A religiosa baiana Maria Rita Lopes Pontes, a irmã Dulce (1914-1992), será canonizada no dia 13 de outubro deste ano. A celebração, com a presença do Papa Francisco, vai ocorrer no Vaticano, em Roma.
As informações foram divulgadas na manhã desta segunda-feira (2) em coletivas de imprensa em Salvador, na Bahia, e em Roma.
Irmã Dulce é a primeira mulher nascida no Brasil que receberá o título.
O arcebispo de Salvador, dom Murilo Krieger, comunicou que no dia 14 de outubro, um dia após a canonização, está prevista uma missa na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, em Roma, em reconhecimento ao dom da religiosa.
Seis dias depois, no dia 20 de outubro, uma grande celebração ocorrerá na Arena Fonte Nova, em Salvador. O Vaticano informou que outros quatro santos também vão ser canonizados no mesmo dia de Irmã Dulce.
Nascida em 1914 em Salvador, Irmã Dulce, que ficou conhecida como "anjo bom da Bahia", teve uma trajetória de fé e obstinação na qual enfrentou as rígidas regras de enclausuramento da Igreja Católica para prestar assistência a comunidades pobres da capital baiana, trabalho que realizou até a morte, em 1992.
Filha de um dentista e de uma dona de casa, iniciou sua trajetória de assistência aos mais pobres ainda na infância, quando visitava comunidades carentes e ajudava pobres e doentes na porta da casa da família.
O processo da causa da canonização foi iniciado em janeiro de 2000 e seu primeiro milagre foi validado pela Santa Sé em 2003, pelo então papa João Paulo 2º.
O milagre reconhecido teria acontecido na cidade de Itabaiana, em Sergipe, quando as orações a Irmã Dulce teriam feito cessar uma hemorragia em Claudia Cristina dos Santos, que padeceu durante 18 horas após dar a luz ao seu segundo filho.
Em abril de 2009, o papa Bento 16 concedeu o título de Venerável à freira baiana, que se tornou a "Bem-aventurada Dulce dos Pobres". Ela foi beatificada dois anos depois em uma cerimônia religiosa que reuniu 70 mil pessoas em Salvador.
O anúncio da canonização da religiosa ocorreu em maio deste ano após a confirmação de um segundo milagre. Ela teria curado da cegueira um homem que morava na Bahia.
A canonização, agora, deverá dar novo fôlego no culto a Irmã Dulce, que já era tratada como santa por grande parte dos baianos e atrai romeiros de todo o Brasil ao seu santuário no largo de Roma, em Salvador.
O Vaticano já havia reconhecido como santos brasileiros Madre Paulina (canonizada em 2002), o Frei Galvão (2007), o padre José de Anchieta (2014), além dos mártires Roque Gonzalez, Afonso Rodrigues e João de Castilho, mortos no Rio Grande do Sul no século 17 (1983) e os 30 mártires assassinados no século 17 no Rio Grande do Norte (2017).
Irmã Dulce concluiu os estudos aos 18 anos, quando se tornou professora, mas optou pela vida religiosa e ingressou como noviça na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, em São Cristóvão (SE).
Cerca de um ano depois, quando foi consagrada freira, escolheu o nome Irmã Dulce em homenagem a sua mãe, que morreu quando ela tinha sete anos.
Ao iniciar seu trabalho de missão humanitária, foi enviada a Salvador, sua terra natal, onde passou a atuar no Sanatório Espanhol. A partir daí, não mais parou o seu trabalho voltado aos doentes e mais pobres.
Em 1939, inaugurou uma escola voltada aos filhos de operários no bairro de Massaranduba, periferia de Salvador. Dez anos depois, ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio e improvisou uma enfermaria para cuidar de doentes.
Nos anos seguintes, começou a buscar apoio de políticos e empresários para transformar a enfermaria improvisada em um hospital voltado ao atendimento da população mais pobre. Criou um restaurante para dar comida a quem não tinha e organizou uma rede de aleitamento materno.
Além de pedir doações, Irmã Dulce inovou na busca por recursos para manter suas obras sociais. Chegou a cantar e tocar acordeon nas ruas de Salvador para arrecadar fundos para suas obras de caridade.
A partir de 1955, passou a cumprir uma penitência em agradecimento à vida de sua irmã, que sobreviveu a uma gravidez de alto risco. Pelos 30 anos seguintes, passou a dormir sentada em uma cadeira de madeira.
Em 1980, recebeu a visita do papa João Paulo 2º, que a incentivou a prosseguir com seu trabalho social. Em 1991, quando visitou o Brasil pela segunda vez, o papa mais uma vez visitou Irmã Dulce, que já padecia em uma cama de hospital.
Morreu em 1992, gerando uma forte comoção social entre os baianos, que passaram a tratá-la como santa. Desde então, é comum encontrar fiéis com medalhinhas e quadros com o rosto da religiosa na parede de casa.
A canonização foi a terceira mais rápida da história da Igreja Católica a partir da data da morte: 27 anos, contra 19 anos no caso de Madre Teresa e 9 anos no de João Paulo.
Atualmente, as Obras Sociais Irmã Dulce formam um dos maiores complexos de saúde com serviço gratuito do Brasil, com média de 3,5 milhões de pessoas atendidas por ano.
A FÉ NO BRASIL
Alguns dos santos e beatos
- Madre Paulina (1865-1942)
Nascida na Itália, foi canonizada em 2002, 60 anos após a sua morte
- Frei Galvão (1739-1822)
Nascido no Brasil, recebeu o título de santo em 2007, 185 anos após a morte
- José de Anchieta (1534-1597)
Canonizado em 2014, num processo iniciado em 1597. Não tem milagres comprovados -o papa dispensou a necessidade
- Mártires do RN
Em 2017, o papa canonizou 30 mártires assassinados no século 17 no Rio Grande do Norte, no período de dominação holandesa
- Irmã Dulce (1914-1992)
Beatificada em 2011, agora será proclamada santa pelo Vaticano
- Padre Donizetti
Morreu em 1961 em Tambaú (SP), foi beatificado pelo papa Francisco
Fonte: FolhapressPor: João Valadares