públicas

A pesquisa revela que os números de violência contra a mulher são crescentes no Brasil. De acordo com os pesquisadores, apesar da violência não ser um problema específico e exclusivo de Saúde, este é um campo privilegiado, pois é por meio deles que as mulheres vítimas de violência procuram atendimento e orientação. 

“A pesquisa, além de trazer o problema à tona, comprovar que ele existe e que as vítimas procurar o serviço de saúde, traz luz para esse problemática, para que o poder público e as entidades, como Saúde e Jurídico, se sensibilizem e providenciem elaborações de políticas públicas para combater e enfrentar essa situação. Seja na melhoria do atendimento a essas mulheres, seja políticas de ação para uma maior vigilância, com mais espaço para as vítimas procurarem a Justiça e que esta forneça uma atenção legal para essas vítimas”, completa o professor Márcio Mascarenhas.

O projeto teve um trabalho coletivo realizado pelo Prof. Dr. Márcio Dênis Medeiros Mascarenhas e a Profa. Dra. Malvina Thais Pacheco Rodrigues (ambos do Programa de Pós-graduação em Saúde e Comunidade); Gabriela Rodrigues Tomaz e Gabriel Medina Sobreira de Meneses (discentes do Curso de Medicina e bolsistas do Pibic); e Vinícius Oliveira de Moura Pereira e Rafael Bello Corassa (pesquisadores do Ministério da Saúde).

Por: Isabela Lopes
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