A seca no Piauí parece ter entrado em um momento de estagnação. As chuvas têm sido mais consistentes e o tempo tem favorecido a plantação de algumas áreas. Mesmo assim é inviável considerar que a estiagem chegou ao fim. Para o secretário de política agrária da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Piauí (Fetag), Devaldo Nunes, o agricultor e pequeno criador ainda tem muito com o que se preocupar.
“A seca continua muito forte. Aqui na região norte tem chovido sim, mais consistentemente, mas mesmo assim continua sem chover nas regiões do Sul do estado. É lá onde o período de plantação já acabou e os agricultores não tem mais como plantar”, afirma Devaldo.
Nas cidades do semiárido piauiense muitos agricultores investiram suas sementes em plantações sem esperar por chuvas mais regulares. Ao fazer isso, muitos deles acabaram por ficar sem estoque e reclamam que não há subsídio para plantio.
“Nós temos tentado articular o máximo que podemos para a distribuição das sementes, que vieram este ano bem atrasadas também. O que podemos dizer é que começou a chover muito tarde este ano e isso foi que deixou a situação tão complicada. Teria que seguir o calendário de plantação normal, mas as chuvas foram irregulares”, completa.
Devaldo Nunes, da Fetag, afirma que os agricultores não têm como lidar com a seca deste ano
Para o pecuarista José Feitosa, da cidade de União, as chuvas bastante alternadas fazem com que ele tenha que migrar semanalmente com suas vacas para cidades vizinhas, à procura de pasto onde elas possam ficar.
“Eu agora mesmo estou me deslocando aqui e levando um gado para pastar. A chuva tem sido muito fraca nesses dias e não dá segurança de que as coisas vão ficar boas. Tem sido difícil manter o gado em terrenos alugados em outras cidades, mas é isso que temos que enfrentar diariamente”, afirma José.
Além disso, o Piauí passa por um baixo nível de água em seu território. Segundo informações do Departamento Nacional de Obras Contra Secas (Dnocs), o Estado conta atualmente com apenas 33% do total de água que deveria existir em seu território. Esse percentual seria o reflexo das poucas chuvas e do período prolongado de estiagem nos últimos anos.
O levantamento do Dnocs assusta quando são exibidos os gráficos do nível de água em reservatórios do estado nos últimos dois anos. Quatorze dos vinte e quatro açudes do Piauí estão com capacidade abaixo de 30%. O açude Cajazeiras, na cidade de Pio IX, por exemplo, tem uma capacidade total de 24.702.000 metros cúbicos de água, mas atualmente está com apenas 1% deste volume. O Açude Piaus, em São Julião, tem uma capacidade de 104.509.970 metros cúbicos e atualmente está com um volume de apenas 9.000.000 metros cúbicos, o que representa apenas 8,61% da sua capacidade.
A falta de água preocupa, em especial, os agricultores, que já não sabem como fazer para abastecer suas moradias e conseguir água para o rebanho ou para irrigar pequenas plantações.
Agricultores do sul do Piauí são os que mais sofrem com a falta de chuvas
Os agricultores rurais do sul do estado estão preocupados com as poucas chuvas que caíram na região desde o ano passado. A informação é do Secretário de Assalariados Rurais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Piauí (Fetag), Manoel Simão.
De acordo com Manoel Simão, o período chuvoso sempre começa mais cedo na região do sul do Estado. “As chuvas sempre começaram mais cedo em nossa região, por volta do mês de novembro. Mas no ano passado não foi isso que aconteceu”, ressalta.
Segundo o Secretário, muitos agricultores chegaram a plantar, mas por causa das poucas chuvas, as sementes não vingaram. “E já estamos no mês de janeiro, e muitos municípios da região sul, estão há quase 30 dias sem chuvas”, disse.
Em função disso, a Fetag tem feito um alerta e procurado tentar solucionar os problemas. “Nós que fazemos a Federação estamos muitos preocupados com a situação dos nossos trabalhadores e trabalhadoras rurais. E estamos solicitando providências urgentes por parte dos governos tanto Federal, Estadual e Municipal que façam urgente a distribuição e sementes para esses trabalhadores”, declarou.
Para Simão, é necessário que essas medidas sejam tomadas urgentes. “É preciso que essas sementes cheguem o mais rápido possível a esses regiões, para que quando as chuvas por lá chegarem, os agricultores possam fazer o plantio a tempo”, finalizou.
Leia a íntegra desta reportagem na edição deste domingo (22) do Jornal O DIA
Fonte: Jornal O DIAEdição: Karliete Nunes
Por: Francicleiton Cardoso