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Cemitérios próximos ao Rio Parnaíba podem estar contaminando águas com "necrochorume"

Substância é liberada pelos cadáveres em decomposição a partir de seis meses após o óbito; Cemitérios São José e Santa Maria da Codipi podem ser potenciais poluidores de aquíferos.

01/11/2022 08:06

Teresina possui 12 cemitérios municipais nas quatro zonas da cidade (Norte, Sul, Leste e Sudeste). E às vésperas do Dia de Finados (02), muitos deles recebem reparos na pintura, capina e limpeza dos túmulos. Porém, algo pouco abordado é se esses locais estão atendendo as normas ambientais que impedem a contaminação do solo e da água com o chamado “necrochorume”. Trata-se de uma substância resultante do processo de decomposição de cadáveres. 

Cemitério São José, em Teresina (Foto: Assis Fernandes / O DIA)

O Portal O Dia conversou com o professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI) Mauro César Sousa, engenheiro civil e Doutor em Saneamento e Recursos Hídricos, pela Universidade Federal do Ceará. Ele desenvolveu uma pesquisa sobre o hoje desativado Cemitério Areias, no bairro Promorar, em Teresina. “Existia a preocupação de que o cemitério estaria contaminando o aquífero ali da região, tem uma indústria nas imediações que utiliza água subterrânea. Mas também havia a preocupação de contaminação do Rio Parnaíba”. 

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)

O Cemitério Areias fica a apenas 319 metros do Rio Parnaíba. “Quando iniciamos a investigação na região, buscamos entender o solo da região e também instalar quatro poços de monitoramento para ver os aspectos relacionados a qualidade da água. A distância necessária de 1,5m entre a cova e o limite da água do aquífero freático, nós descobrimos que lá essa distância era de apenas 38 centímetros”. Sem contar com o tipo de terreno, altamente permeável e que facilitaria a infiltração do necrochorume.


Caso levanta questionamento sobre outros cemitérios de Teresina

A descoberta de necrochorume vindo do Cemitério Areias, com grande risco de ter contaminado aquíferos da região, levanta a discussão sobre o mesmo problema estar acontecendo em outros cemitérios de Teresina. O professor Mauro exemplifica dois locais que requerem atenção por parte dos órgãos ambientais. “Em Teresina, nós temos cemitérios construídos muito recentemente. Esses certamente obedecem às resoluções do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Mas existem outros cemitérios que são mais antigos na capital. E talvez, eles não estejam adequados aquilo que preconiza a resolução do CONAMA”. 

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)

“Existe o caso do cemitério da Santa Maria da Codipi, que ele é na mesma configuração do Areias: é colocado às margens do rio, possivelmente ali tem areia e precisaria ser investigado”, alertou o professor. O São José seria um outro ponto interessante para fazer investigação. Primeiramente, saber sobre o licenciamento e em que pé está. E saber se há algum ponto de monitoramento para ficar testando a qualidade da água”. 

O cemitério São José fica a cerca de 640 metros do Rio Parnaíba. Já o da Santa Maria da Codipi, fica a 1,09km de distância do mesmo rio. 


O que diz a Semam

O trabalho de investigação sobre a possibilidade de poluição ambiental em cemitérios de Teresina foi realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Semam, em parceria com as antigas SDUs -- atuais SAADs --, sob acompanhamento do Ministério Público do Estado do Piauí, MPPI, por meio da 24° Promotoria de Justiça de Teresina. 

A Semam, no entanto, não possuía, como não possui atualmente, laboratório e/ou equipamentos técnicos que possam aferir a existência ou não de poluição ambiental nos cemitérios municipais. Por essa razão, na época, as SDUs assumiram o compromisso de contratar laboratórios químicos creditados pelo Inmetro para a realização de análises de possíveis contaminações com a percolação de necrochorume. 

Entramos em contato com a SAAD, para se posicionar sobre o caso, mas até agora não recebemos retorno. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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