Alguns amam, outros odeiam. Não há meio termo ou condescendência. Quem gosta irá defender, quem não gosta irá criticar. É assim, entre extremos, que o pequi ganha cada vez mais popularidade com a chegada da sua safra. E na temporada do fruto, a rivalidade fica ainda mais evidente.
A propósito, qual o caminho a tomar: pequi, amá-lo ou deixá-lo? Para a professora e autodeclarada “militante do pequi”, Gisele Moraes, o fruto, além de ser atrativo pelos característicos sabor e cheiro, tem em sua vida um lugar afetivo. É que Gisele é teresinense, mas mora na cidade do Rio de Janeiro e, em terras cariocas, pequi é iguaria rara.
“Depois que mudei de Estado, então, minha relação com o negócio ficou ainda mais afetiva, até melancólica, não existe pequi no Rio de Janeiro! Pra que Pão de Açúcar e Ipanema se não tem pequi? Não serve pra nada”, brinca. “Ficou a coisa dessa memória gustativa-afetiva, o pequi tem um gosto e um cheiro muito característicos, não é possível encontrar nada equivalente”, acrescenta.
Quando no pé, o fruto tem um cheiro ameno e equivalente a qualquer fruta fresca, nada de muito excepcional. Mas ao ir à panela, o cheiro se expande, fica forte e, de longe, irreconhecível. É principalmente dessa característica que surge o grande extremo: há quem ache irresistível a ‘fragrância’ do fruto, mas há quem ojerize também.
O pequi também pode ser usado pelas vaidosas de plantão para cuidar da saúde e beleza da pele. Foto: Jailson Soares/ODIA
“Acho que sempre gostei, desde muito pequena eu era da parte da casa que gostava do fruto. Minha família é dividida, quem gosta é minha mãe, irmã e eu; meu pai e irmão odeiam. Quando a gente quer comer, tem que avisar os que não gostam pra não aparecerem em casa (porque tem a coisa do cheiro, né? esse povo que não gosta, enche o saco com o cheiro), eu amo isso, fica uma coisa das mulheres da casa, como uma rebeldia inocente”, lembra Gisele.
Para se comer o pequi, é necessário manejo adequado. No caroço, por debaixo da polpa, há inúmeros e minúsculos espinhos que podem causar sérios ferimentos à língua e aos lábios. Portanto, não se deve morder o pequi, mas sim roê-lo.
Consome-se cozido, puro ou misturado com arroz, frango ou feijão, mas o fruto também pode entrar em receitas de sobremesa. “Quando volto pra Teresina, sempre tem algo com pequi, sim; mesmo que não seja na época dele, minha mãe dá um jeito de congelar pra ter em qualquer parte do ano. Eu tenho preferência pelo tradicional baião com pequi mesmo, mas no frango ao molho também fica maravilhoso”, afirma Gisele.
Com safra de outubro até meados de março, o fruto começa a ter presença fixa no cardápio principalmente das regiões Norte e Nordeste do país. Considerado o ‘ouro do cerrado’, o pequi também gera renda e auxilia na preservação do meio ambiente.