É cultural e quase unanimidade o fato de o celular ter se tornado uma espécie de extensão das pessoas na atualidade. Onde a gente vai leva o aparelho e se desconectar se torna um desafio e tanto para quem está acostumado a passar o dia interagindo nas redes sociais e trocando mensagens. O problema é que, se por um lado o celular facilita a comunicação, por outro se converte em um fator de risco em certas situações. O trânsito é uma delas.
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Levantamentos feitos pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) apontam que o celular é responsável por quase 50% das ações que resultam em falha de atenção ao conduzir veículo automotor. Os smartphones são a terceira causa de mortes no trânsito no Brasil e ficam atrás apenas do uso de álcool e do excesso de velocidade.
Em Teresina, esta realidade não é diferente. Pelo menos 10 condutores são multados por dia na capital piauiense por usarem o celular enquanto dirigem ou pilotam veículo automotor. Somente de janeiro a março deste ano, a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (Strans) autuou 389 motoristas dirigindo veículo segurando telefone celular; 341 pessoas dirigindo e manuseando o celular e mais 223 motoristas dirigindo e utilizando o telefone.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Dirigir segurando e manuseando o celular é considerada infração gravíssima no trânsito e está sujeita a multa de até R$ 297 de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito. Esse valor pode ainda ser multiplicado conforme o risco de gravidade do acidente que usar o celular pode causar. O gerente de Educação no Trânsito da Strans, Reginaldo Canuto, explica porque os smartphones são um fator perigoso quando aliados à direção.
“O desvio de fração de segundos na atenção do motorista pode causar um acidente porque cada segundo, dependendo da velocidade, dá uma média de deslocamento enorme. O simples fato de você abaixar ou desviar a vista do trânsito para checar uma notificação já lhe torna capaz de causar um acidente grave. Se você estiver trafegando a 80 Km/h, por exemplo, vai ter um deslocamento de até 100 metros nos quais você pode atropelar uma criança, atingir um adulto ou não ter tempo de fazer alguma manobra para desviar de algo”, explica.
Reginaldo Canuto é gerente de Educação no Trânsito da Strans - Foto: Assis Fernandes/O Dia
Mas e para aqueles que dependem do celular para trabalhar, como é o caso dos motoristas de aplicativo? O gerente da Strans afirma que o Código Brasileiro de Trânsito não faz qualquer distinção entre motoristas de aplicativo e os demais motoristas que manuseiam o aparelho enquanto dirigem. A lei é a mesma e o que deve haver é bom senso por parte do condutor em parar nos locais adequados para checar a rota e se comunicar com o passageiro.
“Se não sabe o endereço, pare no acostamento, verifique e só depois de verificado, volte à pista. Se o motorista de aplicativo for flagrado manuseando o celular enquanto dirige por um agente de trânsito, ele pode ser autuado. E mesmo para aquele que posicionam o aparelho em um local que não desvie tanto a vista do trânsito, o simples fato de eu não estar olhando para frente e sim para a tela do celular já me coloca em risco de provocar um acidente grave”, pontua Reginaldo Canuto.
As 953 multas por uso do celular enquanto está dirigindo em Teresina são subnotificadas e a própria Strans admite isso. O que mais dificulta essa fiscalização mais efetiva e próxima da realidade é a impossibilidade de ter agentes de trânsito posicionados em todos os pontos estratégicos da cidade para cobrir uma área maior. Há ainda os casos em que os motoristas entram com recurso contra a autuação, o que pode levar estes números para baixo.
o simples fato de não estar olhando para frente e sim para a tela do celular já cria risco de provocar um acidente grave - Foto: Assis Fernandes/O Dia
É que quanto o condutor é autuado, esse auto de infração é processa administrativa na Strans e o indivíduo recebe a notificação em casa com 30 dias para recorrer. Caso haja recurso, o processo será analisado por uma junta competente e a palavra final cabe ao superintende municipal de Transporte e Trânsito. Só depois disso é que o motorista pode ser penalizado. A multa depende da gravidade da infração, que pode ser leve, média, grave e gravíssima. A multa pode chegar a quase R$ 300,00 podendo ser multiplicada conforme o risco causado pelo condutor a si mesmo e aos demais transeuntes.
É importante ressaltar que ser multado por usar celular no trânsito também leva à perda do direito de dirigir caso a prática ocorra reiterada vezes ou duas vezes seguidas as infrações gravíssimas. Se o condutor acumular 40 pontos perdidos em sua CNH, ele pode ter o direito de conduzir cassado.
O gerente de Educação no Trânsito de Teresina faz um apelo: “Segurança no trânsito é um direito e responsabilidade de todos. Todos nós temos que ter cuidado por nós e pelos outros. A gente chama a atenção da sociedade para que possamos mudar essa realidade e assumir as nossas responsabilidades, porque as normas de trânsito foram criadas para preservar vidas”, finaliza.