Durante a pandemia, um índice que cresceu consideravelmente e que vem preocupando as autoridades em saúde pública foi o de abandono de animais, principalmente gatos. Deixados nas ruas à própria sorte, os felinos se reproduzem mais rapidamente, podem pegar doenças e até transmití-las aos seres humanos. Em Teresina, além das associações protetoras dos animais, que atuam no acolhimento aos bichamos, há iniciativas isoladas de pessoas sensibilizadas com a realidade dos felinos.
No bairro Bela Vista, zona Sul de Teresina, a quantidade de gatos abandonadas nas proximidades da Unidade Escolar Sigefredo Pacheco levou a moradora Daylane Miranda a improvisar um pequeno abrigo para os animais de modo a evitar que eles fiquem andando soltos pelo meio da rua e possam se proteger do sol e da chuva. A casinha feita com pedaços de madeira e lona fica na calçada em frente à casa dela. Ao todo, 16 gatos vivem no local e uma parte deles já foi inclusive castrada.
Daylane Miranda. Foto: Assis Fernandes/ODIA
A iniciativa foi tomada depois que um vizinho de Daylane se mudou e deixou três gatinhos abandonados em casa. Ela, com a ajuda da mãe e do pai, passou a alimentá-los. Aos poucos, outros felinos foram aparecendo no local, inclusive alguns que também foram abandonados por seus donos na Escola Sigefredo Pacheco e passaram a ser cuidados por ela. Daylane conta que por mês gasta mais de R$ 100,00 na compra de ração e todo o valor sai de seu próprio bolso e do bolso de seu pai.
“São mais de 20 kg de ração por mês e a gente ainda tem os gastos com a castração dos animais. Eu estou castrando as fêmeas logo para não aumentar a população de gatos. Em média uma castração sai por R$ 150,00 numa ONG especializada lá no Centro para onde a gente sempre leva eles. Em geral, esse valor eu pago sozinha ou conto com a ajuda de uma vizinha lá na rua de trás. Já tem três gatinhas castradas e agora quero castrar mais três, mas tem uma que é bem arisca e que fica dentro da escola. Ela só aparece para comer”, conta Daylane.
Além da castração e da alimentação, ela arca também com medicamentos para os felinos, como por exemplo, remédio para sarna e anti-inflamatórios.
Foto: Assis Fernandes/ODIA
Mas os riscos também existem. Por estarem abrigados em uma casinha improvisada na calçada, os gatos costumam transitar pela rua, o que aumenta a possibilidade de atropelamento. Daylane conta que já perdeu um gatinho em um acidente na porta de casa e que gostaria de sinalizar a entrada da rua com uma placa pedindo para que os motoristas que passam pelo local diminuam um pouco a velocidade.
“As pessoas aqui no entorno respeitam e não reclamam. Elas sabem que são animais abandonados por seus tutores e que não mereciam estar nessa situação. Eu sempre mantenho tudo limpo, recolho as fezes deles, coloco a ração nas vasilhas e não diretamente na calçada para não juntar formiga nem inseto, troco a água mais de uma vez no dia e eles só ficam aqui. Eles gostam de se esconder nas árvores, andar por cima do muro da escola e de ficar deitados dentro da casinha”, Daylane explica.
Foto: Assis Fernandes/ODIA
Como os gastos para manter os gatos saudáveis, bem alimentados e em segurança não são poucos, ela pede ajuda para quem puder contribuir. Doações de qualquer valor podem ser feitas pelo PIX (86) 99528-2592.
Zoonoses alerta para os riscos à saúde pública que o abandono de animais causa
O problema da superpopulação de cães e gatos nas ruas das grandes cidades diz mais sobre a conduta dos tutores do que sobre a ação do poder público. É isso o que afirma o gerente da Gerência de Zoonoses de Teresina, Paulo Marques. Ele esclarece que não é competência do órgão resgatar e acolher animais em situação de rua. A Zoonoses só faz apreensão em duas situações: cavalos que são deixados soltos por carroceiros em praças e locais públicos, e cachorros que testaram positivo para calazar e que representam risco para a saúde humana.
No caso dos cães com calazar, os animais são recolhidos pela Zoonoses e eutanasiados. No caso dos cavalos, eles são levados para um local chamado de Correição, onde ficam aguardando que seu tutor ir retirá-lo. De acordo com o Código Sanitário Municipal, as duas primeiras apreensões de cavalos resultam apenas na notificação do carroceiro. Mas se houver uma terceira ou mais apreensões em um ano, o responsável pelo cavalo deverá pagar multa de R$ 290,00 para reaver o animal além de diária no valor de R$ 10,00 por cada dia que ele passar nas dependências da Zoonoses.
Foto: Assis Fernandes/ODIA
Paulo Marques faz um apelo para que quem tem cão, gato, cavalo ou qualquer outro animal criado em casa, que não os deixe soltos nas ruas porque isso representa risco para a saúde pública e pode levar inclusive a acidentes fatais. “Mais de 50% dos cães e gatos que estão na rua têm dono. Permitir que seu cão ou gato saia de casa e passe o dia na rua é errado porque vai chegar uma hora em que o animal vai sair e não vai voltar. Eles se reproduzem na rua, entram em brigas, podem ser atacados por alguém e podem inclusive atacar se forem acuados”, lembra o gerente de Zoonoses.
Ele faz um apelo para que quem for adotar um animal ou se dispuser a cria-lo, que o faça de coração e tendo a ciência de que o bicho se tornará um membro da família e que deve ser cuidado como tal tendo direito à atenção médica, alimentação e abrigo.
Vacinação antirrábica
Um dos cuidados que os tutores de cães e gatos devem ter é o de manter a carteira de vacinação de seus animais sempre atualizada. Em Teresina, a Gerência de Zoonoses disponibiliza anualmente a vacina antirrábica para felinos e caninos. Este ano, a campanha deverá acontecer em setembro, segundo informou o órgão. A Fundação Municipal de Saúde (FMS) já vem providenciando a aquisição de insumos e mobilizando as equipes para dar início ao calendário de 2022.