Continuando as reportagens sobre saúde mental, nesta quinta-feira (15), o Jornal O Dia traz uma matéria falando sobre depressão e os cuidados que amigos e familiares devem ter com esse paciente. Para encerrar a nossa série especial, nesta sexta-feira (16) vamos falar sobre como podemos ajudar alguém em desesperança e onde buscar ajuda profissional gratuitamente em Teresina.
Ouça com empatia. É a partir desta afirmação que a psicóloga
Layse Policarpo orienta amigos e familiares que convivem com uma pessoa em depressão –doença psiquiátrica crônica, incapacitante, que atinge cerca de 350
milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS).
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Ansiedade desencadeia sintomas físicos, comportamentais e emocionais
Dentro deste contexto, a psicóloga Layse Policarpo destaca
que todos podem ajudar o paciente, desde que não neguem a doença e nem julguem
o paciente. “Não é preguiça, não é fraqueza e não desaparece se ignorar. Converse
abertamente, inclusive se o assunto for suicídio. Ouça com empatia, entenda os
reais pensamentos, sentimentos e necessidades da pessoa. Ajude-o no dia a dia,
você pode cozinhar, ajudar a acordar, estar junto pra socializar”, indica.
A profissional explica que alguns sintomas da depressão
podem se manifestar de maneira branda e a doença ser confundida com uma
tristeza transitória, por exemplo. “Todos nós nos sentimos desanimados em algum
momento, às vezes até por um período. No caso da depressão, os sintomas podem
se manifestar de maneira branda e é onde a depressão e a tristeza são muito
parecidas. Algumas pessoas se sentem cansadas ou tristes ‘sem motivo’. Alguns
acreditam que estão passando por uma fase ruim e não pedem ajuda”, compara.

A psicóloga Layse Policarpo destaca a importância de ouvir o
outro com empatia (Foto: Arquivo pessoal)
Mas, Layse lembra que, quase sempre, a depressão é
desencadeada após uma série de acontecimentos ruins, trazendo sensações de
incapacidade e inutilidade. “Os principais sintomas da depressão são: tristeza
profunda, distúrbios do sono, pensamentos negativos, desânimo e apatia, baixa
autoestima, desleixo com a aparência, dores físicas, isolamento, rejeição,
irritabilidade, choro frequente, falta de vontade de fazer atividades simples,
mudanças comportamentais bruscas, rejeição a determinados assuntos. Estes são
sinais que devem despertar atenção”, lista.
Outros sinais podem passar até despercebidos, como a
desconexão, que ocorre quando a pessoa com depressão passa a se desconectar de
pessoas, lugares, atividades, compromissos. “Ela começa a ter um
distanciamento, inclusive de pessoas e afazeres que antes eram prazerosos”,
completa Layse.
E vale lembrar que depressão não tem cara, classe social,
raça, faixa etária. “Cada pessoa manifesta suas dores de uma forma muito
particular. Algumas conseguem continuar se arrumando e mantendo contato social,
outras não. É importante perceber o contexto por completo, mudanças que algumas
vezes são sutis”, reforça a psicóloga.
Por fim, Layse destaca que existem alguns fatores de risco
para a depressão, como histórico familiar e pessoal, perdas recentes ou eventos
traumáticos, aspectos emocionais, como resiliência, tolerância à frustração,
sensação de desamparo e desesperança. “Por isso, ao perceber os sinais, é
importante que as pessoas próximas auxiliem na busca por um acompanhamento psicológico,
sobretudo para evitar que os sintomas se intensifiquem. Ainda existe muito tabu
acerca da temática, mas a intervenção logo no início faz uma diferença muito
grande”, reforça.
Estigma adia diagnóstico e tratamento
O estigma em torno das doenças mentais é um dos maiores
entraves históricos ao adequado diagnóstico e tratamento dessas patologias.
Segundo o psiquiatra Ediwyrton Barros, estima-se que de cada 10 pessoas que
precisem de ajuda psiquiátrica, apenas duas efetivamente terão; os demais ou
não buscam/têm acesso a serviços médicos, ou buscam médicos de outras
especialidades por medo do estigma.
