Você se lembra dos
“orelhões”? Aquelas estruturas que protegiam os TUP’s - Telefones de Uso
Público – fizeram muito sucesso na década de 90 e nos anos 2000, mas caíram em
desuso com a popularização dos celulares e, mais recentemente, da comunicação
por aplicativos de mensagens. Porém, muitos deles desafiam o tempo e à evolução
tecnológica e ainda estão de pé, nas esquinas, calçadas e até dentro de locais
públicos aqui em Teresina. Alguns – acredite – ainda funcionam! Nostalgia que
resiste à tecnologia!

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
A reportagem de O Dia percorreu
ruas e avenidas da capital em busca de identificar e observar os orelhões, que
por vezes passam despercebidos pelos populares. Eles, por um bom período,
“ouviram” nossas histórias. Agora, é a vez de contarmos as deles.
Segundo dados da Agência
Nacional de Telecomunicações (ANATEL), a capital tem 185 orelhões, mas só 152
estariam disponíveis para funcionamento. O número revela que Teresina é a
capital do Nordeste com o menor número de orelhões. O Piauí também ocupa a
última posição na quantidade desses equipamentos aqui na região (1.670). Pouco no
número de aparelhos, mas com muitas histórias.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
Orelhão
do HGV: funciona até hoje e muita gente faz ligações!
A rua Primeiro de Maio
reserva uma surpresa para os olhos mais atentos: se é difícil encontrar um
orelhão nos dias de hoje, imagine ver quatro numa mesma rua! E mais do que
isso: lá existe um orelhão em frente à entrada do Hospital Getúlio Vargas funcionando,
fazendo ligações e sendo muito procurado por populares.
O seu Francisco dos
Santos é auxiliar operacional não tem celular. Quando precisa ligar para a
família, resolver problemas do cartão ou do banco, ele vai na esquina, tira o
telefone do gancho e volta no passado realizando chamadas. “Aqui e acolá dá
certo, no 0800. Aqui ligo para Equatorial, para a Águas de Teresina, para
resolver alguma coisa. Mesmo quando eu tinha celular, as vezes estava sem
crédito e vinha utilizar o orelhão. Sempre me dei bem (risos)”, diz.

Seu Francisco não possui celular e recorre ao bom e velho orelhão. (Foto: Assis Fernandes / O DIA)
E ele não está só. Muita
gente que vai fazer consultas no Hospital utilizam o telefone público. “Tem
muita gente que usa. Eu, inclusive. Uma vez estava sem crédito e fiquei sem
comunicação nenhuma com a minha mulher. Foi esse orelhão que me salvou. Liguei
para ela e deu ‘certim’”, lembra Francisco Quaresma, que trabalha há décadas no
local como mototaxista. “Eu acho que deve manter os orelhões funcionando,
porque tem muita gente que não tem celular, você acredita?”.
A rua já chegou a contar
com 12 orelhões, hoje só possui quatro e apenas um está funcionando e
resistindo ao tempo e às novidades tecnológicas.
Na
Frei Serafim e na rua 7 de Setembro, o retrato do abandono.
Encontrar um orelhão
funcionando, é raridade. Comum mesmo é vê-los depredados e sem funcionar. Pelo
Centro de Teresina, são muitos nesta situação. É o caso dos orelhões duplos da
rua Simplício Mendes, em frente aos Correios e próximo da Secretaria de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (SEID). “Por conta do abandono, muita gente nem para
mais nele para ver se está funcionando. Sem público para usa-los, não se
interessam em revitalizá-los. Esse é o ciclo”, conta um vigia que trabalha
próximo.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
Avenida Frei Serafim,
centro da capital. Em uma das principais vias da cidade, um orelhão não
funciona. Triste para o seu Raimundo Nonato, ambulante há 35 anos no local. Ele
viu o orelhão ser administrado pela extinta Telepisa, depois pela Telemar, em
seguida pela Oi e agora pela Vivo. Mas ele queria ver mesmo era ver o aparelho
funcionando. O ajudaria a se comunicar com a família.


Seu Raimundo sente falta do orelhão da Frei Serafim funcionando. (Foto: Assis Fernandes / O DIA)
“Usava para ligar para
minha casa, para os meus amigos. Hoje em dia, na minha casa todos possuem
celular, menos eu, porque o que eu ganho é pouco e não dá para manter um
celular. Se tivesse funcionando me ajudaria muito”, lamenta.
Dentro
de órgãos públicos, os orelhões viraram itens de decoração!
No imaginário popular,
orelhão é um equipamento que está instalado nas esquinas, calçadas, praças e
outros ambientes abertos. Mas muitos espaços fechados contaram com orelhões
instalados, e alguns deles perduram até hoje. O Hospital do Buenos Aires, na
zona norte de Teresina, é um desses locais. Lá, o orelhão interno está no
corredor da ala de pediatria do hospital.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
Sem funcionar, o telefone
virou um item de decoração do corredor, dando um toque de nostalgia. Afinal, é uma
relíquia que lembra do tempo em que o aparelho era usado para chamar um táxi após
um atendimento médico na unidade de saúde, ou ligar para um parente para dar
notícias.
Dentro do campus Ministro
Petrônio Portela, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), alguns orelhões
podem ser encontrados. Mas a maioria deles, também estão só de enfeite. Um está
instalado na entrada do Centro de Ciências da Educação (CCE). No vai e vem de alunos
e professores e seus celulares, muitos não percebem que só o aparelho está lá,
sem a estrutura característica dos orelhões, só um pedestal e o telefone.

Dentro de órgãos públicos, orelhões sem funcionar estão virando artigos de decoração. (Foto: Assis Fernandes / O DIA)
Esses foram os
orelhões que esta reportagem encontrou. Mas há vários outros por aí, com muitas
que devem ser conhecidas e contadas, antes de sumirem de vez. Aqui neste link, você pode conferir onde
estão cada um dos mais 130 mil aparelhos em todo o país e sentir a nostalgia
que eles trazem.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)
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