O número de óbitos causados pela covid-19 no Piauí voltou a aumentar no mês de outubro depois de cinco meses em queda. É isto o que mostra o levantamento feito pelo Núcleo de Estudos em Saúde Pública da UFPI (NESP) junto à Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi). Desde abri que o estado não registrava alta nos casos.
Naquele mês, o Piauí atingiu o pico da segunda onda da pandemia, com 1.061 mortes decorrentes do coronavírus. Esse número caiu para 575 em maio, depois para 431 em junho, 205 em julho, 112 em agosto, até chegar a 64 óbitos em setembro, o menor patamar do ano. No entanto, em outubro, os números voltaram a subir e o Piauí fechou o mês com 88 mortes por covid contabilizadas. O acréscimo foi de 37,50% em relação ao mês anterior.
Esse aumento no número de óbitos foi maior entre aqueles com mais de 80 anos: esta parcela da população contabilizou 22 mortes em setembro e 39 em outubro. Do total de mortes de outubro, 44,32% foram de pessoas de 80 anos ou mais; 26,14% foram de pessoas entre 70 e 79 anos; 13,64% tinham entre 60 e 69 anos; e 4,55% tinham entre 50 e 59 anos. A população entre 40 e 49 anos respondeu por 6,89% e a entre 30 e 39 anos respondeu por 3,41%.
Foto: Reprodução/Sesapi
Esse leve aumento no número de óbitos por covid no Piauí tem uma explicação multifatorial. Para o professor Emídio Matos, doutor em Biomedicina e membro do NESP, a falta de monitoramento por parte daqueles setores que vêm sendo flexibilizados é um dos fatores que mais contribui para essa alta de mortes.
“Quando a gente percebe, o problema já está generalizado. Outro ponto é que as pessoas estão abandonando as medidas não farmacológicas, o uso correto de máscara, o distanciamento físico e a higienização frequentes das mãos. Soma-se também o fato de as vacinas perderem a taxa de eficácia depois de cinco meses, sobretudo quando isso é associado à imunossenescência dos idosos”, explica Emídio.
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Por imunossenesência ele se refere à perda natural de atividade imunológica por parte dos idosos, cujas células já estão mais envelhecidas. Segundo Emídio, isto explicaria a taxa de óbitos tem subido maior na parcela da população com 80 anos ou mais.
O representante do Núcleo de Estudos da UFPI destaca também o baixo retorno da população para a segunda dose da vacina contra a covid-19. Preocupa ainda mais a situação daqueles que vivem em área periféricas dos grandes centros urbanos, cujo acesso à vacina é mais difícil e as políticas de saneamento ainda se encontram aquém do ideal.
“Junto com a crise sanitária, a gente está vivendo uma profunda crise social. A parte da população mais periféricas não tem as mesmas condições de acesso à vacina. Se formos olhar para Teresina, a população que menos está retornando para a segunda dose é a mais periférica. Os gestores precisam pensar em estratégias que deem de fato condições a essa população de se vacinar com a segunda dose e a dose de reforço”, finaliza Emídio.
Emídio Matos faz parte do Núcleo de Pesquisas em Saúde Pública da UFPI - Foto: Assis Fernandes/O Dia
Governo fez apelo
No início desta semana, em entrevista à reportagem de O Dia, a governador em exercício do Piauí, Regina Sousa, pontuou que cerca de 194 mil pessoas ainda não retornaram para receber a segunda dose das vacinas contra a covid-19. Esse é um dos fatores que coloca o estado em uma situação ainda desfavorável à flexibilização do uso da máscara, como já fez o vizinho Maranhão, por exemplo.
Regina Sousa fez um apelo à população que compareça aos postos de saúde para se vacinar, sobretudo aqueles moradores de cidades menores, onde a doença pode se alastrar mais rapidamente. A governadora pediu aos gestores que façam busca ativa por aqueles que ainda não completaram o esquema vacinal e que, se for preciso, que as equipes de saúde da família se desloquem até localidades mais distantes para garantir que este público seja vacinado.