Impossível conversar com o jurista Celso Barros e não sair da sua presença com a nítida impressão de ter mantido contato com um homem extraordinário, cujo conhecimento o torna referência nacional. Ao completar 100 anos de seu nascimento, com voz pausada e uma lucidez que desconcerta o interlocutor, ele define com acentuada clareza o caminho para a longevidade, declamando versos do poeta Olavo Bilac: “Envelheçamos como as árvores fortes envelhecem/Na glória da alegria e da bondade/ Agasalhando os pássaros nos ramos/Dando sombra e consolo aos que padecem”.
(Fotos: Assis Fernandes/ODIA)
Ressaltando ser o trabalho um dos pilares para viver muito e consciente de suas ações, Celso Barros faz mais uma observação: “Devemos gostar do nosso trabalho, senão se torna um peso enfadonho e nos rouba a vivacidade. Mas também é preciso que levemos uma vida tranquila, sem ódio, sem intrigas, procurando fazer o bem aos outros, fugindo ao egoísmo e adormecendo com a consciência limpa”, argumenta. Ainda trabalhando, citando petições, agora em sua residência, ele enfatiza que ter um hobby também ajuda a carregar os anos com mais disposição, revelando sua predileção pela Filosofia, embora também seja leitor contumaz de História e Literatura.
Com a sabedoria de quem vivenciou grandes transformações, ao longo de décadas, Celso Barro não deixa escapar críticas à juventude: “A juventude de hoje está mais preocupada com a técnica, com as opções que a tecnologia oferece do que com a própria vida. Os jovens vivem em um mundo virtual, artificial, em detrimento da realidade, fugindo à naturalidade das coisas”, assinala. Para o homem que nasceu a 11 de maio de 1922, a tecnologia tem importância substancial para o desenvolvimento no mundo atual, porém não deveria ser utilizada para alienação, mas sim para somatório à realização humana.
“Eu não sou saudosista; eu vivo o presente, mas pensando no passado, porque o passado é uma página do presente que nos ajuda a compreender o agora”, observa, acrescentando que a Filosofia é essencial para quem quer entender a vida, daí aconselhar os jovens a essa prática: “Jovens, estudem aprendendo, aprendam estudando.” Embora não se inclua no rol dos que vivem de lembranças, ele confessa que o passado era melhor, “porque havia mais amigos, havia uma simplicidade nas pessoas que aos poucos está desaparecendo em decorrência da brutalidade em que o mundo se transformou.”
Em meio a conversa, faz uma pausa e ressalta o temor do momento político brasileiro: “Vejo o momento político com certo pessimismo, porque não é o ideal que prevalece, mas os interesses particulares”. Ao ser indagado sobre a afirmativa de que político é político em qualquer época, com todos os seus vícios, discorda: “Antigamente, havia mais seriedade, havia mais vocação. Hoje, os interesses estão acima do bem comum”. Agora, já em seu escritório montado em casa, folheando alguns livros, declama versos de Gonçalves Dias, que diz terem norteado sua existência: “A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar” (i-juca Pirama).
Biografia
Nascido em 11 de maio de 1922, em Pastos Bons, no Maranhão, filho de Francisco Coelho de Sousa e de Alcina Barros Coelho, Celso Barros Coelho iniciou seus estudos no Seminário Menor de Teresina, em 1938, aos 16 anos, do qual foi seminarista até 1945. Dali, começou sólida formação, com domínio do latim, grego, francês, italiano e espanhol, além de profundo conhecedor da língua portuguesa e da literatura brasileira e universal.
(Fotos: Arquivo pessoal)
Após a conclusão do Seminário, adveio logo convite da Igreja Católica para morar na Itália, o qual teve que recusar, pela impossibilidade de viajar por ser órfão de pai e, sendo o primogênito, por considerar-se também responsável pelo destino dos irmãos. Permaneceu em Teresina e iniciou brilhante carreira no magistério, sendo Professor do próprio Seminário Menor de Teresina, Colégio Diocesano, Colégio das Irmãs, Liceu Piauiense, Colégio Demóstenes Avelino e Escola Normal Antonino Freire, com as disciplinas de português, francês, latim e grego.
Graduou-se na Faculdade de Direito do Piauí, em 1953, aos 30 anos de idade. Acumulou cultura jurídica, demonstrada nas aprovações de concursos públicos para Juiz de Direito, Promotor de Justiça, Auditor e Procurador Federal e de Professor da UFPI, titularizando-se na cátedra de Direito Civil até 1992, aposentado compulsoriamente pela idade (70 anos). Foi Professor de Direito Civil na Universidade Nacional de Brasília (UNB).
Advogado há 65 anos, presidiu a OAB/Piauí por 11 anos e notabilizou-se como criminalista na década de 1960. Ao enveredar para a política partidária, foi Deputado Estadual, com mandato cassado pela Ditadura de 1964, e Deputado Federal por dois mandatos. Entrou para a Academia Piauiense de Letras, da qual foi Presidente, tendo dezenas de obras jurídicas, filosóficas e de cunho político e social publicadas. Casou-se com Maria de Lurdes Freitas Coelho, com quem teve três filhos (José Newton de Freitas Coelho, Maria Eugênia Celso Coelho de Santana e Celso Barros Coelho Filho), e em segundas núpcias com Antônia Campelo Faustino Barros, com quem tem uma filha, Karine Campelo de Barros Canabrava.
Por: Marco Antônio Vilarinho - Jornal ODIA