A religiosidade é um traço predominante na cultura do Piauí, refletida até mesmo nos nomes das nossas ruas. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (14) mostram que, no estado, 7.198 endereços estão localizados em logradouros chamados "São José" e 5.368 em "Santo Antônio".
Além de São José e Santo Antônio, outros títulos religiosos são amplamente utilizados. No Piauí, há quase 47 mil endereços em ruas que começam com "São", seguidos por mais de 20 mil com "Santa".
Na capital, Teresina, exemplos dessa religiosidade implícita nos nomes das ruas incluem a Avenida São Raimundo, Avenida Nossa Senhora de Fátima e a Avenida Frei Serafim, esta última nomeada em homenagem ao sacerdote franciscano italiano que desempenhou um papel importante na história do estado. O levantamento revela que esse fenômeno não é exclusivo do Piauí. Nacionalmente, os endereços iniciados com "São" somam 2,3 milhões.
Além das homenagens religiosas, nomes de figuras políticas ou ícones importantes da história também são comuns. Em Teresina, logradouros como a Avenida Marechal Castelo Branco, Avenida Freitas Neto, Avenida Presidente Kennedy e Avenida Miguel Rosa homenageiam políticos piauienses e brasileiros.
Outros títulos comuns nas ruas piauienses incluem “Professor”, “Vereador”, “Padre”, “Presidente”, “Dom”, “Doutor” e “Coronel”. No Brasil, há mais de 2 milhões de endereços em logradouros com a palavra “Doutor”; 483 mil endereços em ruas denominadas "Presidente" e 447 mil com o nome "Vereador". Datas festivas, como "Sete de Setembro", também são comuns, com 181 mil endereços registrados com essa denominação, inclusive em Teresina.
Em entrevista ao O Dia, o historiador Ricardo Arraes explica que a prática de nomear ruas em homenagem a santos ou ícones políticos reflete tanto a religiosidade quanto os processos históricos do país. "As ruas, de alguma maneira, contam a história da cidade e também refletem os acontecimentos políticos do estado e do país. Em Teresina, muitas ruas e bairros homenageiam figuras que são importantes na nossa história de formação", afirma.
LEIA TAMBÉM
Mais de 40% dos endereços do Piauí não têm número
Os dados divulgados pelo IBGE foram obtidos a partir do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE).Conforme as informações, o estado tem 1,7 milhão de endereços. Destes, 710 mil, ou 41% do total, não possuem numeração. Além disso, o estado possui cerca de 167 mil endereços em ruas sem nome, o que reflete um déficit na formalização dos endereços pelo poder público municipal.
O número de endereços em sistemas alternativos também é preocupante. No Piauí, quase 213 mil endereços (12,48%) são registrados apenas com um número de identificação fornecido por empresas de água, energia, ou pela SUCAM, sem uma numeração oficial da Prefeitura. Além disso, 2.791 endereços (0,16%) são identificados pela quilometragem da via.
A situação não é exclusiva do Piauí. Em todo o Brasil, 24,4 milhões de endereços (22,8% do total) estão sem número. Goiás lidera com 2,46 milhões de endereços sem numeração. Além disso, 438 mil endereços são identificados pela quilometragem da via, sendo Rondônia o estado com a maior ocorrência deste tipo de identificador (76,1 mil).
Segundo o gerente do CNEFE, Eduardo Baptista, "o endereço é também um indicador de cidadania. Isso significa que o cidadão que vive em um endereço sem número ou em uma rua ou avenida sem denominação está sofrendo algum tipo de déficit na sua cidadania, pela não formalização daquele endereço ou logradouro pelo poder público municipal".
No país, são 2,7 milhões de endereços em logradouros sem nome, sendo a Bahia a unidade da federação com a maior ocorrência, totalizando 314,5 mil endereços. Vale ressaltar que a formalização dos endereços é essencial para a melhoria da infraestrutura e da qualidade de vida dos cidadãos. Sem um endereço formal, os moradores enfrentam dificuldades para acessar serviços básicos e direitos fundamentais, como correios, emergências médicas e até mesmo direitos eleitorais.
Cadastro de endereços pode auxiliar no enfrentamento de calamidades, diz IBGE
Com informações precisas sobre a localização de domicílios e estabelecimentos, as três esferas de governo podem planejar de maneira mais eficiente as infraestruturas públicas. Isso inclui a identificação de regiões com maior demanda por transporte, escolas, hospitais, coleta de lixo, e abastecimento de água e luz, além de facilitar a entrega de correspondências.
O gerente do CNEFE, Eduardo Baptista, destaca que “as informações do CNEFE são extremamente úteis para caracterizar diferentes padrões de ocupação, identificando áreas verticalizadas ou com grande número de edificações em construção. Além disso, o CNEFE oferece a outras instituições, públicas ou privadas, um importante repositório de endereços para amostras de pesquisas domiciliares.”