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Orelhões resistem ao abandono e à tecnologia e trazem nostalgia ao cenário urbano

Em Teresina, há 185 aparelhos instalados, de acordo com a Anatel. Apesar de muitos estarem depredados, outros funcionam e ainda são utilizados por quem não tem celular.

06/03/2023 08:03

Você se lembra dos “orelhões”? Aquelas estruturas que protegiam os TUP’s - Telefones de Uso Público – fizeram muito sucesso na década de 90 e nos anos 2000, mas caíram em desuso com a popularização dos celulares e, mais recentemente, da comunicação por aplicativos de mensagens. Porém, muitos deles desafiam o tempo e à evolução tecnológica e ainda estão de pé, nas esquinas, calçadas e até dentro de locais públicos aqui em Teresina. Alguns – acredite – ainda funcionam! Nostalgia que resiste à tecnologia!

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)

A reportagem de O Dia percorreu ruas e avenidas da capital em busca de identificar e observar os orelhões, que por vezes passam despercebidos pelos populares. Eles, por um bom período, “ouviram” nossas histórias. Agora, é a vez de contarmos as deles.

Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), a capital tem 185 orelhões, mas só 152 estariam disponíveis para funcionamento. O número revela que Teresina é a capital do Nordeste com o menor número de orelhões. O Piauí também ocupa a última posição na quantidade desses equipamentos aqui na região (1.670). Pouco no número de aparelhos, mas com muitas histórias.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)

Orelhão do HGV: funciona até hoje e muita gente faz ligações!

A rua Primeiro de Maio reserva uma surpresa para os olhos mais atentos: se é difícil encontrar um orelhão nos dias de hoje, imagine ver quatro numa mesma rua! E mais do que isso: lá existe um orelhão em frente à entrada do Hospital Getúlio Vargas funcionando, fazendo ligações e sendo muito procurado por populares.

O seu Francisco dos Santos é auxiliar operacional não tem celular. Quando precisa ligar para a família, resolver problemas do cartão ou do banco, ele vai na esquina, tira o telefone do gancho e volta no passado realizando chamadas. “Aqui e acolá dá certo, no 0800. Aqui ligo para Equatorial, para a Águas de Teresina, para resolver alguma coisa. Mesmo quando eu tinha celular, as vezes estava sem crédito e vinha utilizar o orelhão. Sempre me dei bem (risos)”, diz.

Seu Francisco não possui celular e recorre ao bom e velho orelhão. (Foto: Assis Fernandes / O DIA)

E ele não está só. Muita gente que vai fazer consultas no Hospital utilizam o telefone público. “Tem muita gente que usa. Eu, inclusive. Uma vez estava sem crédito e fiquei sem comunicação nenhuma com a minha mulher. Foi esse orelhão que me salvou. Liguei para ela e deu ‘certim’”, lembra Francisco Quaresma, que trabalha há décadas no local como mototaxista. “Eu acho que deve manter os orelhões funcionando, porque tem muita gente que não tem celular, você acredita?”.

A rua já chegou a contar com 12 orelhões, hoje só possui quatro e apenas um está funcionando e resistindo ao tempo e às novidades tecnológicas.

Na Frei Serafim e na rua 7 de Setembro, o retrato do abandono.

Encontrar um orelhão funcionando, é raridade. Comum mesmo é vê-los depredados e sem funcionar. Pelo Centro de Teresina, são muitos nesta situação. É o caso dos orelhões duplos da rua Simplício Mendes, em frente aos Correios e próximo da Secretaria de Inclusão da Pessoa com Deficiência (SEID). “Por conta do abandono, muita gente nem para mais nele para ver se está funcionando. Sem público para usa-los, não se interessam em revitalizá-los. Esse é o ciclo”, conta um vigia que trabalha próximo.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)

Avenida Frei Serafim, centro da capital. Em uma das principais vias da cidade, um orelhão não funciona. Triste para o seu Raimundo Nonato, ambulante há 35 anos no local. Ele viu o orelhão ser administrado pela extinta Telepisa, depois pela Telemar, em seguida pela Oi e agora pela Vivo. Mas ele queria ver mesmo era ver o aparelho funcionando. O ajudaria a se comunicar com a família.

Seu Raimundo sente falta do orelhão da Frei Serafim funcionando. (Foto: Assis Fernandes / O DIA)

“Usava para ligar para minha casa, para os meus amigos. Hoje em dia, na minha casa todos possuem celular, menos eu, porque o que eu ganho é pouco e não dá para manter um celular. Se tivesse funcionando me ajudaria muito”, lamenta.

Dentro de órgãos públicos, os orelhões viraram itens de decoração!

No imaginário popular, orelhão é um equipamento que está instalado nas esquinas, calçadas, praças e outros ambientes abertos. Mas muitos espaços fechados contaram com orelhões instalados, e alguns deles perduram até hoje. O Hospital do Buenos Aires, na zona norte de Teresina, é um desses locais. Lá, o orelhão interno está no corredor da ala de pediatria do hospital.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)

Sem funcionar, o telefone virou um item de decoração do corredor, dando um toque de nostalgia. Afinal, é uma relíquia que lembra do tempo em que o aparelho era usado para chamar um táxi após um atendimento médico na unidade de saúde, ou ligar para um parente para dar notícias.

Dentro do campus Ministro Petrônio Portela, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), alguns orelhões podem ser encontrados. Mas a maioria deles, também estão só de enfeite. Um está instalado na entrada do Centro de Ciências da Educação (CCE). No vai e vem de alunos e professores e seus celulares, muitos não percebem que só o aparelho está lá, sem a estrutura característica dos orelhões, só um pedestal e o telefone.

Dentro de órgãos públicos, orelhões sem funcionar estão virando artigos de decoração. (Foto: Assis Fernandes / O DIA)

Esses foram os orelhões que esta reportagem encontrou. Mas há vários outros por aí, com muitas que devem ser conhecidas e contadas, antes de sumirem de vez. Aqui neste link, você pode conferir onde estão cada um dos mais 130 mil aparelhos em todo o país e sentir a nostalgia que eles trazem.

(Foto: Assis Fernandes / O DIA)

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