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Pessoas com transtornos mentais devem receber cuidado especial na pandemia

O quadro de saúde mental dessas pessoas pode ser agravado e levar ao suicídio.

31/08/2020 15:37

Além das pessoas que desenvolveram transtornos mentais no decorrer da pandemia, a população que já possuía histórico de doença mental também precisa de cuidados especiais. Isso porque o quadro de saúde mental dessas pessoas pode ser agravado e levar ao suicídio. O debate sobre o quadro de saúde mental das pessoas na pandemia ganha força durante o mês do Setembro Amarelo.

Foto: Reprodução/Arquivo O Dia

Segundo a psicóloga Camila Siqueira, o fato das clínicas psicológicas terem permanecido fechadas para conter a disseminação do vírus contribuiu para que muitos pacientes suspendessem o tratamento. Somente na última semana, por decreto municipal, as clínicas puderam voltar a atender os pacientes. “Os atendimentos estavam acontecendo de forma online, e ainda têm muitas pessoas inseguras em relação ao atendimento presencial, então essa assistência meio que ficou defasada”, confirma.


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A auxiliar administrativo Layla Oliveira é uma das pacientes que decidiu suspender o tratamento psicológico no início da pandemia. Ela relata que não conseguiu se adaptar ao novo modelo de consulta virtual e, por não se sentir à vontade para fazer o atendimento terapêutico em casa, optou por suspender o tratamento.

Imagem ilustrativa. Foto: Reprodução/Fotos Públicas

“Por mais que seja online, eu nunca estou sozinha e não me sinto à vontade. Saindo pra consulta eu conseguia chorar e desabafar à vontade, mas em casa tem a minha família por perto. Não dá para desabafar. Meu quarto não é à prova de som e não tem tempo pra se recompor depois que termina a sessão. É você ali e sua família ouvindo, não consigo me dar a liberdade", afirma.

A paciente relata que, no início do isolamento social, a ideia de se distanciar das pessoas parecia ser somente mais uma desculpa para não sair de casa, mas com o passar dos dias, a sensação de sufocamento causada pelo longo período em isolamento social contribuiu para a piora do seu quadro de saúde.

 "É uma montanha russa de emoções, não dá pra saber se vou acordar bem ou querendo gritar pra sair de casa"

“Se eu visse alguma amiga de longe, sem poder abraçar, já sentia um nó na garganta, depois aliviava porque elas buscam sempre fazer algo online todas juntas. É uma montanha russa de emoções, não dá pra saber se vou acordar bem ou querendo gritar pra sair de casa, só sinto que tenho sorte de ter muito apoio em meus momentos de crise, porque não é fácil vivenciar isso, pensando em si, na família e na situação do mundo”, afirma.

Para evitar que as 'crises', é importante que os familiares fiquem atentos a comportamentos de risco e aumentem os fatores de proteção. “Observar se aquele parente está se isolando mais, se está mais introspectivo, mais calado, se está mais agressivo, se está se alimentando e conseguindo dormir direito, se ele está expressando uma comunicação incoerente”, enumera a psicóloga Camila Siqueira. Além disso, grupos vulneráveis como crianças, idosos e pessoas com deficiência também devem ser observados.

Apesar disso, é importante não patologizar todos os comportamentos que aparecerem durante o isolamento social, pois, em meio à essa nova realidade, alterações de humor e comportamento são comuns. No entanto, é importante observar se esse comportamento está comprometendo a rotina de trabalho ou até mesmo pessoal, como a alimentação, o sono e a higiene pessoal.

Nos casos em que for observado que o quadro de saúde mental está impedindo a rotina diária, é importante procurar ajuda especializada por meio de atendimento psicológico ou psiquiátrico. 

"O atendimento especializado vai ter uma escuta mais qualificada, vai ter um diagnóstico, pra realmente identificar se você precisa de um acompanhamento"

“O atendimento especializado é fundamental, porque você precisa reconhecer que tem essa dificuldade e o atendimento especializado vai ter uma escuta mais qualificada, vai ter um diagnóstico, pra realmente identificar se você precisa de um acompanhamento mais aprofundado ou se não”, finaliza a psicóloga Camila Siqueira.

Setembro Amarelo

São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Sobre os fatores de risco, em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.

A psicóloga Camila Siqueira afirma que uma das dificuldades encontradas no combate e prevenção ao suicídio se dá pelo fato de que não há uma causa única, elementos como transtornos psiquiátricos ou dificuldades enfrentadas durante a vida podem contribuir para o aumento nos casos. Do mesmo modo, os fatores elencados anteriormente, relacionados à pandemia, também podem contribuir para o aumento nos casos de suicídio.

Outros fatores que aumentam o risco de suicídio devem ser observados, como abuso sexual na infância, alta recente de internação psiquiátrica, doenças incapacitantes, impulsividade ou agressividade, isolamento social, suicídio na família, tentativa prévia e outros transtornos mentais.

Por: Nathalia Amaral
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