A tragédia que ocorreu no litoral norte do Estado de São Paulo e que já deixa mais de 40 mortos acendeu um alerta para os riscos de desastres naturais provocados pela ocupação desordenada do espaço urbano. As moradias construídas nas áreas de morros e encostas em geral são as mais afetadas quando cai uma chuva mais forte. Em Teresina, a situação não é diferente. A cidade cresce horizontalmente e essa expansão territorial muitas vezes se dá em locais que não deveriam ser ocupados.
O Mapa de Prevenção de Desastres do Serviço Geológico Nacional (CPRM) aponta que Teresina possui 10 áreas de risco para a ocorrência de desastres naturais. Em Cinco bairros, há risco de deslizamento de terra. São eles: Vila da Paz, Parque Rodoviário, Vale do Gavião, Bela Vista e Pedro Balzi. Estas regiões, segundo o CPRM, possuem áreas de morros e encostas que abrigam conjuntos de moradias.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Conforme aponta o Mapa de Prevenção de Desastres, o bairro Vila da Paz tem 300 construções predominantemente de alvenaria com algumas em situação precária, alto grau de vulnerabilidade, além de se tratar de uma área com histórico de deslizamento e danos materiais e humanos. “Todo o bairro é cortado por uma linha de água que, em tempo chuvoso e com o aumento da vazão, provoca erosão da base da encosta, gerando solapamento e instabilidade”, diz o CPRM.
Já na região do Parque Rodoviário, onde duas pessoas morreram em razão da enxurrada em 2019, o CPRM aponta risco de deslizamento planar. O local possui ocupação desordenada em encosta, com 15 casas de alvenaria e alto grau de vulnerabilidade. “Há ocupação de encosta íngreme com sistema de corte e aterro sobre material frágil de forte conteúdo argiloso. Área com histórico de deslizamento”, alerta o Serviço Geológico.
Na zona Leste, mais precisamente no bairro Vale do Gavião, há risco de deslizamento planar e enxurrada, já que na região há predominantemente casas de alvenaria em uma ocupação desordenada de encosta com muitas construções de taipa. São ao menos 200 casas nesta situação. O grau de vulnerabilidade do bairro é médio, mas o grau de risco é considerado alto. Segundo o CPRM, o Vale do Gavião possui “descontinuidade das vidas, retirada de vegetação das encostas que envolvem o aglomerado urbano com exposição do solo e casas em terrenos com declividade acentuada, que são pontos preocupantes”.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Na zona Sul, no bairro Bela Vista, o risco de deslizamento se dá em razão de ocupação de encosta íngreme com sistema de corte e aterro no topo além da construção de pelo menos 100 casas de alvenaria. O grau de vulnerabilidade da região e o risco de desastre é muito alto. O CPRM aponta que o Bela Vista cresceu no entorno de um vale profundo, ocupando encostas com construções que não obedecem a curva de nível e distribuídas de forma desordenada.
Por fim, no Residencial Pedro Balzi, na zona Sudeste de Teresina, o risco de deslizamento se dá juntamente com risco de tombamento de construções devido à construção de pelo menos 300 casas de alvenaria em situação precária ocupando o topo, meio e base de encosta íngreme. O grau de vulnerabilidade do bairro é alto e o risco de desastre é muito alto.
Além destes cinco bairros com risco de deslizamento de terra, outras regiões de Teresina também têm risco de desastres naturais por conta da chuva: o bairro Afonso Gil, com risco de inundação e alagamento; as Avenidas Raul Lopes e Cajuína, com risco de inundação; o bairro Porto do Centro, entre as ruas Mauro Almeida, Aracruz e Dom Bosco, com risco de inundação; a Avenida Boa Esperança até o Restaurante Pesqueirinho, com risco de inundação; e o bairro Satélite, na Rua Lions Clube, com risco de tombamento.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Somando-se todas as 10 locais, Teresina tem 1.200 pessoas vivendo em áreas de risco para a ocorrência de desastres naturais em decorrência da chuva. A capital é a primeira do Piauí no número de áreas de risco. Em seguida aparece Campo Maior, com nove áreas; Picos, com sete áreas; Palmeirais e Buriti dos Lopes, com cinco áreas de risco cada.
Em todo o Piauí, são 102 áreas de risco de desastres naturais mapeadas pelo CPRM e que abrigam 43.877 pessoas. Destas, 90 são de risco alto e 12 são de risco muito alto. O Estado tem 79 áreas com risco de inundação, 15 com risco de deslizamento, três com risco de alagamento e outras cinco com risco não definido.
Prevenção de desastres passa pela reestruturação do espaço urbano
Ao mesmo tempo em que aponta o risco de desastres em áreas específicas de Teresina, o CPRM apresenta algumas soluções que ajudariam a prevenir a ocorrência de inundações, deslizamentos e enxurradas. Todas elas passam pela reestruturação do espaço urbano. No caso do bairro Vila da Paz, o Serviço Geológico recomenda a retirada da população que ocupa a encosta e a conclusão das obras de urbanização do fundo do valer com recuperação da cobertura vegetal ao longo da encosta.
No caso do Parque Rodoviário, o CPRM aponta necessidade de recuperação da galeria nos diferentes pontos de quebra na estrutura, retirada de moradores, principalmente das casas que foram atingidas e que ainda têm danos em sua estrutura, além da proibição de construções ao longo do topo da encosta na sua parte mais íngreme.
Já no Vale do Gavião, há, segundo o CPRM, “necessidade de retirada da população das áreas de relevo com elevada declividade, recuperação das áreas desmatadas, proibição de utilização da área para depósitos tecnogênicos, drenagem das águas pluviais, desobstrução e manutenção das galerias”.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
A drenagem das águas também é recomendada na região do Bela Vista. No local, o Serviço Geológico orienta a ainda a retirada da população instalada nas áreas mais críticas, principalmente onde se instala a linha de água do bairro, além da proibição de construções na área de influência da linha de água. No Pedro Balzi, o CPRM recomenda ao poder público retirar a população do topo e da base do talude, proibir e monitorar a retirada de material para uso na construção civil, monitorar o avanço das ocupações em direção a base do talude e a drenagem das áreas pluviais.
As ações sugeridas pelo Serviço Geológico Nacional já estão sendo observadas pelo poder público municipal. É isso o que diz gerente da Defesa Civil de Teresina, Marcos Rolf. Em conversa com o Portalodia. com, ele explica que a capital já recebeu do CPRM o alerta para pelo menos 56 áreas de risco que estão sendo monitoradas.
Esse monitoramento se dá através de visitas in loco e acionamento por meio das ligações recebidas no 199. A Defesa Civil Municipal de Teresina também tem buscado firmar parcerias com outras instituições para dar mais celeridade na tomada de medidas de prevenção e amenização em caso de desastres.
“A gente vem fazendo esse monitoramento constante de acordo com a necessidade. Quando somos acionados pelo 199, nos dirigimos ao local, avaliamos. Na maioria das vezes, é área de risco. Em outros casos, não, porque muitas vezes é uma área que inundou por conta da chuva, mas sem um problema mais crônico. Estamos em contato direto não só com a população que vive nesses locais, como também o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil do Estado, que também nos ajuda bastante nesse mapeamento”, explica Marcos Rolf.
Marcos Rolf é gerente de Defesa Civil do Município de Teresina - Foto: Assis Fernandes/O Dia
O gerente de Defesa Civil de Teresina diz que todo o atendimento às populações em áreas de risco é feito conforme o protocolo do Serviço Geológico Nacional, balizados também pelo Cemaden, o Centro Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais.