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Pessoas com Down lutam para se inserir de forma produtiva na sociedade

Em busca de oportunidades de estudo e no mercado de trabalho, população com Down precisa superar estereótipos e preconceitos

25/08/2018 09:14

Tássia da Silva, de 26 anos, se apresenta com uma câmera de fotografia pendurada no pescoço e os cuidados que toma para se sentar, conversar, gesticular e deixar o objeto em segurança são muitos. É que, para ela, a máquina de fotografia não é um objeto qualquer, mas a porta de entrada para um sonho antigo: o de se inserir no mercado de trabalho como fotógrafa profissional.

 Para alcançar isso, além de superação individual, a jovem também precisa desbancar estereótipos e preconceitos na sociedade. É que Tássia tem síndrome de down e o caminho para se inserir de forma produtiva na sociedade, para esse público, não é nada fácil. A síndrome de down é um distúrbio genético que ocorre ao acaso durante a divisão celular do embrião. Esse distúrbio ocorre, em média, em 1 a cada 800 nascimentos e tem maiores chances de ocorrer em mães que engravidam quando mais velhas. O Down é um arranjo cromossômico natural e ocorre em todas as regiões do mundo; geralmente, resulta em efeitos variados nas formas de aprendizado, nas características físicas ou na saúde das pessoas. 

Pessoas com Down lutam para se inserir de forma produtiva na sociedade. (Foto: Jailson Soares/O Dia)

Na família de Tássia, ela é a única com a síndrome e sempre teve o apoio familiar para que seu desenvolvimento fosse como de qualquer outro ser humano, que recebe incentivos para se destacar nas áreas social e profissional. O interesse da jovem pela área de fotografia foi notado no seio familiar, mas a busca por querer fazer disso uma carreia veio de uma demanda da própria Tássia. “Eu tirava fotos no celular e, depois do curso, aprendi a fazer fotos na câmera. Já fiz um ensaio quando fui para um passeio durante o curso e sempre tiro foto na minha família”, explica com uma certa dificuldade para se expressar, mas pontuando com precisão cada pergunta que é feita. 

O curso a qual se refere foi realizado no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) em uma turma convencional de fotografia. Hoje, a jovem já tem domínio sobre as técnicas de fotografia e um sonho cada vez mais latente de aplicá-los na vida real. “Quero ter meu próprio estúdio e fazer ensaios. Também quero fazer fotos de casamento e família, que gosto muito”, relata. 

Além da profissionalização, a jovem também busca evoluir na educação. Tássia faz preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio e tem um objetivo claro de adentrar no ensino superior. Como qualquer jovem, tem seus sonhos, suas metas e empenha esforço para conquistar o que deseja. O que ainda falta é que a sociedade se abra de uma forma verdadeiramente inclusiva para que suas tentativas possam ser concretizadas. 

Semana contra o preconceito 

A Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla acontece, todos os anos, durante o período de 21 a 28 de agosto, ou seja, até a próxima terça-feira, instituições e a sociedade se mobilizam em prol da causa. O objetivo da Semana Nacional é abrir debates e colocar a sociedade em reflexão no dever da igualdade para inclusão. 

Com base no tema "Família e pessoa com deficiência, protagonistas na implementação das políticas públicas", a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla 2018 vem para reafirmar, no contexto desse Movimento, a importância da participação da família em todos os processos de vida de seus filhos, seja educacional, de desenvolvimento, de habilitação e reabilitação.

“Olham para ela com desprezo”, relata mãe de jovem com Down

Para Francisca de Sousa, de 69 anos, nunca vai ser fácil se deparar com a forma como as pessoas analisam as feições da filha, Daniele Sousa, de 22 anos, enquanto transitam pela cidade. Ela diz ser comum se deparar com olhares de julgamento e até atitudes mais ríspidas contra a jovem que tem síndrome de down. “As pessoas olham para ela com desprezo, isso me dá muita raiva”, confessa. 

Daniele é a mais nova de seis irmãos, mas a única que nasceu com deficiência intelectual. É uma jovem extremamente carinhosa, que articula frases com facilidade para dizer o quanto gosta de aprender coisas novas. “Adoro aprender tudo, agora, estou aprendendo a ler”, comemora enquanto espera a confirmação da mãe. 

Daniele é a filha mais nova da Dona Francisca de Sousa. (Foto: Jailson Soares/O Dia)

E é assim mesmo, com o apoio familiar que Daniele, desde criança, foi incentivada para o seu desenvolvimento físico e também intelectual. Atualmente, ela estuda em uma escola particular regular para alavancar a capacidade de leitura, que ainda é um empecilho para sua independência. “Aos três meses, coloquei ela na fisioterapia. Depois, passamos por outros centros de apoio que ajudaram no relacionamento e aprendizado dela. Minha filha é minha companheira, meu maior amor”, destaca Francisca. 

Para a mãe, há ainda um senso de proteção muito grande. Ela confessa que faz todo o acompanhamento das atividades da filha que, além dos estudos regulares, também é integrada nas atividades de capacitação do Centro de Habilitação Ana Cordeiro. “Dá um pouco de medo de como a sociedade vai receber nossos filhos, apesar da síndrome de down ser tão comum; por isso, acho que temos esse cuidado de proteger mais”, afirma Francisca. 

Leia a reportagem completa na edição deste fim de semana do Jornal O Dia.

Por: Glenda Uchôa
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