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Depressão: "œNão é preguiça, não é fraqueza", explica psicóloga

Profissional orienta que amigos e familiares não neguem a doença nem julguem o paciente

15/04/2021 08:04

Continuando as reportagens sobre saúde mental, nesta quinta-feira (15), o Jornal O Dia traz uma matéria falando sobre depressão e os cuidados que amigos e familiares devem ter com esse paciente. Para encerrar a nossa série especial, nesta sexta-feira (16) vamos falar sobre como podemos ajudar alguém em desesperança e onde buscar ajuda profissional gratuitamente em Teresina.


Ouça com empatia. É a partir desta afirmação que a psicóloga Layse Policarpo orienta amigos e familiares que convivem com uma pessoa em depressão –doença psiquiátrica crônica, incapacitante, que atinge cerca de 350 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

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Ansiedade desencadeia sintomas físicos, comportamentais e emocionais 

Dentro deste contexto, a psicóloga Layse Policarpo destaca que todos podem ajudar o paciente, desde que não neguem a doença e nem julguem o paciente. “Não é preguiça, não é fraqueza e não desaparece se ignorar. Converse abertamente, inclusive se o assunto for suicídio. Ouça com empatia, entenda os reais pensamentos, sentimentos e necessidades da pessoa. Ajude-o no dia a dia, você pode cozinhar, ajudar a acordar, estar junto pra socializar”, indica.

A profissional explica que alguns sintomas da depressão podem se manifestar de maneira branda e a doença ser confundida com uma tristeza transitória, por exemplo. “Todos nós nos sentimos desanimados em algum momento, às vezes até por um período. No caso da depressão, os sintomas podem se manifestar de maneira branda e é onde a depressão e a tristeza são muito parecidas. Algumas pessoas se sentem cansadas ou tristes ‘sem motivo’. Alguns acreditam que estão passando por uma fase ruim e não pedem ajuda”, compara. 

A psicóloga Layse Policarpo destaca a importância de ouvir o outro com empatia (Foto: Arquivo pessoal)

Mas, Layse lembra que, quase sempre, a depressão é desencadeada após uma série de acontecimentos ruins, trazendo sensações de incapacidade e inutilidade. “Os principais sintomas da depressão são: tristeza profunda, distúrbios do sono, pensamentos negativos, desânimo e apatia, baixa autoestima, desleixo com a aparência, dores físicas, isolamento, rejeição, irritabilidade, choro frequente, falta de vontade de fazer atividades simples, mudanças comportamentais bruscas, rejeição a determinados assuntos. Estes são sinais que devem despertar atenção”, lista.

Outros sinais podem passar até despercebidos, como a desconexão, que ocorre quando a pessoa com depressão passa a se desconectar de pessoas, lugares, atividades, compromissos. “Ela começa a ter um distanciamento, inclusive de pessoas e afazeres que antes eram prazerosos”, completa Layse.

E vale lembrar que depressão não tem cara, classe social, raça, faixa etária. “Cada pessoa manifesta suas dores de uma forma muito particular. Algumas conseguem continuar se arrumando e mantendo contato social, outras não. É importante perceber o contexto por completo, mudanças que algumas vezes são sutis”, reforça a psicóloga.

Por fim, Layse destaca que existem alguns fatores de risco para a depressão, como histórico familiar e pessoal, perdas recentes ou eventos traumáticos, aspectos emocionais, como resiliência, tolerância à frustração, sensação de desamparo e desesperança. “Por isso, ao perceber os sinais, é importante que as pessoas próximas auxiliem na busca por um acompanhamento psicológico, sobretudo para evitar que os sintomas se intensifiquem. Ainda existe muito tabu acerca da temática, mas a intervenção logo no início faz uma diferença muito grande”, reforça.

Estigma adia diagnóstico e tratamento

O estigma em torno das doenças mentais é um dos maiores entraves históricos ao adequado diagnóstico e tratamento dessas patologias. Segundo o psiquiatra Ediwyrton Barros, estima-se que de cada 10 pessoas que precisem de ajuda psiquiátrica, apenas duas efetivamente terão; os demais ou não buscam/têm acesso a serviços médicos, ou buscam médicos de outras especialidades por medo do estigma.

