Agora os moradores da zona Norte de Teresina podem ficar desassistidos de ônibus. Isso porque três empresas que compõem o Consórcio Poty, - faixa verde - responsável pelas linhas que atendem à região, reduziram sua frota em circulação nesta quinta-feira (29) alegando falta de combustível para abastecer os carros. Pelo menos seis dos 18 veículos que deveriam rodar hoje, não deixaram as garagens nesta manhã, seguindo, de acordo com os trabalhadores, uma orientação da administração do consórcio.
A zona Norte é a segunda zona de Teresina a ficar comprometida com sua frota de ônibus devido à questão do combustível nesta semana. Na última terça-feira (27), duas das cinco empresas do Consórcio Therezina, que opera na zona Sudeste e atende também a alguns bairros da zona Sul, também impediram a saída dos veículos de sua garagem alegando que não tinha óleo diesel disponível para abastecê-los.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
Em conversa com a reportagem do Portalodia.com hoje (29), o cobrador de ônibus Dênis Pereira, que trabalha em uma linha da zona Norte, explicou a situação. “As empresas iam colocar seus carros na rua, mas a administração do consórcio não autorizou essa saída, afirmando que não tem combustível para rodar. São seis carros a menos atendendo a uma área populosa e extensa. Isso impacta demais no serviço que é prestado e a gente não tem nem certeza se amanhã vai ter ônibus circulando na cidade aqui para a zona Norte”, afirmou Dênis.
O Consórcio Poty atende a regiões densamente povoadas de Teresina como o Parque Brasil, Mocambinho, Bairro Poty Velho e toda a região da Grande Santa Maria da Codipi, incluindo residenciais populosos como o Dilma Rousseff e o Jacinta Andrade. Estes bairros, e outros que compõem a região, também se somam ao Grande Dirceu e logradouros adjacentes, que estão com sua frota de ônibus reduzida na zona Sudeste pelo terceiro dia consecutivo.
Foto: Assis Fernandes/O Dia
“Esse é o retrato do transporte coletivo hoje em Teresina”, motorista
Enquanto há falta de ônibus nas ruas, os trabalhadores do transporte coletivo de Teresina seguem na indefinição acerca de sua situação salarial junto às empresas que exploram o setor. Com seus vencimentos atrasados desde janeiro e recebendo cerca de R$ 300 a R$ 320 por mês, a categoria faz um apelo.
“Esse é o retrato do transporte coletivo hoje em Teresina. A gente sabe que dá para pagar os trabalhadores e colocar óleo diese nos carros. Pedimos mais uma vez que se sensibilizem com nossa situação, porque tem trabalhadores passando necessidade ao extremo, acometidos por doenças como ansiedade e depressão sem saber o que vai acontecer. A gente tem um registro na carteira de trabalho sem receber salário e precisamos que o dinheiro chegue nas nossas mãos para podermos colocar o alimento de todo dia na mesa”, afirmou o motorista de ônibus, Antônio Cardoso.
“Só quem sofre é o trabalhador e o usuário”
Em conversa com o Portalodia.com, o secretário do Sintetro (Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Transporte Rodoviário de Teresina), Francisco Sousa, fez uma breve análise da situação do transporte coletivo da capital. De acordo com ele, na falta de ônibus, o usuário chega a pagar até cinco vezes mais o valor da passagem inteira em um meio de transporte alternativo quando não há carros circulando.
Francisco Sousa - Foto: Assis Fernandes/O Dia
“O tempo de espera a gente sabe que aumenta, porque não tem ônibus suficiente para atender à demanda, isso quando se tem certeza de que o carro vai passar. Porque nem sempre o usuário sai de casa sabendo como vai voltar. É uma situação humilhante e revoltante com o passageiro, que paga pelo serviço, e com quem trabalha no setor, que está ali pelo compromisso de trabalhar, mas que não sabe se vai ter sua remuneração no final do mês”, dispara Francisco.
Setut diz que Consórcio Poty não paralisou e fala em crise de arrecadação
Procurado, o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Teresina (SETUT) disse que o Consórcio Poty não paralisou suas atividades e segue prestando os serviços à população da zona Norte.
De acordo com o SETUT, a crise financeira tem afetado todas as empresas operadoras do sistema de transporte no Brasil e que o que é arrecada em Teresina hoje não cobre os custos para operacionalizar todo o transporte. O segmento, segundo a entidade, enfrentou uma queda de arrecadação de aproximadamente 90% em março 2021.
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“O sistema corre sério risco de colapso e continua em uma situação muito crítica. Fechamos o mês de março com arrecadação proporcional a 12% do que se arrecadava antes da pandemia com o custo operacional consideravelmente superior a esse percentual de arrecadação. Para se ter uma ideia, do que se arrecada no dia a dia, sequer está sendo suficiente para que faça o abastecimento dos veículos com óleo diese e, dessa forma garantir a operação do dia seguinte”, disse Vinícius Rufino, coordenador técnico do SETUT.
A entidade reiterou que está buscando soluções efetivas para a situação e que depende do repasse financeiro da Prefeitura para evitar o colapso do setor.