Hoje (8) é comemorado o Dia Mundial da Alfabetização. Essa celebração foi instituída pela UNESCO em 1967 com o objetivo de promover a discussão de assuntos e questões ligadas à alfabetização no mundo todo, promovendo o amplo debate sobre essa importante fase do aprendizado. E, de lá para cá, talvez o atual momento seja o que mais demanda discussões sobre a alfabetização das crianças, por conta dos efeitos da pandemia da Covid-19 no ensino.
Leia também: Sem equipe nas escolas, mães de crianças autistas têm que assistir aula com os filhos
Os efeitos sobre as crianças em geral foram graves, devido à suspensão das aulas presenciais. Porém, no caso das crianças com algum tipo de transtorno cognitivo – como Autismo, Dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) – as perdas no processo de alfabetização e de aprendizagem são ainda mais graves e comprometedoras. É o que afirma a psicóloga, pedagoga, psicopedagoga e Mestre em Saúde Mental Yloma Rocha.
Foto: Arquivo Pessoal
“As crianças que têm Autismo, TDAH e Dislexia, por exemplo, são quadros que estão dentro dos transtornos do neurodesenvolvimento. Então, já são crianças que estão em prejuízo. A perda deles - com esse período da pandemia – é mais grave, mais relevante. E daí podem surgir outros problemas como baixa autoestima e surgimento de questões emocionais nesse período e no futuro”, explica.
“É algo que pode atingir não só o desenvolvimento das habilidades. Pode atrasar também o desenvolvimento comportamental, nas habilidades sociais”, complementou.
Não ver a filha Geovana – que tem autismo moderado - se desenvolver plenamente, foi uma preocupação constante da mãe, Maria da Penha Medeiros, durante a fase mais restrita da pandemia, em que as aulas presenciais estavam suspensas.
Foto: Arquivo Pessoal
“Nós tivemos muitos obstáculos durante esse período. Vimos e sentimos a dificuldade das escolas, principalmente as públicas, na adaptação para as aulas remotas. Houve uma demora na padronização das aulas para que pudéssemos acompanhar. E eu tive que fazer a adaptação da minha forma. Na sala de aula, ela tem as atividades adaptadas e, a partir do momento em que isso parou, além de não ir para a escola, o retorno das atividades demorou bastante”, comenta a mãe.
Maria da Penha afirma que o prejuízo para as crianças autistas, ao ficarem cerca de um ano e meio sem aulas presenciais, é incalculável. “Na escola, a Geovana é uma criança que gosta de socializar e interagir. Esse isolamento foi uma coisa que afetou bastante. Ela sentiu falta dessa rotina. O autista tem essa característica de ter a rotina bem definida, então sentimos muito essa mudança drástica”, disse.
Foto: Arquivo Pessoal
Hoje, a mãe de Geovana é dona de casa e pontua que precisou sair do emprego em 2018 para acompanhar a sua filha no dia a dia. Durante a pandemia, além do papel de mãe, Maria da Penha também precisou fazer o papel de professora, o que causou uma sobrecarga ainda maior à ela.
“Quando eu passei a exercer esse outro papel, para que ela não tivesse tanto atraso, foi uma sobrecarga complicada. Eu cuido da minha filha sozinha e não tenho com quem fazer essa divisão de horários e dias. Antes de iniciar a pandemia, eu já havia aberto mão de uma série de coisas, como vida social, profissional e familiar. Justamente para dar esse cuidado e educação para que ela possa se desenvolver da melhor forma possível”, acrescenta,
Sobre o assunto, a psicopedagoga Yloma Rocha destaca a importância de pais de crianças com algum transtorno cognitivo fazerem acompanhamento psicológico. “Só o que temos são pais fragilizados com dificuldade em lidar. Neste momento, não são apenas as crianças que precisam de terapia, os pais também precisam, para que possam se fortalecer e saber como lidar com essas questões”, finaliza.