“O preconceito com a doença, com o tratamento, extensivo à busca por profissionais especializados, acaba por adiar o correto diagnóstico, levando a pior prognóstico e risco de cronificação da doença, além de acarretar maior prejuízo pessoal, social e funcional ao indivíduo”, avalia o médico.

Ediwyrton explica que o tratamento adequado para depressão e qualquer doença mental ou sofrimento psíquico compreende uma abordagem multidisciplinar, em que estão envolvidos o acompanhamento com psiquiatra, psicólogo e outros profissionais que sejam necessários à cada caso, como terapeuta ocupacional, educador físico, psicopedagogo, assistente social, etc. “O tratamento da depressão e do comportamento de autoagressão de origem multifatorial também deve ser multi e interdisciplinar”, completa.

O psiquiatra Ediwyrton Barros alerta que o diagnóstico tardio aumenta risco de cronificação da doença (Foto: Arquivo pessoal)

Segundo o psiquiatra, o tratamento medicamentoso dos quadros depressivos é feito necessariamente com uso de antidepressivos, mas não só estes. “Dependendo da sintomatologia e da gravidade, pode ser necessária a adição de ansiolíticos, indutores de sono, antipsicóticos, estabilizadores de humor e até suplementos alimentares. Também faz parte da avaliação médico-psiquiátrica inicial a exclusão de eventuais doenças clínicas (metabólicas, hormonais, neurológicas, infecciosas, etc.) que possam simular, agravar ou cronificar os sintomas depressivos e que, portanto, também devem ser tratadas. A avaliação individualizada pelo médico psiquiatra é que poderá determinar qual ou quais medicamentos são adequados para cada pessoa”, esclarece.

Estudos evidenciam relação cérebro-intestino

O psiquiatra Ediwyrton Barros revela que estudos recentes têm cada vez mais avançado na evidência de uma importante relação cérebro-intestino, ou seja, da relação entre o funcionamento do intestino e os transtornos mentais.

“Essa relação vai desde a importância da microbiota intestinal na apresentação dos transtornos mentais, quanto na prevalência de reações adversas aos medicamentos. Do ponto de vista dietético, a depender do tratamento em curso, alguns alimentos podem ser contraindicados sob risco de reações adversas importantes, principalmente com uso de antidepressivos chamados IMAO (inibidores da monoaminoxidase). Mas, a princípio, de modo genérico, não existem alimentos proibidos especialmente para pacientes deprimidos. A avaliação e orientação médicas são o melhor caminho”, argumenta.

O nutricionista André Teles reforça as palavras do psiquiatra e ressalta que um intestino mal cuidado, ou seja, um intestino com disbiose, inflamado, a partir de uma alimentação ruim, tem relação com quadros de ansiedade, de depressão. “Então, o ideal é trabalhar uma alimentação mais saudável para que a gente tenha um intestino mais saudável e, consequentemente, uma composição corporal mais saudável, pois isso contribui positivamente para a redução do quadro de depressão”, pontua.

Levando em consideração esse efeito, André Teles lista os alimentos que devem ser evitados, são eles: industrializados de um modo geral, alimentos ultraprocessados, como refrigerantes; também se deve evitar o excesso de doces, de condimentos, de sódio, pois são alimentos que têm capacidade de irritar o intestino, além de frituras e embutidos. “Esses são alimentos que têm capacidade de inflamar o intestino, podendo contribuir para o agravo da depressão, mas não podemos dizer que esse é um motivo causador, porque é bem mais profundo do que isso”, esclarece.

Em contrapartida, o nutricionista elenca que os melhores alimentos a serem consumidos são os mais naturais, especialmente frutas e vegetais. “Esses alimentos fazem o papel inverso, de reduzir a inflamação do intestino e, consequentemente, gerar uma melhor sensação para o paciente, podendo melhorar não só a composição corporal como reduzir esse quadro de depressão a partir de uma melhoria do estado geral”, conclui.

Por: Virgiane Passos - Jornal O DIA
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