Encerrando a série de reportagens sobre saúde mental, o Jornal O Dia traz na edição desta sexta-feira (16) uma matéria falando sobre a desesperança e como ajudar uma pessoa que se encontra nesta condição.
“Quando você não vê
opções à sua frente, o hoje perde seu significado. Então, sempre que houver
desesperança, é preciso prestar atenção e estar presente”. A explicação da
psicanalista Paula Fontenelle chama atenção para o sentimento de desesperança,
que é um dos principais fatores de risco ao suicídio porque afunila a visão de
futuro da pessoa. Frente a uma situação dessa, a psicanalista pontua que
conversar abertamente com a pessoa em desesperança é o melhor caminho.
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“Um dos mitos acerca do suicídio é que se a gente perguntar a uma pessoa se ela está pensando em tirar a própria vida, isso poderá provocar a morte autoinfligida, mas isso não é verdade. O que ocorre é o contrário, o indivíduo se sente aliviado de poder se abrir com alguém que levantou essa possibilidade, que se propôs a ouvir, mesmo que o tema o assuste. Esse ato em si é uma porta que se abre para que as emoções sejam processadas e para que essa pessoa se sinta menos sozinha com a sua dor”, pondera.
A psicanalista Paula Fontenelle orienta que se coloque no lugar do outro para ouvi-lo (Foto: Reprodução/Henrique Pontual)
Paula Fontenelle detalha como guiar essa conversa. “Antes de mais nada, é preciso se preparar para uma conversa que será difícil e dolorosa. Acredito que saber do peso dessa troca é importante porque te dá a chance de refletir e evitar julgamentos”, afirma.
Por isso, essa escuta precisa de alguns cuidados. “Por exemplo, nada de qualificar o sentimento e a dor do outro. Certo e errado, conceitos comumente associados ao suicídio, devem ficar de fora. É preciso ter ciência de que suicídio é relacionado a uma dor insuportável e não necessariamente com o desejo de morrer. O que a pessoa busca é o fim da dor, uma dor que paralisa, que isola”, descreve.
Tendo esses pontos em vista, a psicanalista orienta ouvir tentando se colocar na posição do outro e perguntar diretamente: ‘como posso ajudar?’. “Essa ajuda se materializa de diversas formas. Na própria escuta, que ampara, em oferecer diferentes ângulos sobre a crise que a pessoa enfrenta, de pegar pela mão e ser proativo nessa ajuda, de construir um grupo de amparo, enfim, o que for necessário para dissipar a nuvem que persegue quem está vulnerável ao suicídio”, indica.
Rede de apoio
Paula Fontenelle lembra que a desesperança não necessariamente está relacionada a um quadro de depressão ou de transtornos mentais e destaca a importância do acompanhamento profissional e também familiar para ajudar essa pessoa. “A terapia oferece um espaço confidencial e acolhedor. É uma oportunidade de a pessoa processar a sua dor, ouvir perspectivas diferentes sobre a crise que enfrenta, e ter um tratamento específico sobre as questões que o paciente necessita explorar. Já o psiquiatra ajuda quando há necessidade de medicação, como nos casos de diagnósticos como depressão. Os remédios nem sempre são indicados, mas ajudam muito a estabilizar o paciente para que possa sair da imobilidade, por exemplo. Em alguns casos, o próprio psiquiatra oferece a opção de terapia”, detalha.
Sobre o apoio de amigos e familiares, a psicanalista destaca que todas as pesquisas mostram que o que mais ajuda a enfrentar crises pessoais, sejam elas acompanhados ou não de transtornos mentais, é um grupo de suporte sólido, o que quer dizer, pessoas que ofereçam amor, cuidado, empatia e presença na vida do outro.
Teresina oferece acompanhamento gratuito
A rede municipal de saúde de Teresina oferece tratamento gratuito às pessoas com sofrimento psíquico. Para serem atendidos, os pacientes devem procurar diretamente o Caps de sua região (Centro de Atenção Psicossocial) ou ser encaminhado pelo Programa de Saúde da Família (PSF) ou por qualquer serviço de saúde. A pessoa, maior de 18 anos, pode se dirigir ao local sozinha ou acompanhada, das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira.
A gerente de Saúde Mental da Fundação Municipal de Saúde de Teresina (FMS), Isabel Karine, destaca que, mesmo com a pandemia do novo coronavírus, os Caps estão atendendo à crise, realizando triagens e acolhimento. Os ambulatórios também continuam os atendimentos, assim como o Provida - ambulatório especializado que atende especificamente pessoas com ideação suicida ou com histórico de tentativa de suicídio. “Basta a pessoa se direcionar ao serviço com seus documentos pessoais, no caso do Provida e Caps. Para atendimento ambulatorial, ela pode ser encaminhada da Atenção Básica, Caps e Provida pelo gestor saúde”, completa.
Segundo a Gerência de Saúde Mental da FMS, ao longo de 2020, foram realizados 45.632 atendimentos desta natureza em Teresina. Já em janeiro e fevereiro de 2021, os Caps realizaram 8.096 atendimentos individuais, 5.009 atendimentos familiares, 3.323 atendimentos à crise e 576 triagens. Vale destacar que, no Caps, o usuário encontra psiquiatra, psicólogo, enfermeira, terapeuta ocupacional, assistente social e uma equipe de apoio, que oferece atendimentos individuais, em grupo, atividades comunitárias, oficinas terapêutica e atendimento para a família (visita domiciliar, grupo de familiares).
Provida é o ambulatório especializado para pessoas com ideação suicida (Foto: Arquivo ODIA)
Contatos
O teresinense que estiver precisando dos serviços do Provida, pode se deslocar até o prédio do CMAM, na Rua Desembargador Freitas, nº 1599, Centro. O telefone de contato é (86) 3215-7709.
Já para saber os endereços e telefones dos Caps de cada região em Teresina, mire a câmera do seu celular neste QR Code, que você será direcionado à pagina:
Por: Virgiane Passos - Jornal O DIA