Os rappers Preto Kedé e Lu foram conduzidos à Central de Flagrantes de Teresina na tarde de ontem (25). A dupla, juntamente com o fotógrafo Renato Bezerra, filmava cenas para o novo clipe do grupo A Irmandade no bairro Parque Piauí, localizado na zona Sul de Teresina.
De acordo com Renato Bezerra, que faz trabalhos de fotografia para A Irmandade de forma voluntária, policiais da Força Tática do 6º Batalhão da Policia Militar ficaram irritados porque ele filmou a ação da polícia durante uma abordagem. �€œNão imaginava que fazer imagens em via pública era proibido. Os policiais fizeram um verdadeiro filme, apontado pistolas e metralhadores para minha cabeça e dos garotos que fazem parte do grupo de RAP�€, disse.
O fotógrafo afirma, ainda, que os policiais agiram de forma truculenta, agredindo os músicos da A Irmandade. �€œBateram nos rapazes, simplesmente porque um deles disse que ali todos eram trabalhadores. Revistaram meu carro, mas, como não encontraram nada, tomaram câmera, colocaram algemas em dois deles e os levaram no porta-malas da viatura para a Central de Flagrantes�€, acrescenta.
(Foto: Renato Bezerra)
Na Central de Flagrantes os policiais registraram um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por desacato à autoridade por parte dos rappers. Renato, que não foi detido, recuperou seus equipamentos fotográficos apreendidos e todos foram liberados em seguida. O portalODIA.com tentou, mas não conseguiu contato com o Preto Kedé.
A assessoria de comunicação da PM informou que o caso ainda não foi notificado à Corregedoria da Polícia Militar. �€œAté agora o que soubemos é que eles foram conduzidos à Central. A corregedoria está de portas abertas para ouvir a denúncia e investigar a ocorrência�€™, garante o major Adriano Lucena. O corregedor da PM não foi localizado para comentar o episódio.
Sobre A Irmandade
O grupo A Irmandade relata em suas letras o cotidiano da periferia de Teresina. Em 2013, Preto Kedé teve o nome envolvido em uma polêmica com o capitão Fábrio Abreu (futuro secretário estadual de Segurança) após a repercussão do rap "Marginais Fardados".
"A Irmandade desenvolve trabalho com jovens da comunidade. Ao contrário do que a polícia pensa, nenhum de nós somos envolvidos com droga ou criminalidade. Queremos é tirar a juventude desse mal através do rap", explica Renato Bezerra.
Sindicato dos Jornalistas publica nota de repúdio
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Piauí publicou nota de repúdio sobre o episódio. O Sindjor se posiciona contra a "covarde agressão praticada por policiais da Força Tática" ao fotógrafo e também jornalista Renato Bezerra e aos integrantes da A Irmandade.
"A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Piauí vem a público manifestar o seu repúdio à covarde agressão praticada por policiais da Força Tática contra o jornalista Renato Bezerra e um grupo de jovens das Vilas Santa Cruz e São José, que foram agredidos e conduzidos arbitrariamente para a Central de Flagrantes. A Secretaria de Segurança e o comando da Policia Militar têm a obrigação e o dever de apurar rigorosamente o caso e punir os policiais agressores, que agiram como se estivessem acima da lei. �‰ preciso dar um basta na violência policial contra cidadãos indefesos, comum hoje em dia principalmente em bairros da periferia. A violência sofrida pelo jornalista Renato Bezerra e os jovens do grupo de Rap Irmandade mostra o quanto é urgente e necessário que o Ministério da Justiça defina um protocolo de atuação das forças de segurança pública, baseado no princípio da não agressão, de respeito ao trabalho do jornalista, com a orientação de que a polícia se abstenha de apreender os equipamentos de trabalho dos profissionais de comunicação. Vamos aguardar que providências sejam adotadas e que os policiais agressores, que podem facilmente ser identificados, sejam punidos na forma da lei."