Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

"É o abandono de um título que deveríamos estar perseguindo", critica arquiteto

Especialista defende que Prefeitura deveria estar mais preocupada em plantar árvores e fazer jus ao codinome

16/08/2021 08:25

O projeto de renomear Teresina de Cidade Verde para Cidade do Sol foi recebido com críticas por parte de alguns especialistas. Para eles, Cidade do Sol é um título apropriado para uma cidade costeira, praiana e não para uma cidade como Teresina, que não oferece tantas oportunidades de aproveitar o sol em momentos de lazer, por exemplo.

Em conversa com O DIA, o arquiteto Fritz Moura afirma que ao invés de mudar o título de Cidade Verde para Cidade do Sol, a administração pública municipal deveria estar mais preocupada em plantar árvores e fazer jus ao codinome que a cidade tem, não em abandoná-lo.

(Fotos: Arquivo ODIA)

Eu vejo como o abandono de um título que a gente deveria estar perseguindo, estar plantando mais. A Prefeitura e a Câmara deveriam estar mais preocupadas com a construção de áreas verdes, de praças, de áreas de lazer, parques que vão melhorar o clima da nossa cidade ao invés de simplesmente constatar e incorporar que Teresina está ficando cada vez mais quente exatamente pela falta de cuidado com as áreas verdes”, dispara.

O arquiteto critica o fato de inexistir junto ao poder público um estudo ou convênio com instituições de ensino que coloque em prática projetos de arborização e de conservação das chamadas áreas azuis, ou seja, os rios e lagoas da Capital. Um dos principais problemas para a arborização de Teresina, segundo aponta Fritz, é o sistema de distribuição de energia feito por postes e fios expostos que impedem ou restringem o plantio de árvores em calçadas.

Ele sugere que o sistema de distribuição de energia de Teresina fosse em uma rede embutida e subterrânea, sobretudo na área central, onde há uma maior circulação de pessoas, e o plantio de mais árvores não só traria sombra para o abrigo do sol, como também melhoraria o clima e embelezaria a paisagem urbana. 

“É mais caro, mas no Centro seria possível fazer isso. Fazer as calçadas serem trabalhadas para serem maiores até para permitir uma acessibilidade e também para que pudéssemos fazer uma arborização com vegetação pensada e adaptada para uma região urbana. O problema é que se criou aqui a ideia de que árvore cai folha, suja e entope os bueiros. Fato, acontece. O que tem que ser feito é, junto com a estratégia de plantar árvores, ter uma estratégia de limpeza pública”, explica.

O que também falta em Teresina, de acordo com Fritz, é estimular as pessoas que possuem lotes maiores a plantar vegetação que melhore o ecossistema e que não sirva somente para embelezar a paisagem. “Eu apostaria ainda no título de Cidade Verde no lugar de Cidade do Sol não por uma questão de conservadorismo, mas para trabalharmos e termos condição de sustentar esse título”, finaliza o arquiteto.

Teresina evidencia estreita ligação com o rural

A história de Teresina, de certa forma, pode ser contada por meio da estreita relação com a pecuária. A capital do estado do Piauí, por muito tempo, foi chamada de Vila do Poti, justamente por ter suas raízes na Barra do Poti, onde, em 1760, havia um aglomerado de fogos – casas habitadas por pescadores, canoeiros e plantadores de fumo e mandioca. 169 anos depois, muita coisa mudou e, hoje, rodeada de edifícios e prédios históricos, a cidade que tem como característica o fato de ter sido planejada foi escolhida para ser a sede administrativa do Estado.

“Registros históricos revelam que o local onde existe hoje a zona Leste, um dos principais polos econômicos da cidade, era rodeado de fazendas de gado. A capital do estado do Piauí mudou ao longo dos anos, mas não saiu do meio de fazendas. No passado, o grande sonho dos parnaibanos era poder entrar em uma espécie de padrão do Brasil, que usava capitais litorâneas para se desenvolver. Mas Antônio Saraiva, então presidente da Província do Piauí, determinou colocar a capital aqui, porque estava na frente de dezenas de fazendeiros ricos do Maranhão e que, pela localização, a cidade pegaria parte do outro Estado”, conta o professor de história da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), Fonseca Neto.

Segundo o historiador, a Vila do Poti, localizada na confluência dos rios Parnaíba e Poti, era cortada pelas estradas que ligavam Oeiras à Parnaíba. A localização geográfica privilegiada foi o principal motivo para a instalação da capital Teresina.

“Teresina por mais de 100 anos foi essa cidade mesopotâmica entre um rio e outro. A partir dos anos 70, se expandiu ainda mais e acabou virando a zona Leste do ponto de vista do desenho, da ocupação. Essa região é duas vezes maior do que as zonas Norte e Sul. Tudo isso ligado a velhas fazendas de gado, que é o padrão do Piauí”, completa.

Ainda segundo o historiador, vale ressaltar que a transferência da capital da Província do Piauí de Oeiras para Teresina mobilizou vários protestos da comunidade oeirense e parnaibana, que desejavam, a todo custo, garantir a permanência da capital naquela cidade.

“Saraiva fez a melhor decisão. Ele viabilizou a cidade levando em consideração vários fatores, inclusive, o município de Caxias, no Maranhão. Essa cidade era maior que Teresina nessa época. Então, Saraiva percebeu que se colocassem Teresina a 60 km de lá, tiraria o vigor do comércio da região. Isso está documentado apesar de todas as brigas para tirar Teresina da região que é hoje”, completa o professor.

Para o historiador, o crescimento assertivo de Teresina se deve a decisões históricas passadas. “O desenvolvimento de Teresina, apesar de ser a única capital do Nordeste que não é banhada pelo mar, se deve principalmente às decisões assertivas de Saraiva. O nosso comércio é forte, a centralização de poder também. As áreas hoje valorizadas estão todas em torno de fazendas, evidenciando assim nossa estreita ligação com o rural”, finaliza.

Mais sobre: