A família da estudante de
jornalismo, Janaína Bezerra, morta após uma calourada na UFPI, disse em entrevista
ao O Dia, que acredita que o crime tenha sido praticado por duas pessoas. De
acordo com a mãe de Janaína, Maria do Socorro da Silva, além do principal
suspeito, Thiago Mayson da Silva Barbosa, outro homem teria ainda tentado
ocultar o corpo da vítima. Segundo ela, a estudante teria sido estuprada duas
vezes após ter sido morta. Leia mais sobre o caso.
“Tem um que foi preso, que confessou. O outro que
ia desovar minha filha também foi preso. A gente nem ia achar o corpo. Minha
filha foi morta e sofreu dois estupros. Eles acabaram com ela. Cada marquinha
nela me dói, quando penso no rostinho dela. Eles arrastaram ela e quebraram unha
por unha por maldade. Minha filha sofreu nas mãos desses bandidos. Eu sinto
cada dor porque mesmo depois de morta eles fizeram isso. A Janaína não ia
ceder. Ela tem tinha ódio de homem machista”, disse a mãe muito abalada.

Foto: Assis Fernandes/O Dia
A mãe acredita que os suspeitos usaram
o celular da vítima para mandar uma mensagem para a família, dando a entender
que a estudante estava bem. Segundo ela, a forma como a mensagem foi escrita (“Mãe, tô de boa”) não condiz com a linguagem que Janaína costumava usar. Segundo Maria
do Socorro, um dos suspeitos teria ainda gravado o crime.
“Uma pessoa disse assim: “tô de
boa”. E minha filha não manda assim. Ela mandava as coisas escritas. Isso foi
ele quem mandou, ele já estava de posse do celular dela, era umas 00h. Ele deve
ter forçado ela a dar a senha. Então, ele filmou tudo. Quando eu liguei estava
uma zoada danada e não respondeu. Ela avisava como estava, dizia ‘mãe, estou
indo’, ‘mãe, cheguei’. Ela dizia tudo”, relata Maria do Socorro.

Foto: Assis Fernandes/O Dia
Ainda de acordo com a mãe, um
emoji de caveira e uma mensagem de luto teria aparecido no número de Janaína.
Isso teria acontecido por volta das 10h do sábado (28), quando a família já procurava
pela estudante e ela já havia sido dada como morta no hospital. A família
acredita que um dos suspeitos teria feito as postagens em nome de Janaína.
“Quando eu falei com ela,
colocaram uma caveira de morte, e eu não entendi. Ele era mexendo no celular da
menina. Ele colocou luto, mas eu não entendi na hora. Isso foi umas 10h, quando
eu já estava procurando por ela. Ela já estava morta. Então, foi ele que
colocou no celular. O rapaz que ajudou disse que eram dois. Um correu. Eles iam
desovar minha filha”, afirma.
Suspeito de matar estudante da
UFPI diz que recebeu ajuda de amigo para socorrer a vítima
Thiago Mayson da Silva Barbosa, aluno de mestrado em
Matemática da UFPI e principal suspeito de ter assassinado a estudante
Janaína Bezerra, disse, em depoimento à Polícia Civil, que após perceber
que a vítima estava ensanguentada “e fria”, teria pedido a ajuda de um amigo
identificado apenas como José Vitor, para levar Janaína ao hospital. Thiago
Mayson é o principal suspeito de ter assassinado e violentado sexualmente a
estudante de Jornalismo na madrugada do último sábado (29).

Thiago Mayson. Foto: Arquivo pessoal
No depoimento de Thiago, ao qual
o Portalodia.com teve acesso, o suspeito relatou ter
encontrado Janaína na calourada que ocorria na UFPI por volta de 2h da
madrugada. Ele, então, teria convidado a estudante para ir a uma sala de estudos
do curso de Matemática. O aluno disse que tinha a chave da sala, pois já tinha
o costume de dormir no local.
Thiago alega que teve relações
consensuais com a vítima por duas vezes. Na segunda, Janaína, que estava em
cima de um colchão no chão, teria desmaiado e, nesse momento, poderia ter
batido a cabeça. Por volta das 6h da madrugada, o suspeito diz que acordou e
percebeu que a estudante ensanguentada e “fria”.
“Coincidentemente, um colega do
interrogado, de nome Vitor, mandou mensagem perguntando onde o mesmo estava.
Que relatou a situação para Vitor e o mesmo aconselhou que levasse a jovem para
o hospital. Que Vitor se encontrava na Universidade Federal curtindo e veio ao
encontro do interrogado. Que o interrogado pediu um Uber para levar Janaína ao
Hospital Universitário, mas logo que saía da sala com Janaína nos braços,
juntamente com o colega de nome Vitor, se depararam com um segurança da UFPI e
na sequência apareceu um outro segurança que faz ronda no veículo”, diz o
depoimento.
O depoimento do suspeito, no entanto,
não condiz com o que foi apurado até o momento sobre o caso. De acordo com a
Polícia Civil, Janaína morreu após ser violentada sexualmente e ter o pescoço
quebrado. Ele poderá ser indiciado pelos crimes de feminicídio e estupro.
"O policial que se baseia na confissão do criminoso ele está fadado a falência, porque eu posso confessar um crime para desvirtuar outro ou para mentir. O que tem são as coletas de provas que foram muito bem levantadas contra ele. Ele teria chamado ela para um local mais ermo, tanto que ela entregou a bolsa para colega e saiu com ele só com o celular. Depois de meia hora a colega ligou, passou mensagem e ela disse que estava bem. E depois não tiveram mais contato. Tentou, mas não tiveram mais contato. A colega disse que saiu da calourada por volta das 6h esperando que ela tivesse contato", afirmou o coordenador do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o delegado Francisco Costa Barêtta.

Foto: Assis Fernandes/O Dia
Segundo o laudo do Instituto de
Medicina Legal (IML), a causa da morte aponta para trauma raquimedular por ação
contundente, ou seja, houve uma contusão na coluna vertebral a nível cervical,
o que causou lesão da medula espinhal e a morte. De acordo com o IML, a ação contundente
pode ter sido causada por pancada, torcendo a coluna vertebral ou
traumatizando, ação das mãos no pescoço com intuito de matar ou fazer asfixia,
queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas junto às
investigações do caso.
"Nosso sonho virou nosso inferno", diz amiga
A estudante, Raynara da Silva, estava junto com Janaína Bezerra na última sexta-feira (27), na calourada no Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPI, dia em que a amiga foi morta. Segundo ela, as duas eram amigas de infância e tinham o sonho de cursarem o ensino superior. Com o crime, a estudante relata que o sonho "virou um inferno". Muito emocionada, a estudante lembrou que estava na UFPI para assistir aulas e encontrou Janaína para irem juntas à calourada.

Foto: Assis Fernandes/O Dia
"A gente era amiga desde pequena, desde quando ela tinha quatro e eu três anos. A gente tinha sonhos, sonhamos com o ensino superior porque na nossa família não tinha ninguém [que tivesse]. Nós fomos a primeira de cada família a entrar na universidade. Foi uma conquista. Tudo que eu tenho com ela hoje são as lembranças e esse sonho, que hoje virou nosso inferno", relata a estudante.
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