Há mais de um ano, os moradores que residem na Rua Monteiro Lobato, no bairro Parque Alvorada, zona Norte de Teresina, sofrem com o descaso de uma obra inacabada. O que teria iniciado como um reparo para consertar um vazamento, tornou-se um transtorno e tem colocado em risco a vida da população da região. Desde setembro de 2021, os moradores cobram da Prefeitura e da Águas de Teresina a conclusão da obra.
José Francisco da Silva mora na Rua Monteiro Lobato há mais de 50 anos. Ele conta que o problema na via iniciou quando surgiram alguns vazamentos. A população teria acionado a Água de Teresina para realizar os reparos. Após inúmeras tentativas, uma equipe da concessionária se deslocou até o local. “Eles vieram em setembro de 2021, eles [Águas de Teresina] olharam e disseram que o problema não tinha vazamentos, mesmo sendo visível. A água continuou brotando da rua e eles não fizeram nada. Quase um ano depois, em outubro de 2022, depois de muita luta nossa, eles voltaram aqui e começaram a cavar os buracos, mas novamente disseram que não tinha cano quebrado. Usaram um trator para figurar as ruas, quebraram vários canos de água das casas e tiraram o vazamento”, relata o morador, explicando que as máquinas foram retiradas do local, mas a cratera não foi fechada.
José Francisco da Silva conta que a lama chega a invadir as residências durante o período chuvoso (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Com a obra, a rua ficou completamente interditada, prejudicando o deslocamento da população, mas os transtornos são ainda maiores. O morador conta que, quando chove, a rua é completamente tomada pelas águas e por pouco não invade as residências. A lama se acumula em frente às residências, expondo a população a doenças e risco de quedas.
A comerciante Domingas de Cerqueira contabiliza os transtornos e prejuízos. Ela, que trabalha em um restaurante, precisou fechar o estabelecimento e trabalha apenas fornecendo quentinhas. A empreendedora estima que teve prejuízo de 70% em seu lucro. Domingas, juntamente com outros moradores, fizeram um abaixo-assinado e buscaram o Ministério Público na tentativa de conseguirem uma solução da problemática.
“Tudo isso é por conta da Rede Sanear mal feita. Os engenheiros da Prefeitura e da Águas de Teresina vieram aqui e disseram que essa galera está completamente comprometida, que precisa ser feita uma nova, mas a Prefeitura disse que não tem dinheiro. Nisso, os dejetos ficam no meio da rua, ficamos expostos às doenças e ao perigo. Há dois meses, uma criança caiu dentro desse esgoto e só não morreu porque um morador viu e socorreu. Aqui moram muitos idosos e corre o risco deles caírem, de ficarem doentes”, relatou.
A comerciante Domingas de Cerqueira relatou que uma criança quase morreu ao cair dentro da cratera (Foto: Assis Fernandes/ODIA)
Segundo Domingas, além do transtorno, os moradores ainda precisam pagar a taxa da Rede Sanear. “A gente paga a taxa do Sanear e não usa. É o mesmo valor que a gente gasta de água, então se a gente gasta R$150 de água, a taxa é o mesmo valor, sendo que não temos nada, por isso entramos em contato com o Ministério Público, que deu 30 dias para a Prefeitura se manifestar, mas ainda não chamaram a gente. E nem o MP nos atende. Eu só quero uma audiência, para mostrarmos nossa realidade”, complementa a comerciante.
O transtorno se estende também por outra via, além da Monteiro Lobato. A Rua Dídimo Castelo Branco está completamente destruída e alagada. Algumas casas já apresentam danos, como rachaduras e, em uma delas, a moradora precisou deixar o imóvel, já que a estrutura está comprometida.
Contraponto
Por meio de nota, a Superintendência das Ações Administrativas Descentralizadas (Saad) Centro informou que vem acompanhando de perto a situação do bairro Parque Alvorada. O órgão reforçou que fez a instalação de duas bombas em um ponto próximo das ruas Monteiro Lobato com a rua Zuca Lopes, trecho mais crítico da região, no final do ano passado e a outra recentemente. Além disso, a Saad Centro pontuou que, ainda na próxima semana, serão iniciados os procedimentos de fechamento da vala, a pavimentação e, posteriormente, o asfaltamento.
A Águas de Teresina também enviou nota informando que a situação do Parque Alvorada não é de sua responsabilidade. Já foi constatado, após vistoria conjunta com engenheiros da Saad Centro que não há vazamento de água no local. Durante sondagem ficou confirmado que trata-se de entupimento na rede de drenagem urbana, o que impede a fluidez da água pela galeria e chega a transbordar em via pública.
Desta forma, a concessionária destaca que o trabalho a ser executado no local não está dentro do seu escopo de serviços. Para informar problemas de vazamentos é importante que os usuários utilizem os canais oficiais. Gratuitamente, a população dispõe de atendimento 24 horas pelo 0800 223 2000.