São nos palcos que histórias ganham vida, emoções se desdobram e vozes se erguem. Já dizia Augusto Boal: “a teatralidade é essencialmente humana”. Como uma das manifestações mais antigas da humanidade, o teatro desempenha um papel fundamental na sociedade, não somente porque provoca reflexões sobre nossa forma de ver o mundo, mas também por ser um grande agente de transformação social.
Na próxima sexta-feira, 19 de setembro, é comemorado o Dia Nacional do Teatro, uma data que destaca a importância das artes cênicas enquanto forma de expressão política e cultural. Há quem diga que o teatro é uma das formas mais eficazes de espelhar a sociedade em que vivemos. Ao assistirmos uma peça, nos permitimos tentar compreender as experiências e desafios ali expostos.
“O teatro é uma forma de expressão política. Ele fala de questões que fazem parte do ser humano e possibilita que pensemos nossos pontos de vista. A arte cênica salva, pois ela possibilita jovens que estão em situação de risco, por exemplo, lidem com o mundo de uma maneira melhor. Por isso que utilizamos a expressão ‘a arte salva’. Não somente o teatro, mas a cultura de forma geral”, afirma João Vasconcelos, diretor do Theatro 4 de Setembro, um dos principais espaços culturais do Estado.
Para Amanda Magalhães, de 23 anos, os ensinamentos do teatro são a sua base. Foi em meio aos palcos do João Paulo II, um teatro localizado no Dirceu, zona sudeste de Teresina, que ela encontrou sua paixão de alma: ser uma artista cênica. “O teatro faz parte da minha história”, diz Amanda.
Ainda criança, a artista começou a frequentar o local. Inicialmente, Amanda começou com o balé, mas logo se apaixonou pelos estudos teatrais e pela dança. “Sou uma artista do corpo, foi o teatro que me fez ser o que sou hoje. Comecei com dez anos de idade no balé clássico, depois fui para a dança contemporânea. Já com 14 anos, conheci o estudo do teatro. Um ano depois, entrei na companhia de teatro Shangri-lá, que existe até hoje”, relembra.
A artista cênica explica que o teatro João Paulo II tem uma grande relevância social, principalmente em sua comunidade. “É um teatro em meio a periferia e isso traz uma maior proximidade com a arte e a cultura. Nós fazemos laços muito fortes lá dentro e isso fortalece qualquer coisa. O João Paulo II é um suporte à nossa comunidade. Todos artistas do Dirceu, em algum momento de suas vidas, se cruzaram dentro do teatro. E isso reafirma a potência dessa casa”, comenta Amanda Magalhães.
Em meio às aulas de dança e peças teatrais, a jovem de 23 anos pôde entender o que significa encenar. Para ela, o teatro é envolto de toda uma complexidade que somente o artista cênico compreende. Hoje, trabalhando como bailarina, professora de teatro e backing vocal ao lado de grandes artistas da cena teresinense, Amanda afirma e reafirma: o teatro faz parte de quem ela é.
A valorização do teatro a partir da educação
A arte teatral tem o poder de cativar, emocionar e transformar vidas. No entanto, essa manifestação é, muitas vezes, subestimada em nossa sociedade. Nesse sentido, a educação é a chave não somente para o surgimento de novos artistas e profissionais, como também para a valorização dessa arte milenar.
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Para João Vasconcelos, a educação teatral precisa começar ainda na infância, pois ao formarmos jovens preocupados com a cena cultural, teremos adultos engajados na teatralidade. “O teatro precisa se tornar parte da grade curricular, desde a infância. Dessa forma, eu creio que conseguiríamos formar uma plateia futura presente nos teatros. Acredito que o que falta é, justamente, a valorização dessa profissão”, aponta.
A artista cênica Amanda Magalhães compartilha do mesmo sentimento. Para ela, o teatro precisa estar inserido não apenas no ensino primário ou fundamental, como também na graduação piauiense.
“Nós somos um dos únicos estados que não possui curso superior de dança ou de arte cênica e isso realmente me entristece. Apesar de termos uma escola técnica, como a Escola Gomes Campos, é preciso ter também o suporte academicista”, acrescenta.