O Piauí teve um início de ano violento neste 2019. É isso o que revelam os dados do Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Nacional. Só nos primeiros quatro meses deste ano (janeiro a abril), o Estado notificou ao Governo Federal 217 ocorrências de estupro. É como se a cada 24 horas, uma pessoa tivesse sido vítima de estupro no Piauí.
Foram 6,65 ocorrências para cada grupo de cem mil habitantes e o mês de março foi considerado o mais violento do período, tendo acumulado um total de 57 ocorrências notificadas ao Ministério. Com estes 217 registros no primeiro quadrimestre de 2019, o Piauí já contabiliza 32,14% do total de casos de estupro ocorridos no Estado ao longo de todo o ano de 2018. No ano passado, foram registrados aqui 675 casos.
O Ministério da Justiça classifica como estupro a agressão sexual geralmente envolvendo relação sexual ou outras formas de atos libidinosos realizados contra uma pessoa sem o seu consentimento. Para especialistas, o que assusta é justamente a frequência com que este tipo de crime tem sido registrado e isso aponta a necessidade de políticas públicas mais efetivas, sobretudo no tocante à conscientização para o combate do machismo e da desigualdade de gênero.
Foto: Elias Fontinele/O Dia
“Temos excelentes projetos que trabalham com a conscientização das mulheres vítimas e até das não-vítimas, mas não temos punições àqueles que praticam estes atos. Não basta só proibir, porque o homem não aceita só a proibição. Tem que vir acompanhado da punição, porque se você diz ‘não faz’, ele vai questionar e vai acabar fazendo. Agora se você diz ‘não faz’ e pune caso ele faça, as chances da conduta se repetir são menores. Tem que ter punição para que não haja questionamento”, explica.
Marília considera alarmante o dado. No seu entendimento, uma mulher ser vítima de estupro a cada 24 horas, não só no Piauí, como em qualquer parte, revela um problema sério não apenas de gestão pública, como também social.
“Óbvio que a mulher tem mais lugar fala hoje em dia e está apoiada por todas as políticas de Estado e de proteção, mas é enganoso pensar que é só por causa disso que as denúncias aumentaram. Elas aumentaram é porque o crime está acontecendo com mais frequência, porque a maioria dos homens ainda vê a mulher como objeto, sustenta ainda uma visão de mundo patriarcal e isso se reflete em suas atitudes. As estatísticas são reais e estão aí todo dia pra qualquer um ver. Precisa é de mais eficiência do estado”, pontua a cientista política.
Violência também aparece em outros setores
O Piauí apresenta dados significantes em outras tipificações criminais, como, por exemplo, os atentados contra o patrimônio alheio. O roubo de veículo é o que responde pelas maiores estatísticas do Estado, segundo o Ministério da Justiça. De janeiro a abril de 2019, foram roubados 1.431 veículos no Piauí mediante o uso de violência. A média é de cerca de 11 veículos subtraídos de seus donos por dia. Foram 43,83 registros para cada grupo de cem mil habitantes, de acordo com o Sinesp.
Foto: O Dia
Abril foi considerado o mês mais violento do período para este tipo de crime, com um total de 391 registros notificados ao Ministério da Justiça. Somando-se os quatro primeiros meses do ano, o total de roubos de veículos no Piauí já corresponde a 36,8% de todo o contabilizado ao longo de 2018.
Mas para além dos crimes contra o patrimônio alheio, os crimes violentos contra a vida também representaram uma estatística relevante no Piauí. Conforme o Sinesp, a cada 24 horas, uma pessoa foi assassinada no Estado de janeiro a abril de 2019. No período foram contabilizadas 176 ocorrências de homicídio doloso, ou seja, quando há intenção de matar.
Abril, assim como para o roubo de veículos, foi o mês mais violento, com um total de 52 ocorrências notificadas. A taxa é de 5,38 registros para cada grupo de cem mil habitantes e os números do primeiro quadrimestre deste ano já equivalem a 31% do total registrado ao longo de 2018.
Foto: Jailson Soares/O Dia
O outro lado
A reportagem de O Dia procurou a Secretaria de Segurança Pública do Piauí para comentar os números, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço permanece aberto para futuros esclarecimentos e manifestações por parte do órgão.
Por: Maria Clara Estrêla