Apesar de o skate brasileiro
ter ganhado relevância no cenário mundial com as três medalhas de prata
conquistadas nas Olimpíadas de Tokyo, além dos inúmeros títulos mundiais, a
cena do esporte em Teresina continua não sendo das mais animadoras. A medalha
olímpica conquistada pela maranhense “Fadinha” Rayssa Leal na modalidade
street, por exemplo, não foi suficiente para desmistificar o esporte, que ainda
é considerado como “marginal”. E o reflexo disso é o abandono das pistas de
skate em Teresina.
Foto: João Albert
Para o presidente da Federação Piauiense de Skateboard (FEPISk), Thyago Costa, o abandono dos locais para prática de skate em Teresina só tem uma explicação: o preconceito. “Provavelmente seja preconceito por ser um esporte marginalizado, apesar das Olimpíadas. Nós já vimos que o skate é um esporte de alto rendimento, não conseguimos entender essa falta de atenção do poder público”, destaca.
Foto: Arquivo O Dia
Thyago Costa revela que todos os 11 espaços destinados à prática de skate em Teresina precisam de algum tipo de reforma ou manutenção. Os pontos mais críticos são as localizadas nas periferias, como as pistas dos bairros Alegria, Planalto Uruguai, Lourival Parente e Santa Maria da Codipi.
“A prefeitura constrói esses espaços esportivos sem informar a federação, para escutar quem realmente vai usar. No Parque da Cidadania, por exemplo, a pista já foi inaugurada com um piso ruim. As pistas em condição mais grave são essas mais afastadas do Centro. Na Santa Maria da Codipi, a pista ficou pequena porque o número de skatistas é muito grande. São pessoas que na maioria são estudantes, não trabalham, não tem uma renda, então não tem como se deslocar para as pistas do Parque da Cidadania ou da Potycabana”, diz.
Uma das praças que é referência na prática do esporte é a Praça Ocílio Lago, localizada no bairro de Fátima, zona Leste de Teresina. Conhecida como Praça dos Skatistas, o local possui pista e obstáculos destinados à prática do esporte, mas está repleto de lixo e mato. Para conseguir usar o espaço, os próprios skatistas se mobilizam para limpar a praça, além de tapar buracos, construir e reformar os obstáculos.
Praça dos Skatistas. Foto: O Dia
“Nós usamos a praça desde 1998, nunca deixamos de frequentar. Ela virou referência nacional como Praça dos Skatistas. Até que existe uma limpeza, mas nessa gestão nova da prefeitura, não estão limpando mais. Está abandonada pelo poder público. Eles não têm um cuidado com a praça, e não é só com essa, são diversas outras praças, mas a Praça dos Skatistas, por ser bem movimentada, merecia uma atenção maior. No período da tarde tem gente caminhando, passeando com cachorro ou andando de skate. A pista é bem movimentada”, afirma.
Praça dos Skatistas. Foto: O Dia
Além da sujeira, outro ponto que incomoda os frequentadores da Praça Ocílio Lago é a falta de iluminação e até mesmo de lixeiras. Com a escuridão, os moradores deixam de frequentar o local por medo. Segundo Thyago Costa, a quadra de esporte localizada na praça passou cerca de um ano sem iluminação. Para sanar o problema, os skatistas fazem vaquinhas para arcar com os custos da manutenção elétrica.
“Desde 1999 nunca instalaram uma lixeira na praça, mesmo com todas as solicitações que fizemos. Além disso, a praça nem teve inauguração, porque não tinha um projeto para incluir iluminação, entregaram sem luz. Como a gente já estava acostumado a se organizar pra consertar a praça, nós mesmos contratamos o eletricista e deixamos iluminada. Anos depois incluíram alguns postes, mas não mexeram na instalação anterior, então sempre dá problema, a praça sempre fica apagada. Quando a gente liga as luzes, as pessoas voltam a frequentar”, denuncia o presidente da FEPISk.
A reportagem do O Dia entrou em contato com a Superintendência das Ações Descentralizadas Leste (SAAD-Leste), que informou que, “por conta das chuvas e das mais de 100 unidades e praças e ambientais que fazem parte da Saad Leste, no intervalo de uma limpeza e outra, há a possibilidade de crescimento de mais mato e caimento de folhas”. No entanto, a Saad não respondeu às denúncias relacionadas à má iluminação e falta de lixeira na Praça Ocílio Lago.
Em nota, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Semel) informou que está fazendo um levantamento de todos os locais que necessitam de alguma reforma ou reparo, para que sejam feitas ainda no ano de 2022. Isso inclui campos, quadras, academias populares, pistas de skate, etc. "A SEMEL informa que está buscando viabilizar todas as demandas necessárias para desenvolver um esporte e lazer de qualidade na Capital", disse o órgão.
Número de skatistas
cresce em Teresina
Segundo a FEPISk, Teresina possui atualmente em torno de 900 skatistas. Deste total, cerca de 10% praticam o esporte a nível de competição. Os demais são pessoas que usam o skate como alternativa para o lazer ou em busca de benefícios para a saúde.
O instrutor de skate e presidente da Associação Teresinense de Skate (ATS), James Piva, afirma que o bom desempenho da equipe brasileira nas Olímpiadas refletiu no aumento expressivo na procura por aulas de skate em Teresina. Entre os novos praticantes do esporte estão, em sua maioria, meninas.
Aula de skate em Teresina. (Foto: Arquivo Pessoal)
“Depois das Olímpiadas deu um salto bem grande de skatistas chegando, principalmente de meninas. Sou instrutor de skate e tenho percebido muitas mães procurando aulas para as suas filhas, visto que a Rayssa Leal teve um bom desempenho das Olimpíadas”, destaca.
Aula de skate em Teresina. (Foto: Arquivo Pessoal)
Natural de Imperatriz, no Maranhão, a Fadinha, como é conhecida Rayssa Leal, é uma skatista de apenas 14 anos. Ela virou referência no skate mundial após ganhar medalha de prata na modalidade Street nas Olímpiadas de Tokyo. Somente em 2021, Fadinha também conquistou o primeiro lugar no campeonato Street League Skateboarding (SLS), nas etapas da Florida e Salt Lake City, além da medalha de bronze no Campeonato Mundial de Skate, em Roma.
Complexo de Skate
Mesmo com todos os problemas, um novo Complexo de Skate deve ser inaugurado até o final do ano em Teresina. Segundo o presidente da Federação Piauiense de Skateboard (FEPISk), Thyago Costa, o complexo deve ser construído na Praça Arimateia Tito Filho, localizada no bairro Jockey, zona Leste de Teresina. Com recursos do Ministério da Cidadania, o projeto prevê a construção de uma pista de skate, uma pista para caminhada, cachorródromo e academia popular. Além disso, também está prevista reforma na iluminação e nos bancos da praça.
“A Confederação Brasileira de Skate teve a oportunidade de indicar dois estados do Nordeste para serem contemplados com o projeto e um dos estados foi o Piauí. Nós procuramos a prefeitura para assinar o contrato e enviamos toda a documentação. Estamos esperançosos que até o final do ano estejamos com a pista inaugurada”, destaca.
Segundo a Superintendência das Ações Descentralizadas Leste (SAAD-Leste), o projeto do Complexo de Skate de Teresina está em fase de licitação.