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Pandemia dificulta diagnóstico de câncer de mama e casos devem aumentar no Piauí

Com o acesso à rede de saúde prejudicado, tumores podem ser diagnosticados em estado avançado

02/10/2021 08:45

A pandemia do novo coronavírus tem dificultado o diagnóstico e o tratamento de câncer de mama. Resultado disso é o já esperado aumento de novos casos, um quadro de saúde pública preocupante para o Piauí, que deve registrar mais de 700 diagnósticos da doença. A avaliação é do médico mastologista Luiz Ayrton, fundador e presidente da Fundação Maria Carvalho Santos, ONG dedicada a levantar recursos para o tratamento do câncer de mama no Estado.

Segundo o médico, uma das medidas mais importantes para a detecção precoce da doença - a mamografia para mulheres com idade entre 50 e 69 anos - foi diretamente afetada pela pandemia, seja pelo medo de contrair a doença nos hospitais ou pela dificuldade de acesso ao exame.


“A pandemia impactou não só na mamografia, mas também no tratamento, acesso, o que fez com que muitos pacientes deixassem de procurar atendimento. Neste ano, a gente espera mais diagnósticos de câncer de mama do que no ano passado, além de tumores mais avançados. Os dados ainda serão divulgados que dizem respeito ao ano de 2020”, explica.


Luiz Ayrton, que também é presidente do Instituto de Mama do Piauí, ressalta que mesmo havendo aumento no número de casos todos os anos, há também crescimento no número de mulheres curadas.

“A gente percebe claramente que, mesmo havendo um aumento no número de casos todos os anos, há também aumento no número de mulheres curadas. O movimento Outubro Rosa, que sensibiliza a sociedade e gestores, traz efeitos satisfatórios. Então hoje, quando você anda em Teresina, encontra muitas mulheres com câncer, que estão curadas, enquanto que nos anos 90 mais da metade delas faleceram. O Outubro Rosa não conseguiu controlar o número de casos, mas ele impactou no que diz respeito à sobrevida. As pessoas que estão tendo, estão se curando”, pondera.

Marcado pela cor rosa, o mês de outubro é utilizado para conscientizar sobre o câncer de mama e reforça a importância da realização da mamografia como forma de diagnosticar a doença ainda no início, o que aumenta as chances de cura. Como o câncer de mama não dá sinais e nem tem sintomas, a melhor forma de diagnosticá-lo é realizando o acompanhamento contínuo. O tratamento do câncer de mama vai variar de acordo com as condições que o paciente apresenta.

Dor, diagnóstico e cura do câncer

Não tem muito tempo que a técnica de enfermagem Érica Cinara, de 34 anos, ao fazer exames de rotina, detectou um nódulo na mama esquerda. O câncer foi descoberto em junho de 2018. Mas antes disso, ela procurou ajuda médica para fazer avaliações até confirmar a doença.

“No começo foi muito angustiante, porque eu fazia exames, mas nenhum me dava o diagnóstico certo. Somente com a biópsia que saiu o resultado positivo para câncer de mama”, conta.

Desde então, Cinara passou a ser acompanhada pela mastologista e realizou exames periodicamente para rastrear qualquer anormalidade. Lidar com a doença não foi fácil, mas ela conta que foi fortalecida pelos familiares.

“Depois que você descobre câncer, parece que seu chão some. Na época, minha filha tinha 4 anos e a minha maior angústia era pensar nela, pensar como ela iria reagir durante meu tratamento porque, até então, não sabia como seriam as minhas reações em relação às quimioterapias. Minha família deu muito apoio e muitos pensamentos positivos. E isso vai fortalecendo você e lhe encorajando a seguir com o tratamento”, lembra.

Foto: Arquivo/Pessoal 

Cinara passou por 16 sessões de quimioterapia, uma mastectomia (retirada total da mama) com reconstrução, além de 25 sessões de radioterapia. Ela conta que o tratamento não é tão vilão como relatado nos filmes, por exemplo.

“Fui acompanhada pelos médicos Dr. Sabas e pela Dra. Cristiane Amaral, uma equipe maravilhosa, que até hoje sou eternamente grata e que me acolheram muito bem. Foi aí que eu vi que a quimioterapia não é tão vilã assim como a gente vê nos filmes e novelas. Que o tratamento deixa a gente muito debilitada, mas que, com a graça de Deus, dá para enfrentar e vencer. Ainda continuo em tratamento porque só faz três anos. Ainda continuo em acompanhamento até entrar em total remissão, que só acontece após cinco a dez anos”, explica.

Em maio deste ano, Cinara descobriu que sua mãe também estava com câncer de mama. Ela conta que o diagnóstico veio como um balde de água fria por ter que vivenciar tudo novamente. A mãe está fazendo quimioterapia e passará por uma cirurgia. Em seguida, concluirá com a radioterapia. O nódulo também foi descoberto no início e a resposta ao tratamento está sendo positiva.

Foto: Arquivo/Pessoal

“Foi um baque para gente da família, principalmente para mim, porque é como se estivesse vivenciando tudo de novo. E quando é com a mãe, você sente mais. Graças a Deus ela está vencendo. O nódulo foi descoberto bem no início, a resposta dela ao tratamento está sendo maravilhosa. Logo ela irá terminar e vai vencer assim como eu venci”, confia.

Junto à sua experiência com a doença, Cinara também vive o luto. Ela perdeu uma prima e uma tia para a doença. “Tive uma tia e uma prima que faleceram de câncer de mama. Minha tia, irmã da minha mãe, fez tratamento, ficou curada e, com uns dez anos, teve recidiva. Depois que terminei meu tratamento, descobrimos que minha prima também estava, mas como ela não buscou o tratamento a tempo, acabou tendo metástase e não resistiu”, finaliza.

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