“O preconceito com a doença, com o tratamento, extensivo à
busca por profissionais especializados, acaba por adiar o correto diagnóstico,
levando a pior prognóstico e risco de cronificação da doença, além de acarretar
maior prejuízo pessoal, social e funcional ao indivíduo”, avalia o médico.
Ediwyrton explica que o tratamento adequado para depressão e
qualquer doença mental ou sofrimento psíquico compreende uma abordagem
multidisciplinar, em que estão envolvidos o acompanhamento com psiquiatra,
psicólogo e outros profissionais que sejam necessários à cada caso, como
terapeuta ocupacional, educador físico, psicopedagogo, assistente social, etc.
“O tratamento da depressão e do comportamento de autoagressão de origem
multifatorial também deve ser multi e interdisciplinar”, completa.

O psiquiatra Ediwyrton Barros alerta que o diagnóstico
tardio aumenta risco de cronificação da doença (Foto: Arquivo pessoal)
Segundo o psiquiatra, o tratamento medicamentoso dos quadros
depressivos é feito necessariamente com uso de antidepressivos, mas não só
estes. “Dependendo da sintomatologia e da gravidade, pode ser necessária a
adição de ansiolíticos, indutores de sono, antipsicóticos, estabilizadores de
humor e até suplementos alimentares. Também faz parte da avaliação
médico-psiquiátrica inicial a exclusão de eventuais doenças clínicas
(metabólicas, hormonais, neurológicas, infecciosas, etc.) que possam simular,
agravar ou cronificar os sintomas depressivos e que, portanto, também devem ser
tratadas. A avaliação individualizada pelo médico psiquiatra é que poderá
determinar qual ou quais medicamentos são adequados para cada pessoa”,
esclarece.
Estudos evidenciam relação cérebro-intestino
O psiquiatra Ediwyrton Barros revela que estudos recentes
têm cada vez mais avançado na evidência de uma importante relação
cérebro-intestino, ou seja, da relação entre o funcionamento do intestino e os
transtornos mentais.
“Essa relação vai desde a importância da microbiota
intestinal na apresentação dos transtornos mentais, quanto na prevalência de
reações adversas aos medicamentos. Do ponto de vista dietético, a depender do
tratamento em curso, alguns alimentos podem ser contraindicados sob risco de
reações adversas importantes, principalmente com uso de antidepressivos
chamados IMAO (inibidores da monoaminoxidase). Mas, a princípio, de modo
genérico, não existem alimentos proibidos especialmente para pacientes
deprimidos. A avaliação e orientação médicas são o melhor caminho”, argumenta.
O nutricionista André Teles reforça as palavras do
psiquiatra e ressalta que um intestino mal cuidado, ou seja, um intestino com
disbiose, inflamado, a partir de uma alimentação ruim, tem relação com quadros
de ansiedade, de depressão. “Então, o ideal é trabalhar uma alimentação mais
saudável para que a gente tenha um intestino mais saudável e, consequentemente,
uma composição corporal mais saudável, pois isso contribui positivamente para a
redução do quadro de depressão”, pontua.
Levando em consideração esse efeito, André Teles lista os
alimentos que devem ser evitados, são eles: industrializados de um modo geral,
alimentos ultraprocessados, como refrigerantes; também se deve evitar o excesso
de doces, de condimentos, de sódio, pois são alimentos que têm capacidade de
irritar o intestino, além de frituras e embutidos. “Esses são alimentos que têm
capacidade de inflamar o intestino, podendo contribuir para o agravo da
depressão, mas não podemos dizer que esse é um motivo causador, porque é bem
mais profundo do que isso”, esclarece.
Em contrapartida, o nutricionista elenca que os melhores
alimentos a serem consumidos são os mais naturais, especialmente frutas e
vegetais. “Esses alimentos fazem o papel inverso, de reduzir a inflamação do
intestino e, consequentemente, gerar uma melhor sensação para o paciente,
podendo melhorar não só a composição corporal como reduzir esse quadro de
depressão a partir de uma melhoria do estado geral”, conclui.
Por: Virgiane Passos - Jornal O DIA
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