A criação de um vínculo afetivo é fundamental no desenvolvimento do ser humano, desde bebê, e a presença da figura paterna
é parte essencial desta formação. Ter a companhia do pai faz a diferença, mas, mais do que a presença física, o estreitamento dos laços, o carinho, amizade e demonstrações de amor são capazes de
transformar vidas.
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Foto: Reprodução/Pixabay
Antigamente, pouco se ouvia um “eu te amo” de pai para filho, ou via cenas de carinho em público, por exemplo. A sociedade enxergava essas atitudes como um indicativo de fragilidade. Mas, com o tempo, com a conquista de confiança e com mais empatia, as coisas vêm mudando, aos poucos. “Atualmente conseguimos perceber homens menos fragilizados e mais conscientes de que devem entregar às pessoas das quais ele convive, amor, respeito e sinceridade”, pontua a psicóloga Maria Clara de Brito.
Segundo a especialista, quando um pai/homem consegue
perder esse estigma de que demonstração de afeto deve partir
somente da parte materna ou por mulheres, ele consegue se
libertar de preceitos que já não cabem mais.
Psicóloga Maria Clara de Brito. (Foto: Arquivo pessoal)
“Quando damos nomes aos sentimentos nos sentimos com mais propriedade para falar sobre aquilo que está em nosso coração. E o mais importante, quando os pais consegue passar isso para a educação de seus filhos, eles acabam tomando a decisão de preparar os mesmos para o mundo, ensinando a lidar com as dificuldades”, disse.
Essa é a premissa que rege a relação de Bruno Amaral, de 32 anos, e o filho, Heitor Amaral, de 5 anos. “Eu não consigo entender como amar tanto uma pessoa e demonstrar amor por essa pessoa me torna menos masculino que esse ou aquele, inclusive, amo meu filho do mesmo tanto que meu outro filho de coração, que é meu enteado”.
O conceito e a conexão afetiva de Bruno com o filho foram influenciados, principalmente, pelo seu passado. Quando soube que a esposa estava grávida, ele prometeu que, ao contrário de sua vivência, seria um pai diferente da referência que ele tinha.
Bruno e Heitor Amaral (Foto: Arquivo pessoal)
É que o pai de Bruno não esteve presente em sua criação, pois seus pais se separaram quando ele ainda era pequeno, por isso, ele não tem recordações de trocas de carinho com o pai. “Pode ser que em algum momento ele tenha dito "eu te amo" para mim, mas com a distância e como eu era muito novo na época da separação, eu não tenho essa lembrança registrada. Eu não guardo rancores do passado e também não julgo a opção dele. Acredito também que a criação baseada em figuras fortes femininas, como minhas avós e minha mãe, contribuíram pra construção de caráter e pai que sou hoje”, cita.
A experiência de Bruno Amaral é reiterada pela psicóloga Maria Clara de Brito. De acordo com a especialista, as demonstrações de amor é uma decisão pessoal do pai, independente de situações passadas.
“Você pode, como pai, decidir não ser afetuoso porque não teve
esse modelo dentro de casa, ou pode decidir ser totalmente o contrário do exemplo que teve porque isso lhe fez falta e você pôde
sentir isso na pele. O que podemos afirmar é que você precisa ser
verdadeiro na criação de seus filhos, pois quanto mais sincero você
for e quanto mais se responsabilizar pela educação de seu filho, mais
frutos positivos você está criando”, explica a psicóloga.
“É um privilégio ter um pai que demonstra amor”
O amor de Zacarias Henrique Silva, de 52 anos, pelo filho começou quando Pedro Henrique Melo, 22 anos, ainda estava na barriga da mãe. Desde muito pequeno, o filho já sentia o afeto do pai e a relação dos dois sempre foi muito admirada pelos parentes e amigos da família. Zacarias e Pedro Henrique chamam atenção por sempre andarem juntos, se beijarem e se abraçarem.
“Eu não tenho vergonha de chegar nos locais e meu pai me beijar, creio que seja até um privilégio ter um pai que gosta disso. É uma demonstração de respeito e carinho que temos um pelo outro. E isso acontece sempre”, disse Pedro.
