Uma doença silenciosa e que foi negligenciada durante a pandemia de covid-19, a tuberculose vem preocupando autoridades em saúde no Brasil e no Piauí justamente devido à quantidade de casos notificados ao longo do último ano. Somente em 2021, o Estado notificou 1.015 casos de tuberculose. Destes, 745 se tornaram casos novos e em mais de 60%se tratava da forma pulmonar direta e transmissível da doença.
Leia também: Tuberculose atinge mais de 30 mil pessoas por ano
Os dados são da Coordenação de Atenção a Doenças Transmissíveis/Supervisão de Tuberculose, e pelo Centro de Inteligência em Agravos Tropicais Negligenciados (Ciaten), da Secretaria Estadual de Saúde do Piauí (Sesapi). Estas e as demais entidades médicas e de saúde pública do Estado estão reunidas nesta quinta (13) e sexta-feira (14) para discutir a prevenção e combate à tuberculose no Piauí. O evento acontece em alusão ao Dia Estadual de Combate à Tuberculose, que acontece no próximo dia 17 de outubro.
Evento acontece nesta quinta (13) e sexta (14) na sede da APPM, em Teresina - Foto: Assis Fernandes/O Dia
A tuberculose é uma doença crônica de transmissão aérea que possui uma taxa de mortalidade considerável no mundo. No Piauí a realidade não é tão distinta. De acordo com Ivone Venâncio de Melo, supervisora de Tuberculose da Sesapi, apesar de ter perdido para a covid-19 no último ano, a taxa de mortalidade da doença no Piauí subiu de 1,6 para 2 no último ano. A preocupação, ela diz, é maior porque se sabe que esses números são subnotificados.
“A tuberculose tem notificação compulsória. As crianças estão adoecendo por tuberculose, temos menores de 1 ano com a doença e isso para a gente é um fator preocupante, porque se tem um adulto com tuberculose sem tratamento, podem ter crianças sendo contaminadas também. É uma doença crônica de tratamento longo, esse tratamento demora no mínimo seis meses. Existe cura, o tratamento é todo pelo SUS e gratuito, então não tem como alguém estar doente e manter essa cadeia da doença em relação à coletividade”, explica Ivone Venâncio.
Ivone Venâncio explica sobre as notificações, diagnóstico e tratamento da tuberculose - Foto: Assis Fernandes/O Dia
As autoridades em saúde recomendam que ao primeiro sinal da doença, as pessoas procurem atendimento médico. O primeiro sintoma da tuberculose é a perda de peso seguida de dor no peito e febre mais ao entardecer. Como a febre ocorre mais ao final do dia, é comum que ela tenha similaridade e seja confundida inclusive com outras doenças. Para que o diagnóstico seja dado com precisão, o paciente pode fazer o exame de escarro, que é de baixo custo e o resultado sai em até 48 horas. Em caso de positivação, o tratamento é iniciado de imediato.
Vale lembrar que a tuberculose é uma doença que tem cura e que apesar do estigma que carrega, não deve ser escondida porque sua transmissibilidade é alta e é preciso que a rede de atendimento em saúde tenha um ponto de partida de onde iniciar a investigação epidemiológica e traçar a linha de contágio para evitar uma maior disseminação da doença.
Leia também: Protocolo simplifica tratamento de pessoas com tuberculose e HIV
Ivone Venâncio destaca que a identidade do paciente é mantida sob total sigilo quando do diagnóstico. “O preconceito existe. Há mais de 100 anos a tuberculose circula no nosso meio e já matou muita gente por seu acometimento crônico e lento. Mas todo paciente diagnosticado tem o direito de ser tratado e os processos são todos trabalhados em sigilo. A pessoa tem o direito de tratada onde quiser. Pode ter seu caso identificado em Teresina e fazer o tratamento em Picos, Floriano ou Piripiri, isso fica a critério do paciente”, finaliza Ivone.
Por fim, ela destaca a importância do tratamento oportuno reduzindo danos e custos e salienta que o paciente deve ser tratado com toda a clareza sobre aquilo que está sendo feito para lhe amenizar os efeitos da doença, inclusive ser instruído sobre os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados e o processo de melhora diante do caso investigado.