Zacarias Henrique Silva e Pedro Henrique Melo. (Foto: Arquivo pessoal)
“Demonstrar amor pelo meu filho faz com que eu me sinta realizado. Eu sonhava em ser pai e quando eu tive meu filho eu procuro demonstrar meu amor por ele. O melhor amigo do meu filho sou eu. Desde criança eu inventava brincadeiras com ele para gente poder se divertir juntos. Essa era uma forma de mostrar também que o amava”, completa o pai.
Zacarias Henrique conta que transmite ao Pedro todo amor e atenção que recebeu de seu pai, Custódio Borges da Silva. Filho adotivo, ele fala que, apesar de o pai ser um homem nascido e criado no século passado, quando os conceitos sobre criação eram outros, o senhor Custódio nunca viu problema em mostrar o quanto amava o filho.
“Ele era uma pessoa muito verdadeira, honesta e amorosa comigo. E eu quis ser assim com meu filho também”, pontua. Quando Custódio Borges faleceu, Pedro Henrique ainda era um bebê. “Não me sinto ‘quebrando uma regra’ [de que homens não demonstram sentimentos] porque ela nunca existiu com o meu pai, nunca existiu na minha família. Meu pai nasceu em 1915 e na minha casa nunca teve problema em a gente se abraçar. Nunca vi como algo que fosse ferir minha masculinidade”, destaca Zacarias Henrique.
"Quis ser um pai de uma nova ‘geração de pais’”
Até bem pouco tempo atrás, a mulher era apontada como a única responsável por todos os cuidados com os filhos, desde a troca de fralda até as os momentos de diversões. Eram elas que abdicavam das oportunidades de emprego, da saída com os amigos e até mesmo dos cuidados consigo. O homem era o provedor. Apenas.
O pai de Cecília Santos, de 5 anos, quis ser diferente. Ele sempre queria ser pai, mas quis ser, acima de tudo, uma inspiração, alguém que ela tenha como exemplo de homem e de pai.
Raphael e Cecília Santos. (Foto: Arquivo pessoal)
Raphael Santos, que é policial e trabalha em regime de escala, aproveita o tempo livre para colecionar memórias de afeto, acreditando que, assim, consiga dar o seu melhor à filha. Ele lembra que foi educado sob o olhar de outra geração e, por isso, não teve tanta atenção de seu pai quando criança.
“Meu pai sempre se empenhou em não deixar nada faltar, trabalhando muito. E isso, talvez, tirou-lhe o tempo de me ofertar mais proximidade e carinho. Eu sinto falta disso. De ser mais próximo dele. Mais íntimo. Acho que tudo isso colaborou para meu desejo de ser pai. Quando Cecília nasceu eu me senti realizado“, conta policial. Raphael sabe que os conceitos sobre o que é ser um pai têm mudado, que um filho precisa da figura paterna presente e atuante em sua criação, e, por isso, ele se desdobra para vivenciar todas as oportunidades.
“Sempre me cobrei ser um pai de uma nova ‘geração de pais’. Acho que muita coisa mudou, apesar de saber que muitos "pais" ainda não conseguem ver que o relacionamento com seus filhos vai além do cuidado, apenas. Demonstrar e viver o amor pelos filhos é algo muito forte”, disse.
É assim que pais e filhos conseguem fortalecer continuação da 2. "Demonstrar o amor pelos filhos é muito forte", diz Raphael o vínculo fraterno, nas demonstrações de afeto e cuidado. “Ambos (pai e filho) se sentem mais confiantes e próximos para tratar sobre todos os assuntos referentes ao desenvolvimento desse processo tanto relacional, quanto pessoal. É importante considerar que esse apoio e esse amor, trará sensações de bem estar e autocuidado para o pai e para o filho”, explica a psicóloga Maria Clara de Brito.
Dizer “eu te amo”, falar que está com saudades, deixar
claro o quanto um filho ou um pai é importante na sua
vida, mostrar preocupação, acompanhar em momentos
importantes, abraçar e beijar quando sentir vontade
nunca serão sinais de fragilidade masculina. Pelo contrário, enriquecem a relação e inspiram a construção de
pessoas melhores no mundo.